terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Organizações" apostam na memória curta do brasileiro e "batem" na querida mamãe-ditadura.

Opinião de O Globo (30/11) sobre diploma de jornalismo revela esquizofrenia grave. Veículo atropela a própria mãe.

Que ninguém se iluda - se é que ainda havia espaço para alguma ilusão. Como disse um coleguinha global no penúltimo encontro Aberje-Rio, "de Niterói para cima" (acrescento eu, "e para baixo"), os patrões da mídia NÃO querem diploma de Jornalismo. NUNCA o quiseram e farão tudo o que puderem para manter a decisão do supremo Gilmar.

Conferência Nacional de Comunicação neles! Dezembro de 2009 chegou, finalmente!

Os novos robber barons usarão a mesma força bruta de sua máquina-de-manipulação-de-mentes (Globo Marcas, UOL, PMDBdoQ, Prêmios Emmy, IURD, PSDBdoS, Dois Gritando, BancoPanamericano, DEMdoDemo, Se Eu Fosse Você "N", Veja e Casas Bahia, além de mais dinheiro em vestes) usada para vetar a Ancinav (que, cumprindo a Constituição Federal, traria controle social à TV, como acontece nos desenvolvidos Alemanha, Austrália e Canadá entre outros) e o Conselho Federal de Jornalismo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

YES... OUI... QUEM ?


Monsieur
Obama, bien sur.

Há um ano ascendia ao poder Barack Hussein Obama - um nome mais provável se relacionado ao Oriente Médio, ao Islã, às 1001 noites...

Mas não foi um conto de Malba Tahan que introduziu Sahib e sim um dos eleitorados mais (im)previsíveis do mundo - the people of United States of America.

Maktub.

Estava escrito desde Martin Luther King e Monteiro Lobato, que um presidente negro comandaria a nação oriunda das 13 colônias - e isto a partir de uma campanha fulminante iniciada em um discurso na convenção do Partido Democrata de, só, 4 anos antes. Isto e mais um muito de internet surfing.

Estava escrito também, desde Greenspan, o todo-poderoso do FED até 2008, que a exuberância irracional explodiria just after Bush Jr. E na cara de quem? Quem suportaria o estouro dessa bolha? O war hero McCain? A bombshell do Alaska, Sarah Palin?

I want you.

Nas palavras dos think tanks republicanos: o garçon Obama.

Ninguém, nunca antes, poderia ter sequer imaginado que os EUA financiariam, com recursos públicos, tanto a banca, rota, quanto as suas insustentáveis montadoras, General Motors - a inventora do marketing automobilístico - à frente.

E Obama deixou passar a oportunidade de ouro para uma virada histórica que levaria, de novo, o país de Abraham Lincoln, aos píncaros da glória - simplesmente deixar falir a inviável indústria automotiva estadunidense.

Uma conjunção de mudança (change foi o mote da campanha democrata) de paradigmas industriais e trabalhistas (as aposentadorias, bônus e luxos das montadoras é que afundaram-nas em dívidas) que seria como um new deal verde - do carro elétrico ao transporte de massa para todos. Quem quisesse um carro zero - esse objeto de desejo antigo, perdulário e pior lixo do planeta - teria que importá-lo da Alemanha, do Japão, da França. Algo até muito alinhado com o slogan atual do governo Obama - buy american. E o mercado de carros usados - muito maior que o de "zeros"- adentraria em três anos de franca prosperidade.

Créative Technologie.

E os cidadãos eventualmente desempregados receberiam subsídios em muito menor monta do que os utilizados para reeguer os monstros ineficientes de Detroit etc. E passariam a comandar uma revolução. Verde. De etanol. De usinas eólicas. De biodigestão a partir do lixo - não há mais lixo per capita que nos EUA. E, finalmente, teriam, com o restante dos recursos públicos utilizados para bancar os deficits gêmeos e manter os bônus de executivos gananciosos, o tão sonhado atendimento universal de saúde, no qual Obama atola-se agora, reeditando antecessores que também o tentaram.

Infelizmente não foi o radical script de mudança a escolha de Obama - cujo governo começa a dar sinais de fraqueza. Os EUA chegam à pior taxa de desemprego desde 1983 (10,2%, sem contar os 2% da população encarcerada, não contabilizados entre os sem ocupação) e o Partido Republicano fez, em 03/11, dois governadores em estados importantes - New Jersey e Virginia. A proposta para a saúde, que passou por um triz pela Câmara dos Representantes e já foi encolhida da original universalização dos serviços para uma cobertura de 90% da população, deve ser tesourada ainda mais no Senado.

Triste Trópico de Câncer.

Não é só abaixo do Equador que acontecem iniquidades. Ao trópico meridional digno das lágrimas de Lévi-Strauss, morto no último sábado, 31 de outubro, aos cem anos, une-se o paralelo setentrional do planeta. A Europa oscila - sua moeda não consegue substituir o lentamente moribundo dólar como moeda de referência e Tio Sam já não responde por metade de tudo do mundo - talvez só da dívida.

A capricorniana São Paulo ganha a companhia do Rio de Janeiro - muito bem na foto, olímpica, e juntas vão levando o Brasil ao pódio das nações que fazem diferença. Ditando moda e modos, apesar da violência até anti-aérea. Rafales que se cuidem.

Obama deixou passar batido o golden pot. Quem sabe a dupla caipira "Dilma-cá e Lula-lá" não surpreende em Copenhague e assume a liderança da parada verde-bandeira pós-Kioto? Por enquanto...

- Non, uai, can't!
Quem viver verá.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O bom, o mau e o feio


Eles fizeram certo!


A maior parte dos jornalões fez o certo. Chamou o esforço bem sucedido de divulgação da candidatura do Rio de Janeiro de "sucesso de relações públicas". E foi mesmo. O Brasil - e o Rio em particular - ficaram muito bem na foto na disputa pela sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O trabalho de divulgação do projeto-candidatura da cidade junto à mídia não tem outro nome - e este nome é relações públicas.

Mas também houve quem errou

Pessoas da força-tarefa espanhola, à testa da campanha por Madrid, criticaram o trabalho dos brasileiros - o que o estatuto do Comitê Olímpico Internacional condena -, alegando que a bem-sucedida candidatura do Rio não se tratava de outra coisa senão marketing...

Parece que o ensino de marketing precisa ser reforçado na Espanha. Marketing não é isto que se viu neste período - algo melhor definido como um esforço de planejamento e de comunicação.

Ugly Baby

Não ficou bem para os colegas madrileños, que levaram uma advertência do COI. E, menos de 24 horas depois da gafe, o Rio de Janeiro foi consagrado como a sede das Olimpíadas de 2016. Hasta la vista, hermanos!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um acórdão para o Gilmar despertar...


