sábado, 22 de dezembro de 2007

Dezembro de 2007: MASP ou Muito Absurdo em São Paulo

Quatro horas depois - ou seja, uma eternidade e meia após o ocorrido - os (péssimos) administradores do Museu de Arte de São Paulo chamaram a polícia para relatar um furto.

Não um furto qualquer, mas a subtração, roubo, ou até seqüestro - como preferem alguns -, de duas obras de arte cujo valor estimado gira em torno de 100 milhões de reais.

Um Portinari que todos conhecemos dos livros de História do Brasil e um Picasso da fase azul, verdadeira jóia de coroa, "perdida" abaixo da linha do Equador.

O que será que dá para fazer em quatro horas?

Alguns palpites:

(a) ficar engarrafado na Marginal do Tietê, debaixo de chuva;
(b) fazer umas comprinhas na Oscar Freire;
(c) conhecer um dos cinco diligentes diretores da ANAC perambulando pelas filas do Tom Jobim;
(d) ir de carro até o Rio;
(e) voar de teco-teco para fora do país.

Preferidas, acho, dos meliantes: alternativas "d" e "e".

Crise? Que crise?

A imprensa vem dando conta, há mais de uma década, da situação crítica que paira sobre o belo prédio de Lina Bo Bardi no altiplano da Nove de Julho. Até a energia já foi cortada por falta de pagamento!

O MASP completa 60 anos e nada há para comemorar. Em poucos meses, pelo menos do que ficamos sabendo, três tentativas de assalto - a última bem sucedida. Como num filme, os ladrões, que algum gênio, na TV, desses que a mídia pauta quando quer ouvir a "intelligentsia" patropi, chamou de "pés-de-chinelo", testaram suas estratégias. Cinematograficamente, deram aulas de simplicidade: primeiro renderam um vigia (se é que um sujeito "terceirizado", recebendo salário de fome pode vigiar alguma coisa, senão o próprio estômago); depois, mais sofisticados, tentaram com maçarico - deram n'água. Aí, então, a idéia genial: um macaco hidráulico! E proveram imagens de fazer babar um Woody Allen: câmara lenta (e suja) em preto-e-branco (na melhor tradição do cineasta novaiorquino), trilha sonora minimalista de carros passando e conversa ao longe (dos "seguranças" fazendo chacrinha no subsolo) e vultos sem máscara, porém irreconhecíveis pela (falta de) qualidade do equipamento "de vigilância".

Eu só queria saber...

Quantos fulanos faziam a "segurança"? Meia dúzia? E entre 5:09 e 5:12 h estariam fazendo a "troca da guarda"? Quer dizer que numa mudança de turno, ao invés de um indivíduo render o outro em seu posto, ambos vão fazer convescote alhures? Está mal a nossa coleção de Degas.

Como disse um dos "guardas" ouvidos: - o alarme estava desligado porque "vivia disparando"... ah, bom.

Patrocínio: PIB paulista

O museu que foi erguido e recheado pela benemerência (claro que com algum "incentivo" impublicável do Chatô) dos industriais paulistas, e que ainda hoje vive de promover eventozinhos para esses mesmos industriais, esmerando-se em produzir gigantescos banners, imprimir luxuosos books, e distribuir disputados gadgets e outras bugigangas "culturais" que tais, não investindo no essencial, deteriora-se. Prédio e instituição, ano após ano, assistem a gestões incompetentes e nada transparentes.

Podíamos fazer o seguinte raciocínio: o museu é privado, mas a cada aporte feito por governos (aliás, o último aporte da prefeitura de São Paulo, pela ínfima quantia, é de fazer rir) e através de leis de incentivo fiscal, deveria ir tornando-se público. A cada real ali colocado, proveniente dos impostos que todos pagamos: I.R., I.C.M.S., I.S.S., I.P.T.U., deveria o estatuto do museu sofrer uma alteração contratual, consignando menos participação dos "mantenedores institucionais" e mais da população de contribuintes - a qual, acredito, pelos anos passados, já deveria estar na condição de "acionista majoritária" do MASP. Teríamos, então, pelo menos, mais transparência na gestão.

Arvoram-se os marketing managers em promover todo o tipo de factóide em cima da imagem do MASP, de sua sede e de seu acervo. Mas vá perguntar aos seus producers, se esses patrocinadores permitem que se destine verba para melhorar banheiros, contratar melhor e mais sofisticada vigilância, aquisição de equipamento de segurança ou criação de um corpo de pesquisadores e estagiários remunerados para fazer o museu de fato crescer e não só ser consumido por festas e mais festas fechadas e dirigidas para um grupelho de sanguessugas engalanados? A resposta é um invariável NÃO. Os valores devem ser milimetricamente contados e destinados ao plano de mídia - espontânea e muito bem paga, à emissão de convites e catálogos e até à contratação dessa ou daquela "celebridade" para o dia D.

Pietro Maria Bardi, in memoriam

Precisamos de competência, ou, como disse um meu mestre da FGV: "a promoção e a proteção da cultura, através de esforços públicos e privados, diretos ou indiretos, necessita, complementarmente, de boa gestão; de boa gestão de marketing, do marketing na cultura".

No dia em que a arte e a cultura tiverem os mesmos cuidados que a sede e a imagem da sua vizinha FIESP, teremos chegado não ao tão sonhado investment grade mas a um mero e civilizado educated grade, tanto de patrões e políticos, como de trabalhadores e cidadãos comuns - que numa tarde qualquer resolvam subir as escadas do Assis Chateaubriand e fruir o que houver restado da incúria desse tempo presente.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O assalto (aos cofres públicos) não será televisionado

Por azar (ou sorte), numa mesma semana assisti a um programa (na Globonews) sobre o sistema de segurança "legado" dos jogos pan-americanos e ao filme "Duro de matar 4.0". Quantas semelhanças!

Por aqui, na nossa realidade, um ambiente hightech cheio de monitores. E policiais fardados em postura de atentos digitadores. Na tela do filme - a ficção - o mesmo ambiente. E as semelhanças não param por aí. O que se vai ver, em ambos os casos, é a inutilidade de tanta parafernália.

Enquanto o tecno-burocrata explicava hardware e software para a - ótima - repórter Sandra Passarinho, descortinavam-se, ao vivo, imagens de colisões, assaltos, atropelamentos. Melhor jornalismo, impossível.