"Os meios de comunicação têm, em sua natureza primordial, finalidade social e informativa, mas tais atividades devem ser exercidas com critério e segurança, sob pena de se colocar em risco a segurança e a honra subjetiva dos cidadãos e de responder, civil e criminalmente, por tais desmedidos atos".


Exemplar!

O texto é parte do acórdão exarado pelo desembargador Renato Ricardo Barbosa (da 19a. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), condenando o jornalista Franklin Martins (junto com Marcone Formiga, jornalista que o entrevistou e a editora Dom Quixote, responsável pela publicação) ao pagamento de uma indenização de 50 mil reais a Fernando Collor por tratá-lo, em matéria publicada em julho de 2005 na revista "Brasília em Dia" como "corrupto, ladrão e chefe de quadrilha".

Como se sabe, o ex-presidente foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal das acusações na esfera criminal.

Franklin Martins informou que vai decorrer da decisão.

Não é sobre quem se diz... mas o quê se diz

Não vou aprofundar a questão sobre Franklin Martins (de que gosto) ou sobre Collor (de que não gosto).

O relevante neste caso é o alcance, para o bem ou para o mal, e a responsabilidade que há no produto do trabalho jornalístico - algo, em minha opinião, - de elevada importância. Tão elevada que justifica a formação do jornalista em curso de nível superior.

Como também se sabe, Gilmar Mendes foi o relator da decisão que cassou o diploma de Jornalismo como requisito para o exercício profissional. Talvez seja o caso de empreender um job de jornalismo investigativo em Diamantino, Mato Grosso, terra do ministro, e descobrir quem é que escreve o quê e aonde naquela cidade. E de quebra, também, como é que se resolvem por lá os casos de injúria, calúnia e difamação, pela mídia, uma vez que a Alta Corte dirigida por Gilmar também acabou com o direito de resposta, colocando nada em seu lugar.

Referência Cruzada

Na mesma edição do jornal O GLOBO em que foi publicada a notícia acima (18/09/2009), outra matéria, comentando a indicação de José Antonio Toffoli, por Lula, para a vaga agora aberta no STF, temos o seguinte entrecho:

"Antes, convocado para a sabatina [no Senado Federal], Gilmar [Mendes, atual presidente do STF] passou pelo constrangimento de ver a votação adiada por um pedido de vista, diante da apresentação de uma lista de processos em que aparecia como réu".

É de se perguntar em que gaveta dormitam tais processos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nota reveladora do conflito de interesses entre ser jornalista e estar assessor de imprensa

Começo fazendo um clipping da nota que saiu na coluna do Ancelmo Góis de hoje, n'O Globo:

Inimigo ao lado

Ontem, o senador Álvaro Dias
ficou um tempão falando
com uma pessoa com crachá de
imprensa sobre os planos dos
tucanos na CPI da Petrobras.

Era uma jornalista contratada

pela assessoria da estatal.

Resumo da lição dada por um mestre dos coleguinhas: esta atitude da assessora equivale a um ato de espionagem.

Pano rápido

Parece que a Petrobras, além de toda a carga dramática que traz desde Monteiro Lobato e Getulio Vargas, passa, agora, a paradigma de práticas - boas e ruins - de relações públicas e assessoria de imprensa em particular. Será que aprenderemos?

Relacionamento com a imprensa em dez lições:

1. Lugar de exercício de jornalismo é veículo de imprensa.

2. Quando um jornalista "muda de lado", passa a fazer comunicação empresarial (está aí a ABERJE* para confirmar).

3. No mundo civilizado, quando um jornalista faz comunicação empresarial, lhe é vedado continuar atuando paralelamente em redações, como acontece no Brasil.

4. Assessoria de imprensa é especialidade (e até sinônimo) de relações públicas no mundo inteiro - o que evita, ou pelo menos minimiza, o conflito ético de interesses. Cada perfil na sua.

5. Todo executivo quer sair bem na foto.

6. Logo, todos querem um jornalista para chamar de "seu".

7. E esperam que ele, com tráfico de influência, minimize os problemas e enalteça as virtudes - suas e de sua organização.

8. Isto vem mudando há décadas - pelo menos duas - mas alguns executivos ainda acham que funciona. E não é que, às vezes, ainda funciona?

9. É preciso jogar luz sobre as tais "relações com a imprensa", um tema especializado. Ninguém melhor que os estudiosos do Jornalismo e das Relações Públicas. Na escola - não é o único lugar - se aprende.

10. E deixar claro para todos o que se está fazendo, ou seja, no case acima, NUNCA a jornalista, sem ser da imprensa, deveria ostentar um crachá de "imprensa" - e, por isso mesmo, não deveria ter acesso ao plenário do Senado Federal.

Estar jornalista não é um condão. É uma condição. Jornalista não é só canudo, mas formação e conduta ética. Jornalista fora de jornal não faz jornalismo. Faz outra coisa.

Aconteceu, mas não virou manchete

Tive oportunidade de prestar consultoria a uma diretoria da Petrobras. Sob a "chefia" de um jornalista. Desses que não estão mais em jornais, mas cheio de amigos em jornais. Por isso o seu cargo.

Não sossegou enquanto não mudou o nome do "boletim interno Tal" para "Jornal de Tal". E tascou um "editor-chefe" depois do seu nome. E ainda mandou ver um número de carteira de trabalho. Estranho... eu também tenho uma, mas nunca escrevi o seu número em minhas produções...

Inventou com seus colegas uma "redação" e pediu-me uma "matéria" com determinado executivo. Recomendou:

- Leve o gravador!

Eu, que não sou jornalista, mas faço consultoria empresarial há trinta anos, redargui:

- Mas isto pode inibir o executivo... sei tomar notas taquigraficamente...

Ele respondeu, ríspido:

- É norma. Assim podemos ter uma prova do que escrevemos!

Eu:

- Prova? Estamos em alguma investigação? E depois, posso mostrar ao executivo o resultado da nossa entrevista para ele conferir.

Ele:

- Claro que não! Não se dá essa satisfação a entrevistado!

Eu:

- Mas o boletim, desculpe-me, o jornal, é do departamento - ele próprio sugeriu a "pauta". Só vamos publicar o que interessa a ele que seja publicado.

Ele:

- Só não use o gravador se o executivo não autorizar!

Fiquei aliviado. Nunca usei o tal gravador. Todos os executivos, sem exceção, pediam-me para que as entrevistas não fossem gravadas. Ficavam pouco à vontade... óbvio. E era um veículo interno da empresa, ora bolas!

Obs.: Esse meu "editor-chefe" usava um crachá em que estava escrito "jornalista" e não a função que ele exercia na Petrobras (mesmo num jornal de verdade os jornalistas não têm crachá estampado "jornalista", mas editor, redator, revisor...) e, para minha surpresa, quando levou-me ao executivo a ser entrevistado, apresentou-me assim:

- Esse aqui é o Marcondes, nosso repórter...

- Ai, ai.

* Sigla original da entidade Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresa, hoje Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

PGI (Partido da Grande Imprensa): mais do mesmo

Já tive - mas repito - a oportunidade de citar a inspirada frase do jornalista Aydano André Motta no último encontro ABERJE-Rio, comentando o fim da exigência de diploma de nível superior para o exercício do jornalismo: - o fim do diploma não vai alterar a rotina de seleção das grandes empresas jornalísticas do eixo Rio-São Paulo, mas de Niterói "pra cima"...

Sobre este tema, a coluna de Mauricio Dias, na Carta Capital desta semana, merece ser clipada na íntegra:

"IMPRENSA - 'A lei do mais forte'

Embora haja registro de crescimento expressivo da tiragem dos jornais pelo interior do país, o exercício do jornalismo independente, fora do eixo SP-Rio-Brasília, é ainda muito mais difícil.

Existem alguns bons exemplos, mantidos a custo de suor e lágrimas. É o caso do Jornal Pessoal, de Lúcio Flávio Pinto, 59 anos, jornalista e sociólogo. O quinzenário circula há 22 anos, com tiragem de 2 mil exemplares.

Lúcio Flávio Pinto foi homenageado na Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizada em Belém, em 2007, pela contribuição dada, em 40 anos de jornalismo, à discussão de temas e problemas da Amazônia. O JP desafia a cartilha da submissão. Denuncia grileiros, madeireiros e fazendeiros cujos interesses se cruzam com os da 'grande' imprensa local. Nove ações penais são movidas pelas Organizações Rômulo Maiorana (ORM), dona da emissora filiada à Rede Globo.

Em 2005, o diretor-executivo das ORM, Ronaldo Maiorana, agrediu fisicamente o jornalista. Em julho passado, Lúcio Flávio foi condenado a pagar indenização de 30 mil reais ao agressor e ao irmão dele, Rômulo Jr., por supostos danos morais. Foi proibido também de citar o nome dos Maiorana.

A comunidade científica, intelectuais e organizações da sociedade civil se mobilizam em defesa de Lúcio Flávio. A imprensa, autodenominada grande, silencia".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Desconstruindo" Kotler

Excelente entrevista com Philip Kotler (publicada na Revista HSM Management de julho/agosto, 2009). Muito lúcido e atualizado, o velho mestre aproxima-se de outro guru - Peter Drucker - chamando a nossa atenção para a necessidade de se pensar prospectiva e criativamente, por mais que o mundo se acelere.

"O que passamos hoje é fruto de decisões que tomamos há dez anos atrás", escreveu Drucker. Temos que dirigir os nossos esforços ao estudo de tendências e, portanto, à construção de postos de observação dessas tendências.

Uma outra constatação interessante: o conceito de que "menos é mais" citado na entrevista. Tal surto de consciência pode mesmo já estar fazendo marola no hemisfério norte - vale a pena ler Goleman em seu novo "Inteligência Ecológica", a propósito. Essa TEM que ser uma tendência levada em conta pelas empresas, sob pena de não se ter planeta para viver ou trabalhar em 2069.

Para finalizar, a rendição aos ditâmes do caos. Kotler vem de uma tradição acadêmica cientificista, determinista. Proferiu sua primeira definição de marketing há 40 anos - algo "cartesiana". Alvíssaras render-se, contemporâneo, à imprevisibilidade, à complexidade e ao indeterminismo do caos em que estamos imersos, inapelavelmente.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Você acha que os Mutantes se transformaram em mais um projeto solo de Sérgio Dias ou é um grupo de verdade? Internauta pergunta.

Da ovelha Dolly a X-Men

Desde o início, este re-início parecia muito próximo do fim. Por tudo o que fez, o coletivo denominado Mutantes, "geneticamente", nem poderia querer retornar a um estágio anterior. E clones, esses morrem cedo...

Com ou sem Darwin, mutações partem para sempre uma linha 'evolutiva'. O resultado, errático, pode ou não parecer-se com o estágio anterior. Anda por aí um vírus que atende pelo sintomático apelido "Influenza" que não deixa mentir. Ele é influenciado pelo genoma "animal" da vez...

Outra coisinha: o estágio "seguinte" à mutação pode parecer até "inferior", ou mais pobre, ou involução até, em relação aos 'ouvintes'. Quem ouve, mutado, ou mesmo se não mutou, pode não gostar da mudança do cantante-tocante...

Ando meio desligado

Quando a dupla Lee-Arnaldo deixou a banda, o Mutantes, obviamente, mutou. Para alguns acabou. Para outros - como eu - evoluiu, e muito. Progrediu - e produziu três álbuns antológicos ("Tudo foi feito pelo Sol", "Ao vivo" e "Tudo bem" - este último lançado como compacto duplo 'Cavaleiros Negros' por conta de alguns egos mineiros) do melhor que o rock progressivo tem de brasileiro, ao lado de bandas como O Terço, Som Nosso de Cada Dia e Sagrado Coração da Terra.

O casal Yoko-Ono parou, petrificou. Não mutou mais. Lee/Yoko casou-se com o jabá Tutti Frutti e Arnaldo/Ono foi com o cônjuge curar-se no mato.

Ovelhas negras

Jabaculê colhe frutos até hoje de sua opção não-mutante. Em 2019 não teremos um especial de fim de ano RC 60, mas um RL 50. Ono retoma o controle de Loki porque Loki sempre foi Loki mesmo; o Syd Barrett tupiniquim.

Quem continuou mutante, mutando e - por isso mesmo - gramando por aí, foi Sérgio Dias Baptista - um dos mais brilhantes guitarristas do planeta. Infelizmente, caiu na cilada "global" e serviu de carne fresca por uns meses. Oxalá largue tudo isso - a Som Livre inclusive - e continue mutando e produzindo os CDs que nós, seus fãs, nunca deixaremos de encontrar, comprar, ouvir e aplaudir parados, petrificados.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A descoberta da pólvora... pelo jornal O Globo

Fantástico trabalho investigativo do jornalismo global: os sabujos repórteres do (planeta) diário descobriram que no setor da produção cultural há amadorismo, informalidade e até más práticas contábeis! E mais! A própria Infoglobo, empresa controladora do jornal, também fora vítima desse 'esquema'!!!

Como diria Bussunda: - Fala sério...