Perguntas que não querem calar

Acontece que encaminharam uma jornalista não iniciante para fazer a matéria. Conseqüentemente, apesar de toda a torcida da mídia a favor do governo fluminense, vieram as perguntas devidas: - e o que é que a polícia faz com essas imagens? - como fica aquele caso ali de batida na ponte Rio-Niterói por uma parada irregular? Respondia, imbuído de técnica impecável, o cibernético e engravatado consultor: - agora temos os sistemas state of the art graças ao pan! - isto vai reforçar as estatísticas da segurança pública do estado do Rio de Janeiro! - o parâmetro "customizado" da atuação tecnológica colocada a reboque da atividade de segurança mudará os paradigmas da convivência urbana no século XXI!

Ou seja, muita bobagem. Um sistema milionário que não tem o devido back up nas ruas. Nossos oficiais vidrados nos vídeos, ao invés de estar na rua, bocejam à espera do fim de mais um turno refrigerado. No filme, o roteirista foi mais simplório: sugeriu que, para neutralizar todo aquele "big brother", bastaria tirar a tomada e isolar os valorosos combatentes armados (de teclas e plugs) até os dentes, em seu escuro bunker que fica em... lá como cá, ninguém sabe onde.

Quando a ficção - muito cara e muito bem paga a Hollywood - encontra a realidade muito pobre de recursos e de espírito da nossa ineficiente máquina estatal em um roteiro comum, talvez seja melhor mudar de canal. Que tal a Islândia?

Consolo (?)

A ineficácia, o desperdício de dinheiro, de tempo e até de vidas humanas não são privilégio nosso. Londres, que já conta com uma câmara de vídeo-vigilância para cada 14 habitantes, apesar do back up que permite que policiais de carne e osso abordem uma ocorrência cinco minutos após a sua visualização na central, não garantiu que se evitasse os ataques aos sistemas de transporte da cidade ou mesmo o assassinato, pela própria polícia, de um cidadão inocente, como aconteceu com o brasileiro Jean Charles de Menezes.

domingo, 19 de agosto de 2007

Não é brinquedo não!

Agosto, sempre referido como mês das bruxas, trouxe de presente mais um negócio da China. Mas dessa vez não era uma das cantilenas que a mídia internacional reverbera para ver se a gente - e ela própria - acredita, tais como "a locomotiva do progresso", "superpotência do século XXI", "salvação dos exportadores de commodities", entre outras pérolas. Tratava-se de uma das maiores operações de recall de que se tem notícia.

Recall (procuncia-se ricóu) - é um chamamento público feito por organizações e que se refere, na grande maioria das vezes - à constatação, antes ou depois de denúncia, de que algum defeito de fabricação em seus produtos pode levar risco não previsto a seus consumidores/usuários.

Vale para automóveis, carne congelada, medicamentos, refrigerante, computadores. Há casos recentes de carros que incendeiam, filés que matam, refrigerantes que adoecem, remédios que não curam e computadores que explodem. E, como sói fazer a globalização, afetam consumidores no mundo todo.

Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa

Uma coisa é um incidente fabril. Algo razoavelmente fácil de ocorrer e de detectar. Outra coisa é a prática da sabotagem. Algo bem mais raro e difícil de se descobrir antes que algum mal ocorra. Outríssima coisa é, no entanto, quando a hipocrisia de pessoas, empresas e mesmo de nações, atinge cidadãos indefesos, sem que tribunais ou quaisquer outros tipos de organismo possam protegê-los a tempo.

É de se perguntar até quando a boa fé da humanidade suportará casos fatais que surgem na esteira do "livre" comércio e sob a égide do "equacionamento de custos para manutenção de preços competitivos".

O filme intitulado "Disclosure", que teve o título (mal) vertido para "Assédio Sexual" no Brasil, trata, muito antes de assédio, de contratos de grandes empresas ocidentais com obscuros fabricantes terceirizados do último mundo (Vietnam, Camboja), justamente pelo fato de que esses países não "atrapalham" o empreendedorismo com "questiúnculas", tais como preocupação com fontes sustentáveis de matérias-primas, respeito à saúde do trabalhador, remuneração digna, direitos trabalhistas, ergonomia, ambiente fabril asséptico etc. etc. etc. E que pagam 28 centavos de dólar por hora de trabalho - um recorde mundial. Imbatível.

Se conhecêssemos as instalações e as criaturas escravizadas que manufaturam nossos impactantes tênis de jogging, tenho certeza, nunca mais daríamos um tostão às gigantes do material esportivo que torram bilhões negociando o patrocínio de competições internacionais.

Quem já visitou uma fábrica de conservas em uma das cidades-jóias do oriente ou pediu para ir ao banheiro em um restaurante daquelas bandas sabe do que se trata. A tragédia da gripe aviária descortinou um pouco desse lado oriental que pouco recomenda: gente, porcos e aves habitando o mesmo cômodo numa palafita que não põe defeito na (tão nossa) civilização do mangue, cantada por Chico Science.

Pois bem. E não é que o Brasil declarou que considera a China uma economia de mercado? Sim. E por que? Para, atendendo a essa chantagem, ter mais mercado para exportação.

Mas e o que importa?

Brinquedos pintados com chumbo e imãs que descolam aqui para colar em algum estômago ali ou em um intestino acolá. Quem vai saber? Ainda mais se foi comprado, sem nota, na loja por $1,99...

Já há alguns anos surgia a denúncia de que, por falta de legislação sanitária, os fabricantes de brinquedos chineses adquiriam plástico reciclado que incluía restos de material hospitalar...

Globalização assim, ninguém merece!

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Metrô na superfície... da mediocridade

Quando o Metrô do Rio de Janeiro passou a explorar ônibus especiais com o objetivo de aumentar sua rede de bairros atendidos, a população - justamente - aplaudiu a iniciativa.

Os ônibus, equipados com ar condicionado, sistema de som executando apenas música de concerto, paradas pré-estabelecidas e bilhetagem incluída no preço das viagens comuns, foram um avanço e um bom remendo à falta de investimentos crônica que assolou a companhia, tanto antes quanto depois de sua privatização. Os ônibus partiam a horários regulares e serviam a linhas diversas, cobrindo dois itinerários diferentes na zona sul da cidade.