Depois de anos dando barrigudas matérias sobre Economia da Cultura, Indústrias Criativas, PIB da Cultura, O Globo finalmente descobriu o óbvio: não há uma Economia (com "e" maiúsculo) da Cultura. Não há um setor (formalmente reconhecido pelas estatísticas) como "Indústria Criativa". Não há, desde 1998, quando a Fundação João Pinheiro pesquisou o segmento da produção cultural, dimensionando sua participação no PIB em 0,8%; qualquer outra verdade sobre "PIB da Cultura".

Nada além das bajulações de sempre


Este jornal, sempre atrás da propaganda das entidades patronais da indústria, do comércio e dos serviços, sempre deu guarida aos "n" seminários que "discutiram" esses setores. Pura perda de tempo. E não é que uma senadora presente à posse do enésimo presidente da FUNARTE regozijava-se de um setor "que movimenta 8% do PIB?!". Talvez ela devesse pautar seus discursos menos por clipping de assessoria e mais leitura do website do próprio MinC.

Como é normal no Brasil, à primeira estatística séria de um segmento não seguiu-se a segunda, a terceira etc. etc. etc. E vivemos de chute em chute, de discurso disparatado em discurso disparatado. Não foi à toa que Gilberto Gil pediu o seu boné. Certamente tinha coisas mais úteis que o MinC para cuidar.

O que a cultura - como qualquer segmento - necessita é de atenção qualificada dos governos. Em todas as esferas. Precisa-se de qualificação. Precisa-se de profissionalização. Precisa-se de formação de bases de dados honestas e permanentes. Talvez assim, depois de alguns anos, possamos encher o peito e falar em Economia da Cultura.

Por que, por ora, o que há no Brasil da parte das "autoridades" do setor é, tão somente, economia de cultura.

sábado, 25 de julho de 2009

Uma outra verdade inconveniente

O presidente Lula disse a coisa certa sobre o mau uso dos incentivos fiscais à cultura, como conta Jorge Bastos Moreno em sua coluna Nhenhenhém de hoje, em O Globo:

Nome ao boi

No lançamento do Vale-Cultura, em São Paulo, ao falar da Lei Rouanet (1991), Lula constrangeu convidados, mas botou o dedo na ferida.

Referindo-se nominalmente às belas enciclopédias do Centro Cultural Itaú, disse o presidente:

- Aquilo não tem um centavo do lucro do Itaú. É tudo dedução do imposto de renda do povo brasileiro.

Salada cultural presidencial

O que talvez nem Lula saiba, é que não só as enciclopédias como também a sede do instituto (uma torre high tech fincada na avenida Paulista) deve-se a incentivos fiscais, no caso do prédio, graças à finada Lei Sarney (1985), cassada por Collor em 1990.

sábado, 11 de julho de 2009

Produção cultural é aquilo que Riva Fineberg ensinou-nos a todos...

Li a nota de falecimento, no último dia 8, e lembrei-me dos espetáculos - a música de concerto que Riva Fineberg fez acontecer por décadas no auditório do Instituto Brasileiro de Administração Municipal sob a marca "Música no IBAM".

Com todas as dificuldades que se possa imaginar. Com todos os "acho que não vai dar" ouvidos. Com todas as faltas de verbas. Com todos os (des)incentivos. Com todas as chuvaradas e enchentes cariocas. Apesar de todos os que duvidavam, sempre, prosseguiu Riva, Produtora cultural (assim, com "p " maiúsculo), correndo atrás do seu sonho.

Li na nota que a produtora admirara-se, certa vez, com aquele belo auditório no prédio da rua Humaitá, no Rio de Janeiro, e se perguntara:

- Por que não ter aqui concertos de boa música, gratuitos?

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez" (ditado popular)

Riva ensinou a muitos o que é, de fato, "formação de plateias", esse conceito que aparece em 9 de cada 10 propostas de patrocínio, muitas vezes só para constar.

Aula maior ainda a da constância, da perseverança, da manutenção de um programa. Devíamos desenvolver um case sobre Riva; sua tenacidade, sua capacidade de articulação e de viabilização da arte, a despeito das nossas malfadadas leis de incentivo à cultura, que insistem em desviar-se para projetos pessoais, do Instituto FHC à Fundação José Sarney.

Fica aqui o registro e a homenagem a esta que fez história e que para mim é exemplo de mecenas e de dedicação à cultura.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrevista para o Portal da ABRAPCORP

O portal da ABRAPCORP (Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas) entrevista, este mês, Marcondes Neto.

1. Qual seu conceito de Comunicação Organizacional?

É um campo de fazer e de saber que vem expandindo-se nas últimas duas décadas no Brasil a partir do desenvolvimento econômico privado, de uma certa modernização do Estado e da organização crescente da sociedade civil - instâncias que não podem prescindir de uma face e de uma voz, tanto "dentro de casa" como junto a seus públicos externos.

2. Existiria, em sua opinião, uma concepção brasileira sobre Comunicação Organizacional? Se sim, quais seriam algumas características específicas? Se não, o que faltaria para isto?

A concepção "Comunicação Organizacional" já é bastante brasileira (nos Estados Unidos, a comunicação integrada ao marketing - integrated marketing communications, ocupa o lugar da C. O.), mas não é nacional. No Rio de Janeiro, por exemplo, o conceito de comunicação empresarial sobressai. Em Juiz de Fora, Minas Gerais, a Universidade Federal também adotou esta denominação para seu curso de pós-graduação. Falta mais tempo de maturação (e artigos, pesquisas e livros) para que o conceito "saia" da academia com mais força e ganhe o mercado.

3. Quais os indicadores mais relevantes para se considerar a comunicação como efetiva e excelente numa organização?

São quatro, em minha opinião: conhecimento - e uso - das ferramentas de comunicação pelo pessoal interno; bom clima organizacional; imagem percebida (aquilatada por pesquisa) próxima à identidade organizacional e reconhecimento (levantado também por pesquisa) da organização - pelo mercado - como cidadã.

4. A comunicação vem sendo vista como uma área híbrida. Caso concorde, quais seriam outros conhecimentos que deveriam ser buscados por pesquisadores e profissionais? Se discorda, por quê?

Concordo com a afirmação. A aproximação da Comunicação com a Administração cada vez mais se evidencia. Se no início essa aproximação passava pelo setor de Recursos Humanos, agora ela está definitivamente agregada ao Marketing. Note-se que o vértice mais avançado desta interseção, pelo lado da Comunicação, dá-se pelas Relações Públicas, tanto no caso do reconhecimento da importância dos públicos internos (interface com RH) quanto no caso dos negócios e dos públicos externos (via Marketing).

5. Que faceta(s) da comunicação organizacional contemporânea você consideraria como campo(s) promissor(es) de estudo?

Estudos sobre reputação, estudos sobre transparência (aspecto fundamental da governança corporativa), mediação de conflitos, issue management, ONGs, filantropia e assessoramento a pessoas físicas.