Agora, como diz o populacho carioca, "virou bangú". Linhas foram fundidas - ah! a onipresente otimização de custos - e os ônibus ficam esperando na estação de origem (Siqueira Campos) até que entupam de passageiros. Os motoristas, velhos de guerra, já acostumados às práticas selvagens das empresas de ônibus do Rio - desde os vovôs "lotações" - esperam impassíveis e os fiscais, postados às portas dos veículos, monitoram o "enchimento da lingüiça" (no lingüajar de um deles) por rádio, comunicando ao próximo ônibus quando aparecer para a próxima "carga". Mais um capítulo para a interminável discussão sobre a (não) ação de agências reguladoras na supervisão dos serviços públicos prestados no país.

No caso do estado do Rio de Janeiro temos não só uma, mas duas agências! A Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (AGENERSA) e a Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e Rodovias do Estado do RJ (AGETRANSP). Você sabia?

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O meio e a mensagem

E o marketing vira malketing...

Quando uma autoridade - ou seus assessores - acredita que a percepção que este ou aquele segmento da opinião pública tem a respeito do seu trabalho é uma questão de marketing, temos aí um mau exemplo do emprego da palavra técnica que não ganhou tradução entre nós, brasileiros: marketing.

Mas quando, para além da fala infeliz, veículos de comunicação reproduzem tais "pérolas" sem o devido reparo - que poderíamos esperar de uma mídia responsável em um país de semi-analfabetos -, ampliando a (errônea) compreensão de que marketing é algo "do mal", aí temos mais que mau jornalismo. Trata-se de deseducação. Burra e perigosa ao mesmo tempo. Isto porque os veículos de comunicação são a ponta mais bem acabada de toda e qualquer estratégia de marketing e desses próprios é que não se pode tolerar a mal-versação do termo.

Erro recorrente

Quando a cantora Maria Rita quis explicar o episódio constrangedor em que sua gravadora distribuiu i-Pods aos jornalistas presentes a lançamento fonográfico - recebendo-os todos de volta - atribuiu a idéia da ação ao departamento de marketing, "né, gente?".

Então, tá, Maria Rita. Fica combinado que o departamento de marketing é aquela salinha de onde só saem coisas-ruins, monstruosidades anti-artísticas, engodos e forçações de barra.

Enquanto não respeitarmos o marketing em tudo aquilo que significa o seu processo integral, ou seja, a concepção de produtos/serviços, sua viabilização econômico-financeira, sua distribuição e sua comunicação e limitarmos o seu entendimento à visível propaganda, e sobretudo àquela do tipo enganosa, como a atribuída aos políticos, não podemos aspirar à posição de país contemporâneo, com mídia livre e opinião pública digna de crédito.

(Comentário acerca da matéria publicada no jornal O Globo, em 05/08/2007, sob o título "Classe média é problema de marketing, diz Planalto" - capa e página 13).

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Olímpica mesmo é a pan-hipocrisia da mídia brasileira

Assim é se à Globo parece

Não bastasse a humilhação pela qual passou o presidente da República do Brasil, país-sede, na abertura dos XV jogos pan-americanos, quando, preparando-se para discursar após o ruído da galera (vaias e aplausos, dos quais a mídia só ouviu - e repercutiu - as primeiras), foi rudemente interrompido pelo deus (do Olimpo, que se acha) Nuzman, abrindo oficialmente os jogos; vem a Globo, through Bonner & cia., e inventa - apesar da perplexidade "ao vivo" de ninguém menos que Galvão (Brasil!!!) Bueno - que "Lula quis evitar o constrangimento e desistiu de falar ao público".

Mais tarde, no jornal das 10 (Globonews) a invenção foi repetida ad nauseam.

Um país, uma mídia, 190 milhões em ação. Prá frente Brasil - uma só opinião

Decepção! Pavor! Descrédito! Pasmo ao ver nos sites dos mais diversos jornais online a mesma - ou parecida - versão: o presidente Lula desistira de falar por que fora vaiado três, quatro, cinco vezes (dependendo da vontade dos diferentes veículos). Parece que todos os jornalistas assistiram à cerimônia pela televisão - e, pior, pela Globo.

Na hora de bancar um evento que custou doze vezes mais que o orçado, as autoridades (e lá estavam, ao lado de Lula, o governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia) foram todas convocadas a abrir os cofres (que abriram, vide a presepada que viaturas de todas as cores vêm protagonizando já há dias na cidade maravilhosa). Quando chega o momento - fugaz - de terem, as mesmas autoridades, o "gostinho dos mecenas" - no jargão do marketing de patrocínio - a mídia, justo quem, alia-se ao povo "sofrido" e tome um maraca inteiro de vaia neles! É para aprender, senhores políticos, governantes e demagogos em geral. O sistema não perdoa. Beneficia-se de benesses, anunciantes milionários (o pan é 1/3 patrocinado pelo Governo Federal através das quotas da Caixa Econômica Federal e da Petrobras entre seis assinaturas), mas faz jogo sujo escudado numa isenção jornalística que não existe mais nem nos bancos das faculdades de comunicação.

GLOBO MARCAS

E a poderosa ABERT (adivinhe quem controla a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão?) ainda se queixa da classificação indicativa da programação que o Ministério da Justiça quase que se desculpa pelo incômodo de "sugerir". Que temor aflige a honorável ONG patronal? O de não poder mais fazer a lavagem cerebral diária que executa com precisão desde o tempo dos Irmãos Coragem?

Por que o Gentle Giant não decolou? (internauta pergunta no orkut)

Respondo:

Para mim o Gentle Giant não só decolou, sim, como ainda não pousou. Afinal, uma banda inglesa, compondo música rebuscada, inspirada em um estilo medieval, de letras-mensagens lúcidas (e não só refrões yeah-yeah-yeah - nada contra) ou "viagens" tipo Yes ou Pink Floyd (nadíssima contra também), mas totalmente out of the pops, que gravou entre 1971 e 1980 e que é tema de chat e site (www.blazemonger.com/GG) na internet e no orkut em 2007 só pode ser tudo de ótimo - do melhor que a tão criticada indústria fonográfica já produziu.