6. Qual foi sua última publicação (livro, capítulo, artigo, resumo de palestra, resenha - impressa ou digital, independente de data) ? Cite, por favor, título, local e temática central.

Livro: "Relações Públicas e Marketing: convergências entre Comunicação e Administração", publicado pela Conceito Editorial (www.conceitoeditorial.com.br, RJ) e lançado pela Rede Saraiva em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Temática central: a aproximação cada vez maior entre a Comunicação e a Administração.

7. Que livro você está lendo agora? Qual sua motivação na leitura?

Estou lendo vários livros ao mesmo tempo: "Click", de Bill Tancer e "O culto do amador ", de Andrew Keen - no caso desses dois a motivação é a crescente presença da internet na vida das pessoas e das organizações. Não saem da minha cabeceira os clássicos - e a motivação é porque são clássicos! - "Feitas para durar" de Collins & Porras e "Marketing Básico", de Manoel Maria de Vasconcellos.

8. Sugira canais digitais de conhecimento interessante para comunicação organizacional e relações públicas (portal, blog, lista de discussão, newsletter eletrônica, comunidade em redes sociais, micro-blogging, entre outros).

Website: www.captacao.org

Blog: http://www.oxisdaquestao.com.br (blog do Chaparro)

Twitter: CNN.com/US

Newsletter eletrônica: a "HSM Online"

domingo, 5 de julho de 2009

Quando o diploma é o fim...

Justificam-se os meios.

E a opção da diplomada Miriam Leitão foi trazer para o seu Espaço Aberto (há controvérsia; não sobre o espaço, aliás enorme, mas quanto à sua abertura) desta semana, na Globonews, duas figuras no mínimo suspeitas para discutir o que acontecerá após o fim da exigência do diploma para exercício do jornalismo: um diretor de O Estado de S. Paulo, empresa co-autora, junto à Globo e outros gigantes da mídia, da ação que cassou o diploma, e um diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, centro universitário privado que sequer oferece em seu curso de Comunicação Social a habilitação em Jornalismo.

É primário

E depois, bacharel, não se queixe de que há má vontade para com as Organizações... com uma prática dessas fica difícil, impossível mesmo, a gente reviver aquela velha (já quase falecida) prática de "ouvir a outra parte". Que parte?

O primeiro adiantou que, já para 2010, o programa de trainnees do Estadão abrirá vagas a pessoas de outras áreas acadêmicas. O segundo aposta no crescimento dos cursos de especialização - principal fonte de faturamento da empresa que dirige... e ainda querem manter o élan dos jovens estudantes de Jornalismo, país afora?

Pelo menos o pessoal do impresso (seja em papel, seja em pixels) é mais realista

Outro dia, em seminário da ABERJE (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), no Rio, Aydano André Motta, de O Globo, foi certeiro quando disse que "no Rio e em São Paulo nada muda em relação às práticas de contratação dos jornais". (Eu duvido, mas quién soy yo?). O problema, segundo ele, é "de Niterói p'ra cima", Brasilzão no qual os donos da mídia terão pudor nenhum de empregar só quem lhes agrade os amigos-atores econômicos e políticos que rastejam atrás de uma manchete, de uma matéria, de uma notinha ou denúncia contra adversários etc. etc. etc.

sábado, 27 de junho de 2009

O ano de 1958 começou a terminar...

Bad

E com a morte de Michael Jackson, a história do século XX levou um baque dos grandes.

Tudo aquilo que o segundo milênio gerou e que sublimou-se nos 50 anos do pós segunda guerra mundial - o mais vertiginoso período do desenvolvimento humano - pode ser traduzido pelo empuxo dado pela indústria cultural pós-Beatles, de 1970 a 1999, justamente o período de ascensão e queda do astro-mór pop.

Os 4 de Liverpool viviam o fim do sonho e Michael emplacava, aos 14, em 1972, o seu primeiro grande hit, "Got to be there". Depois veio "Ben", do mesmo ano, e "Music and me", de 1973, - ano, aliás, de grande ebulição do rock progressivo. As paradas, no entanto, eram dele.

Music and me

Aquelas músicas que faziam parte das trilhas sonoras de novelas e a inexistência de videoclips significaram, para muitos jovens já da geração "televisão", um prolongamento da era do rádio. As músicas eram boas e faziam sucesso. Não era preciso recorrer a imagens. Mesmo num segundo "estouro" de Michael, na era disco ("Billy Jean" - 1983 -, "Don't stop 'till you get enough" - 1979 -, esta última é tema de abertura do programa Videoshow, da Rede Globo, desde 1983), as imagens (toscas, por sinal) eram dispensáveis. O apelo que nos fazia dançar sobrepunha-se a tudo. E uuuhhh!!!

O paradigma seria quebrado pelo clip cinematográfico de "Thriller", mas isto é outra história.

I'll be there

Se fosse brasileiro, Michael Jackson seria um integrante daquele "contingente" que o Serviço Militar chama "classe de 58". O ano que não devia terminar - na visão (e na obra) de Joaquim Ferreira dos Santos - vai acabar, infelizmente, quando Madonna - o outro "membro" relevante da classe de 58 - se for. Está, pois, nas mãos, nos pés e na saúde da Material Girl o fim não só daquele ano mágico (também do primeiro campeonato mundial de futebol do Brasil, na Suécia), mas o final simbólico do próprio século XX. Assim como se considera terminado o século XIX com o início da primeira guerra mundial, em 1914, a queda do muro de Berlim, em 1989, como o (prematuro) fim do século XX e o ataque às torres gêmeas, de 2001, como marco-início do terceiro milênio.

Não consigo lembrar-me de onde estava quando John Lennon morreu, em 1980, mas nunca esquecerei da hora e do lugar - e de quem trouxe a notícia até mim - da morte de Michael.

"Us" quem, cara pálida?

Os milhares de Maicon espalhados pelo Brasil são testemunho vivo da importância do artista no imaginário popular. Mesmo que vivendo em uma bolha - ou em uma câmara hiperbárica, ou em um rancho na Terra do Nunca -, Michael Jackson conseguia infiltrar-se em nossos toca-discos, nos posters de nossos quartos, na laje carioca (cantando "They don't really care about us") e na MTV, que formatou, viu nascer e decair.

Got to be there

Michael Jackson é "o" case pronto e acabado do modus operandi e do poderio da indústria cultural. E os "produtos" com sua "marca" continuarão faturando - talvez até mais daqui em diante -, a exemplo do que acontece com Elvis Presley, Nat King Cole, John Lennon, Frank Sinatra, Kurt Cobain et al.