Os caras não "decolaram" para o patamar de celebrities (graças a Deus para eles e para nós) simplesmente porque não quiseram. Veja a ousadia do grupo (e dos produtores deles - e até da major company deles, a BMI), na mensagem (em versão brasileira de Nelson Seckler) de capa do segundo disco, o Acquaring The Taste: "Acquaring the taste é a segunda fase do prazer sensorial. Se você se empapuçou com o nosso primeiro disco, então saboreie os mais finos gostos (assim esperamos) deste segundo prato. A nossa meta é expandir as fronteiras da música popular contemporânea, mesmo correndo o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravamos cada composição com uma só idéia: que ela fosse uma aventura única e fascinante. Para conseguir isso, tivemos que usar até a última gota dos conhecimentos musicais e técnicos do grupo e de cada um. Desde o início, abandonamos todas as fórmulas comerciais da indústria da música. Em lugar disso, escolhemos dar a você algo muito mais substancial, que saciasse o seu paladar. Tudo o que você precisa fazer agora é relaxar e perceber o sabor" - Grã-Bretanha, 1971.

É claro que o Gentle Giant era uma banda formada por músicos virtuosos que deu-se muito bem em estúdio. Para o bom ouvinte, o que o Gentle Giant fazia acontecer com os instrumentos e equipamentos de então dá o que pensar até hoje. Não eram os atletas-narcisistas típicos de palco, mas se recordarmos bem, The Beatles também constituíram uma ótima banda de estúdio, cujos discos são em nada comparáveis àquilo que fizeram (ou tentaram fazer) ao vivo.

Derek Shullman, líder do Gentle Giant, gênio compondo, cantando e produzindo, seguiu exitosa carreira na indústria fonográfica, garimpando música de qualidade.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Fidelizar... um palavrão

Fui Ignorado, Agora é Tarde

Depois de 16 anos de fidelidade à marca FIAT, rompi o "compromisso" e mudei de marca. Sou volúvel? Muito pelo contrário! Minha "parceira" é que não soube preservar a "relação".

Explico:

Entre 1991 e 2007, após passar por experiências motor-afetivas com a Volkswagen e a General Motors, cedi aos encantos da, então, mais nova montadora entre nós. E isso apesar de todo o preconceito que ainda havia quanto à solidez de seus carros e de suas operações no Brasil.

Registre-se que hoje a operação brasileira é talvez a mais importante da marca FIAT, mundialmente.

Proprietário de seis modelos Uno, de um Tipo e de um Siena nesse longo período, ao pesquisar preços e condições de troca por um zero quilômetro, não obtive da montadora - ou de suas concessionárias - o menor tratamento distintivo. Nem na avaliação de meu automóvel usado, nem sob a perspectiva da perda de um cliente fiel.

Dei-me conta, então, que em 16 anos, jamais recebera qualquer contato - telefônico, por correspondência tradicional ou eletrônica - da montadora. Apenas uma ou outra "pesquisa" no balcão de concessionária, quando do uso de serviços, sobre (sublime título) "satisfação do cliente".

É lastimável que as empresas tanto alardeiem e tão pouco entreguem em termos de atendimento. Que tão pouco - ou nada - façam em termos de real fidelidade (delas conosco, para então obterem a nossa) em vista do mundo de promessas com que inundam nossos ouvidos e mentes através de maciça (e muito cara) propaganda.

Um slogan à procura da verdadeira "contrapartida social"

Está mais que na hora de os consumidores atentarem para o seu verdadeiro poder nessa "relação". Afinal, mais vale um client na mão do que dois prospects fazendo test drive na concorrência.

CRM sem "C", sem "R" e sem "M"

Customer Relationship Management é o pomposo dístico que os marqueteiros usam para designar as atividades relacionadas a Serviços de Atendimento a Clientes (os populares SACs).

Acontece que nove entre dez serviços desse tipo funcionam muito mal - como corroboram pesquisas daqui e do exterior - e isto se deve a uma única filosofia (torta) em vigor nas cabecinhas coroadas dos managers de plantão; a de que "só a tecnologia salva".

Esqueceram do peopleware

Depois de uma década de vendas extraordinárias, os mercadores de hardware e software para CRM começam a colher os resultados de seu atendimento sem atendentes, seu relacionamento sem empatia e seu management sem pessoas que mereçam a denominação de gerentes.

Quando se trata de relacionamento, dever-se-ía "mudar o canal"; da Engenharia para as Relações Públicas - uma área que prestigia o fator humano sem esquecer a problemática empresarial da produtividade e do lucro - injetando no pensamento organizacional a dose de cidadania corporativa que de fato faz a diferença - a valorização de empregados que leva (só ela o faz) à satisfação da clientela atendida.

Penso, logo atendo

Seria tão bom ser atendido por alguém que pensa... Imagine quando você for atendido por um lusófono do Vietnam (para onde o salário mínimo de 28 centavos de dólar por hora vem atraindo as grandes corporações mundiais), fizer uma reclamação sobre a entrega de um eletrodoméstico para sua casa em Campo Grande (MS) e descobrir que sua geladeira já está, há mais de um mês, fazendo a alegria de uma família inteira num bairro - Campo Grande - do Rio de Janeiro?

Já que o governo - todos os governos, em todas as partes do mundo - promete empregos, que tal pensar em um projeto de lei que traga um pouco de humanidade ao atendimento da clientela e faça relacionar proporcionalmente a base de clientes à base de atendentes?

"Mais com menos" ou "para muito aquém do blá-blá-blá da responsabilidade social"

Antigamente, no Brasil, como em outros países outrora civilizados, para obter-se uma carta-patente e abrir um banco, por exemplo, a organização precisava provar a abertura de agências e postos de trabalho condizentes com o tamanho da clientela a ser atendida. Em duas décadas, os bancários, que já foram mais de 1 milhão de trabalhadores, hoje beiram os 500 mil, o que não reflete, absolutamente, o crescimento do setor, que, na verdade, multiplipou receitas e lucros dezenas de vezes.

E, por último, a alegação, pelos amantes da tecnologia - os mesmos "investidores" que aportam no país dizendo que trazem emprego e renda(!) - de que o auto-atendimento compensa aquela diferença na demanda por serviços -, cai por terra quando sabemos que os internautas no país não chegam a dez por cento da população, porcentagem, aliás, bem inferior à de analfabetos funcionais que engarrafam as filas dos caixas eletrônicos país afora.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Rambo rides again... no Brasil!

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Braço forte, mão amiga e uma cabeça publicitária paupérrima.

Seria auspicioso ver retirados "do ar" os outdoors que ostentam a mais nova campanha institucional do Exército Brasileiro.

Após longo período de recuperação da boa vontade da opinião pública, calcada na atuação de apoio às campanhas de vacinação e à segurança urbana na ECO-92, entre outras ações; a força armada parece que esmerou-se em escolher mal as idéias que quer ver aliadas ao seu slogan.

Um rambo que emerge de um alagadiço, sob uma rama que não esconde a arma de assalto e a atitude de prontidão para o ataque letal...

Talvez seja uma persuasiva forma de recrutar os meninos do Brasil, mas só até que eles descubram que, neste país, as verbas para a Defesa não comportam machine gun, munição ou mesmo o rancho das segundas e sextas-feiras.
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Vem pra Pança você também

Poupançudos são as novas personagens publicitárias criadas por algum gênio das comunicações a serviço de Brasília para a Caixa Econômica Federal.

Como tudo o que se relaciona a Governo Federal - desde que existe a instituição - o bate-cabeça impera. Talvez fosse bom que nas reuniões ministeriais que acontecem na Granja do Torto (apropriadíssima denominação), os ministros se falassem. Ou melhor, se ouvissem.

Pança "10" X Criatividade "0"

Em plena campanha mundial por uma alimentação saudável e alerta para os riscos da obesidade, sobretudo no que diz respeito às crianças, vem a CEF propagandear seu produto mais popular - a poupança - com uma penca de obesas e monstruosas criaturas, que podem ser vistas em filmetes animados, cartazes e - pausa para gran finale - cofrinhos.

Usa ou guarda?

Não é a propaganda que vai curar as nossas mazelas. Ainda mais num país em que biscoitos e chisitos constituem parte importante da dieta das classes menos favorecidas.

Tudo bem... se nas paredes das mesmas agências da Caixa, ao lado dos cartazes poupançudos incitando novos "tio Patinhas", não houvesse outros, do Banco Central do Brasil, implorando: "use suas moedas, elas também têm valor".

O mundo é dos Netos...

Nunca é tarde demais para reafirmar de onde viemos e para onde vamos, afinal, depois que vovô morreu, andamos um tanto quanto mal das pernas - mas só até aquele Proer da mídia, projeto de salvação do FHC que resultou na recente elevação de nossa holding a um investment grade, para além do grau de investimento do próprio país, mesmo que o Brasil premie os players com a maior taxa de juros e os bancos com o melhor spread do mundo.

Encomendamos então um personagem que representasse bem a força do nosso grupo, o peso dos nossos ideais e os valores que são praticados diuturnamente em nossas empresas. E que, ao mesmo tempo, homenageasse os brasileiros que permitiram que construíssemos um monopólio empresarial em cima do discurso da integração nacional. Um personagem autoritário e fardado, que, aos berros, lembre a todos que a força bruta sempre vence, seja numa ditadura, seja na democracia - aquele regime que existe para garantir a igualdade e a proteção dos direitos da pessoa... jurídica.

Skavurzka!!!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

O que é bom já nasce diesel. E BIO diesel...

Re-entrada da nave-mãe na nossa poluída atmosfera... Mesmo com altas horas, quer dizer, altas doses de ignorância em redor, o jardim dos Mutantes floresceu, em imagens e sons - como sempre foi. Sérgio Dias Baptista - jardineiro-mór - soube esperar 30 anos para dar o seu recado à massa. Permaneceu vivo e produtivo, infelizmente mais fora que dentro do país, executando a melhor e mais brasileña guitarra da Terra. Não se desviou do caminho verdadeiramente mutante. Resgatou um baterista da burocracia mortífera e o irmão da morte anunciada à la Syd Barrett para, juntos, fazerem a festa da recriação - e da recreação também, as always - que conta agora com a Duncan no role playing de Rapunzel sem tranças e com o luxuoso auxílio de ótimos músicos amadores - amadores de Mutantes, bem entendido. Perfeito! Vida longa àqueles que detonaram os detratores da guitarra nos tempos reacionários de banquinho-e-violão. Ponto para o Groisman, que sabia do que se tratava ali, naquela histórica madrugada de 8 de abril de 2007. E pelas "ondas" da Rede Globo... suprema rendição.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Nem parece banco...

Cancelamento de um débito automático - a saga. Situação: pessoa da "quarta idade" (pelo critério de contagem de quinze em quinze anos) verifica, com surpresa, em seu extrato bancário, um desconto de 20 reais descrito como "seguro". Sendo um beneficiário de aposentadoria mínima da previdência social, tinha o hábito de retirar os "caramingüás" (em torno de 250, 300 reais) mensalmente, sem solicitar extratos.

Comédia de horror em 7 capítulos

1. A saga inicia-se pela singela indagação, na agência bancária, sobre a origem "da operação". Onde e quando haveria uma autorização dada para o referido débito automático?

2. Vinte e quatro horas após, eficientemente, o comunicado é de que o débito fora devidamente desprogramado. Ufa! Não haverá mais o desconto...

3. Mais dois dias passam. Toca o telefone e uma anapaula (daquelas operadoras de telemarketing) diz ao aposentado que há um crédito para ser "apanhado" no banco. Alegria: os descontos de cerca de 18 meses - foi esse o tempo em que o débito automático agiu na surdina - devem ser ressarcidos.

4. De volta para casa, o que "apanhara" o idoso cidadão? Um crédito, sim, mas consignado. Pasmo! Um empréstimo, não solicitado e tentativamente negado. Argumento "de morte" usado pelo vendedor de plantão: se o senhor não precisa do dinheiro, pode abrir uma poupança com ele e guardar para uma emergência. Sem noção (nossa melhor versão para a expressão inglesa "non sense"). Como pode, em sã consciência, um brasileiro ludibriar um seu compatriota induzindo-o a tomar com a mão direita um empréstimo ao custo de 2,5% ao mês e "investí-lo" com a mão esquerda à taxa de 0,6% mensal? Parece que o treinamento dos bancos anda muito bem estruturado, a ponto de obter esses ótimos vendedores... de pesadelos. E mais! Um outro produto viera, de quebra, no alforje: um plim (se fossem dois, recitados talvez fizessem aparecer o Faustão numa nuvem de fumaça encantada). E tome plano de capitalização! Daqueles que você compra para dar "reciprocidade" ao gerente chato e que quando, invariavelmente, saca antes dos 60 meses, faz deixar, de presente para a banca, metade do principal.