O menino-homem-mulher-lobisomem-afro-branquelo figurará para sempre como a chave do veículo que transportou do gueto Motown para o mundo o talento potente daqueles que, sabendo ou não, foram seus padrinhos; artistas do porte de Diana Ross, James Brown, Supremes, Marvin Gaye, Quincy Jones e Stevie Wonder.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Fim do diploma para ministros do Supremo...

Está aí uma campanha que tem tudo para crescer... daqui a dez anos. Explico: por volta de 2019, 50 anos depois de o Homem ter pisado na Lua, 100 anos depois do fim da Primeira Grande Guerra Mundial - ou seja, um ano cheio de efemérides importantes - teremos dez anos do fim da obrigatoriedade da exigência de diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista. Por obra e (des)graça do atual colegiado do STF (que em 17 de junho último perpetrou o tiro de morte num dos últimos bastiões da parca democratização dos meios de comunicação no Brasil), qualquer um (desde que aparentado ou apaniguado dos patrões, bem entendido) poderá sentar-se à redação e produzir manchetes, notícias, comentários, críticas, recomendações ao distinto público ouvinte, leitor, telespectador ou internauta debaixo de marcas que até hoje conseguiam um mínimo de credibilidade justamente por ostentarem pessoal de alto nível (com e sem diploma, bem entendido) em seus quadros.

Mais do mesmo. E saudades dos rábulas...

A esta pérola da jurisprudência nacional junta-se outra, talvez de maior quilate ainda e do mesmo time de doutas excelências - o fim da lei de imprensa e, com ela, da regulamentação sobre o direito de resposta. Ou seja, agora, qualquer um desses "novos" profissionais pode escrever o que quiser e você, cidadão, ao sentir-se agredido, humilhado, discriminado ou perseguido em matéria de primeira página, que vá "buscar seus direitos" contratando um advogado (este sim diplomado, para todo o sempre) para pleitear uma notinha em resposta à difamação, daqui a dezoito meses, lá perdida numa página, próxima dos obituários.

Quem vai formar opinião?

Quem perde - em minha modesta opinião - com esta medida de desqualificação dos profissionais da imprensa é a cidadania. Um caso de mal difuso, difícil de medir ou alcançar com as mãos. É sutil o efeito que veículos de comunicação manipulados por empresas familiares (e bota família de político nisso!) gerará na tal da opinião pública. Lembremos do "jornalista" Jason Blair, o qual inventou 90% de suas matérias no The New York Times, provocando, quando descoberto, grande debate sobre a capacidade da sociedade proteger-se de maus profissionais da imprensa. Aliás para isto teria servido a criação - abortada pelo lobby dos mesmos patrões da mídia tupiniquim - de um Conselho Federal de Jornalismo. Teríamos a quem apontar as falhas e pedir reparações na justa medida. Não é ao Conselho Federal de Medicina que encaminhamos nossos pleitos quando mal atendidos por um hospital? Não é ao CREA a quem recorremos quando enganados por um falso engenheiro? Conselhos servem para defender a cidadania de maus profissionais e não para defender uma corporação, esta, sim, função de sindicatos e associações.

Alegam, suas excelências, que a lei que criou a exigência do diploma de jornalismo é parte do "entulho autoritário". Ora, se tudo o que os governos militares produziram é digno de remoção, por que não extinguir a Embraer e a Embrapa? Ou demolir Itaipu e Ilha Solteira? Ou acabar com a Embratel? Ou, ainda, erradicar fundos como o FAT, o PIS, o PASEP, o FGTS? Ou eliminar o seguro-obrigatório DPVAT? Ou a agência de fomento FINEP? Por que não implodir a própria e nababesca sede da corte? - muito provavelmente um prédio construído no maldito período...

Peter Drucker falou e disse

O papa da Administração - que o jornal O Globo chamou de "filósofo" em obituário - ensinava que "nada que possamos fazer em termos de planejamento vai alterar o rumo dos grandes problemas de gestão do presente; o que vivemos hoje é fruto de decisões que tomamos há uma década...". Esperemos, pois, com paciência e resignação, as constatações que advirão dos próximos dez anos de "jornalismo de ensino fundamental". Com muita probabilidade, nossos cidadãos de 2019 estarão escrevendo cartas aos seus jornais prediletos pedindo o fim do diploma para o exercício do ministério supremo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Vazamento poluente no reservatório do P.G.I.

Fatos e Dados

E a Petrobras "furou" os jornalões... que pecado. Assim, sem mais nem menos. Sem aviso prévio. Sem pedir licença aos mesquitas, frias e marinhos.

E o P.G.I. (Partido da Grande Imprensa) se alevanta em defesa da ética jornalística. Mas como, se ele mesmo jamais respeitou ética alguma? Lembremos Chatô, um dos fundadores do partido.

Jornalões são também propriedade dos mesmos barões do rádio, da TV e da internet - é a tal convergência posta ao avesso. Ou seja, todo mundo (meio mundo sem o saber) filia-se, "democraticamente", a websites, a canais, a assinaturas de veículos que pertencem ao mesmo cartel: a mídia que dá base ao P.G.I. É a cartelização do cidadão - o big brother de Orwell não faria melhor. Os grandes bancos são os criadores desse conceito: você tem uma conta-corrente, então deverá adquirir no mesmo "grupo" a poupança, a capitalização, o seguro da casa, do carro e da morte, os investimentos etc. etc. etc. A isto denominam "reciprocidade".

Exigem, os patrões-jornalistas (que no Brasil, como sempre assinala Mino Carta, os empregados insistem em chamar de colegas), que as perguntas enviadas à assessoria de imprensa da Petrobras - isto sim é que deveria ser o alvo de muita discussão acadêmica e profissional, a atuação dos jornalistas em atividades de assessoramento a empresas, instituições e pessoas físicas* - são "autorais", não podendo, portanto, encabeçarem informações passadas ao mercado (ou ao público em geral, melhor dizendo).

Risível. Por acaso alguém já ouviu uma pergunta absolutamente genial em uma coletiva de imprensa, por exemplo? O que será que os jornalistas (escolhidos a dedo, literalmente, por George W. Bush), perguntavam nas coletivas? Não seria algo como "qual a sua atitude diante do deficit primário crescente em seu governo?", ou "quando os Estados Unidos retirarão suas tropas do Iraque?". Não são, certamente, pérolas da literatura ou mesmo do jornalismo investigativo. O que há de tão "autoral" em questionar o presidente da Petrobras (via assessoria, não esqueçamos) quanto aos patrocínios - claro que questionáveis, diga-se de passagem - da empresa; ou, ainda, sobre repasses a ONGs - questionáveis idem - sem licitação pública?