5. Intervenho na mesma data. Em contato com a matriz da casa bancária, sou encaminhado a uma assistência de gerência - uma espécie de gerente genérico. Algum tipo de anapaula mais graduada. Ouço que nada mais pode ser feito porque o INSS é muito ágil (!!!) e o crédito na conta "deverá estar sendo disponibilizado" (sic) já no dia seguinte. Quanto ao plim, este sim, pode sumir imediatamente num plunct-plact-zum...

6. Depois de testemunhar o atestado de competência para a nossa previdência nacional, resta-me usar o único expediente que pode mudar um script de tele-atendimento: a ameaça de acionar a justiça (aquela que, no Brasil, tarda e também falha, mas que a todos assusta pelo nível de cefaléia que provoca "nas partes"). A menção dos três sortilégios "propaganda enganosa", "má-fé" e "código de defesa do consumidor" (registre-se que os bancos tentaram - na mesma justiça tupiniquim - não serem enquadrados no CDC pois não caracterizariam, seus serviços, relações de consumo!?! - perderam, Deo Gratias!), foram suficientes para abortar o blá-blá-blá pré-programado e a robótica anapaula comprometeu-se a "estar verificando" (sic dois) a possibilidade de cancelamento da penca de "benefícios" impingidos ao agora, circunstancialmente, devedor do banco pelos próximos 36 meses. "Mas o correntista vai ter que estar comparecendo pessoalmente na agência (sic três) para pedir a quitação imediata do débito, arcando com os juros dos dias corridos". De acordo.

7. Quarenta e oito horas depois da enunciação da praga tripla, surpresa. Fora conquistada a anulação pura e simples dos arbitrários atos, sem necessidade de quitação de juros ou tarifas. Talvez seja tática para que se olvide o motivo que deu início à saga: o débito automático indevido, do qual não se ouviu mais notícia, senão "uma possibilidade de que tenha sido dada autorização para débito por telefone". Mas isto fica para outra data, talvez longínqüa, pois requererá a paciência de um Watson e a astúcia de um Sherlock - tempo para a produção de mais alguns cômicos desenhos animados, que nem parecem de banco...

segunda-feira, 2 de abril de 2007

O valor das idéias...

Situação: intenção de encerrar antiga conta bancária de salários. Local: Rio de Janeiro. Protagonistas da ação: este signatário no papel do condenado, e o banco Santander no papel de algoz.

Horário de acesso às dependências do patíbulo recém-reformado sob o patrocínio da prefeitura do Rio de Janeiro, a qual "internou" 165 mil pobres servidores na masmorra virtual da conta-salário: 10:50 h.

Passo 1: Sou cortesmente atendido por um garoto engravatado a bordo de um plástico "como posso ajudá-lo senhor?". Dizendo-lhe da minha intenção, fui postado de pé ao lado de um aparelho com a frase: - isto se faz por telefone, senhor.

Passo 2: Cortesmente atendido pela Ana Paula (já repararam quantas anapaulas fazem tele-atendimento hoje em dia?), sigo interrogado sobre números de documentos, "de onde sou?", se servidor público estadual de São Paulo, "da Marinha" ou da cidade do Rio de Janeiro, e das razões da minha intenção - aparentemente surpreendente pelo tom estupefato da mocinha. Afirmando a minha intenção, sou atingido pelo primeiro petardo: o banco me dá - você leu corretamente - o banco me dá 100 reais para que eu permaneça correntista, "para o senhor fazer o que quiser - não é empréstimo, o senhor não vai ter que pagar nunca". Reafirmo a minha intenção - para mais espanto e silêncio do outro lado da linha. Vem a seguinte pergunta: o que o banco pode fazer pelo senhor para que não nos deixe? Minha singela resposta: - nada. Silêncio sepulcral do outro lado. E depois: - nada? Então está bem, senhor. O senhor tem algum saldo na sua conta? Respondo que sim. Ah! - percebo o alívio da Ana Paula: - então não posso encerrar sua conta agora; o senhor tem que sacar o seu saldo para depois fazer o encerramento. Pano rápido - digo - desligo rápido e dirijo-me à fila do caixa.

Passo 2: No caixa, ouço outro simpático e jovial "o que posso fazer pelo senhor, senhor?". Digo eu: - gostaria de fazer uma retirada; um cheque avulso para encerrar a minha conta. Depois de degladiar-me por quinze minutos com o caixa (que deixara o sorriso, passando a exibir uma feição consternada, quase de pêsames) pois o mesmo queria que eu soubesse o meu saldo (quando resolvi encerrar a conta, no início de fevereiro, tinha 120 reais - e percebo então, que no último dia de março, restam-me apenas míseros 66), entregasse o cartão magnético e falasse com um gerente sobre o assunto, porque, afinal, poderia haver algum outro "produto" do banco vinculado à conta-corrente; um seguro, uma capitalização, um investimento, um empréstimo... Consigo finalmente fazer o saque.

Passo 3: De volta ao "orelhão", Ana Paula (outra delas) atende, faz todo o rol de perguntas novamente (número do CIC, do RG, se conta-salário, também o número do hollerith etc. etc. etc.) e dispara o segundo petardo com que sou alvejado (talvez agora de morte e, portanto, talvez permanecendo "no banco"): - nós vamos estar disponibilizando (sic) para o senhor um desconto de 50% em todas as tarifas. Assim o senhor vai estar adquirindo (sic e mais sic) um valor de mais de 60 reais no semestre! Diante da minha (absolutamente louca, para ela) negativa, vem um longo silêncio e a bem decorada questão: o que o banco pode fazer pelo senhor para que não nos deixe?. Respondo contrito: - nada. Ela, então, manda outra pergunta do "script", e nova: - o senhor tem alguma operação ligada à conta; cheque especial, cartão de crédito, débito automático? Digo que não, mas ela percebe que havia ("do verbo não há mais") um antigo financiamento (quitado em dezembro) e que, "por causa disso" eu deveria ir à gerência e... Diante de minha impaciência e do relato de tudo o que já fiz: ligar para sua colega Ana Paula, ser orientado a sacar e ter sacado, vem, finalmente, a minha "liberdade", mas na "condicional": - vou fazer um "requerimento de encaminhamento de encerramento de conta", mas o senhor terá que estar verificando (sic, mil vezes sic) depois com a gerência se a conta foi mesmo fechada. E, finalmente (aleluia!), recebo meu salvo-conduto, o redentor "número de identificação da solicitação de encerramento de conta-corrente" - que anoto rápida e sofregamente - o qual permite-me ir embora daquele ofuscante e muito iluminado ambiente.