A Petrobras - e hoje qualquer grande empresa, mesmo que não tenha ações em bolsa de valores - deve satisfações públicas. O conceito de "empresa pública", nos países mais desenvolvidos, deixou de significar empresa estatal e passou a ser "o" critério de transparência, de "glasnost" (remember Gorbachev). O balanço social (exigido às empresas na França desde 1977), para o grande público, tem mais significado que as próprias demonstrações financeiras (essas sim, religiosamente publicadas ano após ano pelas companhias de capital aberto).

Sete pecados capitais da mídia tupiniquim

1) A mídia brasileira é a mais cara do mundo, em dólar;

2) A internet de banda larga (larga?) brasileira é, também, a mais cara do mundo, em dólar;

3) A mídia beneficia-se das bilionárias verbas publicitárias de todos os governos: os de direita, os de esquerda, os de centro... qualquer um que detenha um mínimo de poder, mesmo que seja em Serra Talhada;

4) Jornalistas que não encontram colocação na mídia, nove em dez, fazem concursos públicos e correm a formar redações onde quer que seja; no Detran, no MinC, na Presidência da República e na Petrobras (em cada uma das suas 5.568 diretorias, mesmo as que não furam poços);

5) Os jornais beneficiam-se desses pelotões avançados de "coleguinhas" ávidos por traficar influência, prestígio, poder, benesses e, porventura, até alguma entrevista exclusiva, notícia, nota, notinha, furo, vazamento ou "off", bem à escolha do freguês (que, então, tratam de "anunciante");

6) Quando o modelo acima dá errado - como no recente caso da petróleo-blogueira - os patrões saltam nas tamancas e brandem a imparcialidade que nunca praticaram, desde D. Pedro II;

7) Os barões clamam em favor de uma tal de "opinião pública". Ora, nesta matéria, como já ensinou Artur da Távola, o que existe é só a "opinião de quem publica". Mais não há. Talvez com milhões de blogs e portais-cidadãos como o Overmundo, no futuro.

Conversa para boi acordar

Estamos num país de analfabetos no qual metade das crianças não completa o ensino médio e a metade que completa não consegue compreender o que lê - e o que essa geração lê é algo fora dos padrões de uma sociedade letrada - instruções de videogame ou a tabela de preços da academia de ginástica da esquina.

A Petrobras, antes de lançar seu blog, pagou (caro) por um Informe Publicitário** no qual deixava clara a sua insatisfação quanto à cobertura que a "grande" imprensa vinha realizando sobre a CPI, publicando sempre parcialmente os fatos e dados (termo que acabou sendo o título do blog) constantes de seus press releases.

O blog é legítimo, sim, e veio para confirmar os incensados gurus que publicam em O Globo, por exemplo (no seu caderno DIGITAL), as maravilhas da comunicação via web - uma nova geração de liberdade de escolha e interatividade. Qualquer outra baboseira "ética" é papo para tentar enganar leitores e espectadores. Mais uma vez.

P. S.: (23/06/2009) Miriam Leitão, prócer global, chamou hoje, no programa "Bom Dia Brasil", os blogs na web de "uma espécie de info-arma" contra as ditaduras. Que bom que a Petrobras conhecia este tão expert conselho, criando a sua própria info-arma contra a ditadura da "grande" mídia.

* Em países mais sérios que o nosso, a jornalistas, quando no exercício da assessoria de imprensa, é vedado o exercício do jornalismo.

** Informe Publicitário é como a imprensa brasileira denomina a matéria paga. A mídia impressa publica cartas, esclarecimentos públicos ou até textos eminentemente propagandísticos, desde que sob este título. São, comumente, emoldurados com um fio gráfico e com tipos ligeiramente diferentes, os quais, sem esse devido destaque, poderiam passar ao leitor como material editorial.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Se a lei Rouanet mudar, então; só sobra um, meu irmão...

Ninguém deve surpreender-se com a tendência de 11 em 15 “patrocinadores-tipo-Rouanet” reduzirem seu marketing cultural (como "deu" na Folha de S. Paulo de 29 de maio último).

Da grande maioria das organizações que fundamentaram essa atividade em leis de incentivo (desde a Lei Sarney) só se pode esperar este comportamento, pois fizeram nada mais que promover-se às custas da renúncia fiscal.

Um titular desse time declara, na matéria, que "o projeto parte da ideia, equivocada, de que o governo sabe mais onde colocar o dinheiro do que o setor privado". É cristalino. Esse tipo de agente de marketing acredita que um Estado organizado, com instituições, leis, serviços públicos e orçamento é coisa menos importante que seu próprio umbigo. Não dá nem para começar a conversar - organizações geridas com esse tipo de "filosofia" têm mesmo é que perder qualquer acesso a incentivos fiscais.

Infelizmente, a maneira como tem sido conduzida a política cultural no Brasil nos últimos 23 anos (a Lei Sarney é de 1986), baseada quase que exclusivamente em incentivos fiscais, gerou esse tipo de pensamento. Demonstrei isto em minha tese e tenho escrito e contado essa "história" sempre que posso.

Apoiar a cultura com incentivo fiscal deveria servir para criar uma cultura de mecenato, o que, infelizmente, ainda não aconteceu. Há exceções, mas isto só reforça a regra. O incentivo – como acontece em qualquer país ou atividade – deve sair de cena em curto prazo. E ficam aqueles agentes que "aprenderam" e apreciaram os resultados a ponto de passar a destinar o que o ministro chama de "dinheiro bom" (parte de suas verbas de comunicação) ao financiamento ou apoio à viabilização de manifestações artísticas e espaços culturais, ajudando a dar forma (é claro que quem manda aqui é o artista, o criador), a atribuir preço (que remunere a ação mas que também esteja ao alcance do seu público), distribuir e promover – por tudo isso é que a atividade é de marketing cultural e não de engenharia cultural, arquitetura cultural, atitude cultural ou qualquer bobagem dessas que alguns inventam para ganhar dinheiro nas costas do artista.

O patrocinador contribui para que o artista, o grupo, o espaço, a arte enfim, ganhem espaço e procurem o seu público, o seu nicho no mercado, aumentando as opções de fruição da sociedade.

É muito bom saber que daqueles 15, quatro pretendem continuar patrocinando iniciativas artístico-culturais. Esses utilizaram melhor o incentivo fiscal (são exemplares da tal learning organization). E vão colher frutos dessa nova fase da filantropia menos pilantra. Nessa linha há, na matéria, um depoimento muito relevante: “o resultado final será positivo para a cultura e para os seus investidores. Dessa forma, a empresa não vislumbra dificuldades futuras na utilização de incentivos fiscais em programas culturais."