Horário: 11:30 h, perfazendo, portanto, quarenta minutos "de detenção".

(I)moral da história: deveria ser crime inafiançavel um banco oferecer, de graça, o equivalente a dez dias do salário-mínimo líquido de um brasilero pai-de-família. Eu, felizmente, pude recusar o "presente" e viver para contar tal espanhola saga.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Prêmio SINCAF

O Prêmio SINCAF (suas idéias não correspondem aos fatos) - de inspiração cazuzística - vai para a edição de 20 de março de 2007 do jornal O Globo.

Talvez como reflexo do fortíssimo calor que assola o país nesse (fim?) de verão, o nível de contradição presente nas linhas e entrelinhas do periódico ultrapassou qualquer barreira desejável de controvérsia jornalística saudável. Senão vejamos:

1. No editorial expresso em Opinião e intitulado "Razão de Ser" (P. 6).

O veículo posa de guardião republicano defendendo que "... os meios de comunicação de massa são instrumentos essenciais para governos. Televisão, rádio e, agora, a internet se constituem veículos importantes para transmitir informações úteis a milhões de pessoas, de forma rápida e direta...", mas desanca a criticar a iniciativa do Governo Federal de criar uma Rede Nacional de Televisão pública, alegando que é "... imprescindível racionalizar as despesas públicas... ". Como parte de um dos conglomerados de comunicação do país - setor imerso em dívidas junto a entes privados e públicos a ponto de ter feito lobby por um PROER da mídia - o jornal esqueceu-se de somar às suas considerações a parte que cabe às emissoras de televisão nos rombos arrecadatórios de várias esferas, para o bem do país que "... passa por uma difícil situação fiscal... ". Outra pérola, tripudiando a estrutura (para lá de capenga) da comunicação estatal (TVEs, Radiobrás e que tais): afirmar que "... pela tradição, emissoras estatais servem para empregar apaniguados de esquemas político-partidários, e por isso mal aparecem nos sistemas de medição de audiência". ANCINAV neles. Esquecem-se, mais uma vez, senhores da mídia que se dizem primeiro-mundistas, que nos países desenvolvidos, conselhos plurais de comunicação influem no que vai pelo ar e pelos cabos, dando voz a todos os segmentos de público representados, de indígenas a homossexuais, de minorias religiosas a intelectuais, e que conteúdo que se veicula através de concessão pública constitui matéria para ministérios de cultura e não para todo-poderosos ministérios de comunicações ("acemísticos" aparatos dos anos de chumbo), ou seja, repartições meramente carimbadoras responsáveis por satélites, antenas, cabos e tomadas.

2. Na opinião expressa no quadro Opinião e intitulado "Hora do Consumidor" (P. 17).

Comentando a mudança de controle acionário do Grupo Ipiranga, "... na busca de ganhos de escala... como em algumas outras indústrias... ", o periódico quer ver agora tratado "... o interesse dos consumidores... junto aos organismos de defesa da concorrência... ". Esquece-se - de novo! - o veículo, de que, parte de um conglomerado de comunicação que, a exemplo dos demais grupos donos da mídia brasileira, não se quer submeter a qualquer julgamento crítico em relação à sua própria fatia no oligopólio. Porção essa tanto de audiência quanto de profissionais de comunicação. Há tempos o conglomerado funde-se internamente e adquire no mercado outras operações e seus profissionais produzem conteúdo indiscriminadamente para seus veículos. Se no passado havia uma pluralidade de redações, hoje se lê com freqüência, nas páginas do jornal O Globo, matérias produzidas pelo Extra, pelo Diário de São Paulo, pela Globonews(!) e pela CBN (!). "Mais-valia, a gente vê por ali".

3. Noticiando o veto (viva!) da ANATEL à compra de TV a cabo pelo Oi (P. 21)

Uma das maiores beneficiárias (pela quantidade recorde de anúncios que veicula) da guerra da telefonia instalada no país pelo governo FHC, a rede de televisão coligada ao periódico não foi citada pela reportagem, a qual também esqueceu de tecer considerações sobre um dos mandamentos da privatização cardosiana, aquele que vetava a um mesmo grupo atuar numa mesma área geográfica com telefonia fixa e móvel. Anunciante campeã de audiência, a agora "convergente" Oi não deve ter ficado muito satisfeita com a matéria. Afinal, a líder da TV aberta (e "fechada" também) suprimiu da concorrência a possibilidade de veicular suas imagens por assinatura - privilégio da coligada NET - e atuou fortemente no lobby que seu ex-colaborador mais que estrategicamente imexível ministro foi "vítima" na implantação do modelo (japonês) de TV digital - que, (in)justamente, impede que as empresas de telefonia atuem na produção própria de conteúdos, ficando dependentes das emissoras já existentes para apenas repetirem a sua bebebéia programação.

Patrocínios Petrobras: moeda de duas faces.

A Petrobras é a maior empresa da América Latina e atua em uma área - energia - na qual encontram-se as mais poderosas corporações do planeta. Uma organização dita de classe mundial, com ações na bolsa de Nova York (em categoria máxima de governança corporativa, leia-se: transparência, satisfação ao acionista e preocupação socioambiental), presença global e, até, patrocinadora-parceira de uma escuderia na Fórmula 1, meca das indústrias que gravitam a área que, ao lado da energia, comanda os maiores negócios mundiais, a indústria automobilística.

Orgulho brasileiro desde a sua fundação, por Getulio Vargas, em 1954 - a partir da campanha nacional "O petróleo é nosso", a Petrobras passou por crises mundiais (como os choques do petróleo de 1973 e 1979), regionais (como a recentíssima onda "nacionalizante" na América Latina, que rendeu a perda de investimentos antes julgados permanentes na Bolívia) e nacionais (como a tentativa de rebatizá-la "Petrobrax" no governo criativo-privatizante de FHC), mas sobreviveu e hoje passa por um momento de rara conjugação de fatores positivos, internos e externos, que tem-se traduzido em crescimento, consolidação de posicionamento (como na recente aquisição, com parceiros, do último grupo brasileiro privado na área dos combustíveis, o Ipiranga) e demonstração de capacidade inovadora (como sempre, na exploração de petróleo em águas "cada vez mais" profundas, no biodiesel e, agora, na americanizada "febre" do etanol).

Não é absurdo, pois, que tamanha pujança se reverta na presença da marca Petrobras tanto na mídia quanto nas mentes e, de fato, a empresa é a maior patrocinadora na área artístico-cultural desde que o campo do marketing cultural surgiu, por assim dizer, em 1986, a partir da legislação de incentivos fiscais à cultura inaugurada pela Lei Sarney. Sua atuação rivaliza com o próprio Ministério da Cultura. É memorável o patrocínio exclusivo da Petrobras ao Projeto Pixinguinha, da FUNARTE, na década de 1980, talvez a mais bem sucedida experiência de apoio de uma empresa a programas de difusão e promoção da cultura em todos os tempos.

Não se deve estranhar o fato de a Petrobras assumir integralmente a política praticada pelo Governo Federal na área da cultura, afinal, o governo brasileiro detém o controle acionário da Petrobras, apesar de nem ser mais o maior detentor de ações da empresa - a maioria de seus papéis circula em bolsas, o que, em tese, significa "em poder do público". (Isto aliás reflete a mudança de paradigma do que seja hoje considerado uma empresa pública. Longe do velho conceito de estatal, empresa pública tornou-se o conceito de organização que deve satisfação ao público, mas isso é tema para uma outra matéria). Por deter o controle da empresa - ou do grupo, já que a Petrobras encabeça um conglomerado de pessoas jurídicas, sendo a Petrobras Distribuidora de Combustíveis a maior delas depois da companhia de exploração e produção de petróleo - o governo brasileiro impõe integralmente a ela (e também às outras empresas controladas pelo Tesouro Nacional, tais como Eletrobrás, Infraero, Correios) a sua política de apoio à arte e à cultura.

Como um player de porte gigantesco e capacidade de investir com peso em tudo aquilo que mira em seus objetivos, a Petrobras realiza um trabalho exitoso de promoção institucional com seus patrocínios - para lembrar apenas um, basta citar os já vinte anos de apoio à Orquestra Pó-Música do Rio de Janeiro, depois rebatizada Orquestra Petrobras Sinfônica, sua atual denominação. Seu Programa Petrobras Cultural garante a realização de filmes - de curta e longa metragem -, festivais de música, resgate da memória nacional, eventos na área das artes plásticas e cênicas, entre outras iniciativas, marcando presença nos olhos e ouvidos de relevante massa de audiência. Porém, e nesse porém reside uma outra face da moeda, marketing cultural é uma atividade que, ao lado de significar a viabilização do empreender artístico-cultural, ou seja, a aplicação do espírito de marketing a esse setor da atividade humana, deve, também, dar curso a ações que coloquem a marca de patrocínio de uma organização à altura das marcas de seus concorrentes.

A batalha por corações e mentes na área da energia é global. Mesmo. Note-se as incursões internacionais recentes da estatal venezuelana PDVSA que atingem até o Brasil, indo do desejo manifesto de comprar a Ipiranga até a decisão de patrocinar desfile de escola de samba no Rio de Janeiro. Nesse aspecto - internacional - a política de patrocínios culturais da Petrobras deixa a desejar. Concorrendo planetariamente por posicionamento no imaginário de consumidores, parceiros empresariais, governos, fornecedores e concorrentes, a Petrobras deveria adotar, também, ações globais, com impacto comunicacional ampliado para além das nossas fronteiras. A empresa já obtém esse resultado com algumas ações pontuais - o patrocínio a turnês da Companhia de Dança Deborah Colker é um deles - mas tal retorno é ínfimo frente à sua estatura e diante de concorrentes tentaculares como British Petroleum, Shell, Exxon Mobil e Repsol.

É natural que realize essa "internacionalização" das ações de patrocínio a partir do insumo artístico-cultural brasileiro. É de se esperar que a Petrobras transpire brasilidade. Para citar uma ação nessa linha, já faz parte da história, por exemplo, a importância que teve o grupo holandês ABN-AMRO na divulgação recente da obra de Van Gogh.

Por outro lado - voltamos à face nacional da moeda - soa estranho a Petrobras "patrocinar" a Escola Nacional de Circo ou a reforma da Escola Nacional de Música. Por definição, tais instituições deveriam receber transfusão de vida diretamente do Tesouro Nacional, via Ministério da Cultura e não de uma empresa deste ou daquele ramo de atividade e, portanto, algo sujeita a intempéries de mercado e dos humores dos executivos de plantão. Por este modo de ver, o patrocínio "empresarial" da Petrobras parece (e é) dirigismo estatal que se sobrepõe aos interesse (legítimos) comerciais da marca. Muito mais apropriado seria a Petrobras figurar como a mais importante carreadora de recursos para o Fundo Nacional de Cultura (via leis de incentivo) e este, sim, fazer os aportes necessários e permanentes às instituições perenes da estrutura de preservação, fomento, difusão e proteção da cultura do país.

Ambas as questões aqui abordadas - tanto o frágil marketing cultural realizado pela Petrobras quando vista como global player, quanto a questionável onipresença de sua marca onde deveria estar ostentada a marca do MinC - são excelentes objetos para aprofundamento de estudiosos do tema e de seus correlatos, tais como gerenciamento de marcas, patrocínio, filantropia, empreendedorismo, captação de recursos, terceiro setor, responsabilidade social e cidadania empresarial o que, no Departamento de Relações Públicas da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro constitui uma das razões de ser e de trabalhar da Coordenação de Pesquisa e Documentação em Comunicação e Mercadologia Prof. Manoel Maria de Vasconcellos (CPDCOM), hoje realizando a 13a. turma de seu curso de atualização (em 75 horas) "Marketing Cultural: Teoria e Prática" e a 3a. turma do curso de aperfeiçoamento (em 180 horas) "Gestão e Marketing na Cultura".

segunda-feira, 12 de março de 2007

Lula e o pé na jaca

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O ponto jê (ou tapuia) do Lula localiza-se no pé.

Afinal, em suas típicas palavras; "estamos convencidos de que pontojê se escreve com jê de jaca".
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