Melhor de tudo: um em 15 declarou que vai aumentar o patrocínio. É para onde devemos olhar. Um universo enorme de organizações que ficou à margem, até hoje, da farra dos incentivos (pois que isentas, ou que declaram renda pelo lucro presumido ou que estão em estados e municípios sem leis locais de incentivo à cultura). Temos que desenvolver esse tipo de ator. Temos que identificar esse tipo de mecenas (14 em 15 mecenas do Minc são fake). Temos que fundar o apoio à arte na ação daqueles que amam a arte, usufruem da arte em seu quotidiano e que por seu amor à comunidade [filantropia é isso e não fazer o bem (bem?) com o dinheiro alheio] resolvem doar um pouco de si ou de sua empresa ou de sua poupança à causa da criação e do enriquecimento cultural de todos.

sábado, 23 de maio de 2009

"E ele diz que se chama Jonas..."

"E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria"

Zé Rodrix foi pra dentro da baleia por vontade própria
"Encantou-se", à Guimarães Rosa

Foi pra sua casa no campo guardar seus amigos, discos e livros
E nada mais

Quando morre um papa,
Honras espirituais

Quando morre um estadista,
Honras militares

Quando morre um escritor
Honras seculares

Que honras são devidas quando morre um roqueiro?
Dois acordes? Um "róquiem"?

O que dizer de um poeta que embalou gerações?
Que valeu?

Que relembrar de uma mensagem de amor, de positividade, de alegria
Num universo que - querem - rotula-se "do mal", esse tal de rock'n'roll?

Pois Zé Rodrix, Luiz Carlos Sá e Gutemberg Guarabyra são a trilogia de bem
Que o jornal diz ter criado o rock rural...

Mania de dar nome a bois...
Por mais rurais que os considerem, furaram discos aos milhões nas vitrolas urbanas

O que dizer da passagem do carioca Rodrix pelo paulistano Joelho de Porco?
Um dos melhores produtos da ponte-aérea, precursor de outro "praieiro", o Ultraje rogeriano

Ontem perdemos uma fonte de inspiração, mas o céu vai ficar mais animado
"No meio das lembranças do passado eu não estou sozinho..."

A letra toda de "Mestre Jonas"

Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
A baleia é sua casa, sua cidade
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
Que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas
Quando o tempo é mau, a tempestade fica de fora
A baleia é mais segura que um grande navio

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
Que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida
Até subir pro céu

sexta-feira, 8 de maio de 2009

E o público que se dane, de novo...

A história se repete.

Pouco mais de cem anos depois, um parlamentar brasileiro - o excelentíssimo sr. Sérgio Moraes, deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul - repete, em conteúdo muito similar, a filosofal máxima do magnata estadunidense William Henry Vanderbilt, que, em 1882, quando cobrado na imprensa sobre a qualidade dos serviços prestados por suas ferrovias, mandou esta pérola: "o público que se dane", dando, com este gesto, início à história moderna das Relações Públicas: em 1906, um jornalista seu conterrâneo, Ivy Lee, passava a oferecer aos jornais um serviço informativo inédito, divulgando informações empresariais julgadas por elas (e por ele, com sua experiência de redação), de algum interesse do público.

Lee explicava sua atividade dizendo "não fazemos jornalismo", inaugurando a era da preocupação das organizações com imagem institucional, algo que poderia ser trabalhado (não construído, note bem) com divulgação (honesta, de fatos) prestada por uma atividade nascente - a assessoria de imprensa - batizada public relations.

Relações Públicas

A evolução levou os grandes grupos empresariais a criarem internamente diretorias de public affairs para tocar todas as frentes em que uma organização precisa agir para conviver bem com a comunidade em que se instala - desde a vizinhança física até as autoridades municipais, passando pela clientela e, logicamente, pela imprensa.

Artur da Távola, parlamentar fluminense falecido há um ano, costumava dizer, não sem uma (grande) pitada de ironia, que "não existe opinião pública, mas opinião de quem publica". Foi exatamente nessa sutileza que residiu outra infeliz frase do deputado gaúcho; "vocês da imprensa batem, mas continuamos a ser eleitos". Separou ele, para defender seus interesses e atitudes, a opinião pública da ação da imprensa - que em nome dela se exerce. O jornalista brande no ar - com razão - não as suas convicções apenas, mas a dos seus leitores; afinal, o escriba escreve aquilo que buscamos ler. Se a "escritura" não vai muito ao nosso encontro, trocamos de assinatura e lá vamos nós atrás de outras fontes. Outros veículos, outros jornalistas.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tucano amarelo cutuca o ministério verde do Juca

Saiu da toca, recentemente, um tucano de alta plumagem. E com um artigo publicado em O Globo (ver, no site deste link a seção "Papel Passado", matéria de 28/04/2009), botou a colher na fervura da reforma da lei que atende pelo nome de uma outra ave do paraíso.

Diretamente do palácio dos Bandeirantes, ninho do governador-candidato Serra, João Sayad, talvez o mais culto dos secretários de Cultura, comete erros e acertos. A eles:

Os erros

1) Erra ao atribuir 25 anos à renúncia fiscal dirigida à cultura (14 destes de Lei Rouanet). A idade correta da renúncia é menos de 23 anos, pois a Lei Sarney é de 2 de julho de 1986. E ainda tivemos o período "em branco", de Collor, entre março de 1990 e dezembro de 1991.

2) Afirma que o MinC (errado, é a CNIC - Comissão Nacional de Incentivo à Cultura) avalia preços dos projetos e se os mesmos precisam de apoio. A decisão não é se precisam, pois todos os que pleiteiam julgam precisar. Até o Cirque du Soleil "precisa" de recursos. A decisão, lá, é somente se os projetos atendem aos parâmetros e exigências da lei. Não há julgamento de mérito. Nem se algo é ou não cultural - uma das boas coisas de uma política verdadeiramente democrática.

3) Afirma que "se forem projetos comerciais ou com ingressos caros, a renúncia fiscal não pode ser utilizada". Me engana que eu gosto: permanecem, como sempre foram, os apoios ao teatrão e à flutuante árvore de Natal carioca, por exemplo.

4) Defende que o ministro lute por verbas mas que não mexa na renúncia das empresas, sob a argumentação de que uma ação retira recurso da outra. Meia-verdade: como o próprio Sayad aponta em seu artigo, não conseguimos passar de R$ 1 bilhão na Cultura. O que é quantia risível diante do PIB brasileiro de mais de R$ 2 trilhões. Precisa-se mesmo é de mais dotação orçamentária - e não só a nível federal, mas também de estados e municípios.

Os acertos

1) Chama a atenção - sobretudo de um público que costuma prestar pouca ou nenhuma atenção ao noticiário econômico-financeiro - para o descalabro dos juros da dívida interna (obra-mór do grão-tucano FHC (padrinho de Meirelles), que decuplicou-a a partir do golpe da maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999).

2) Explica didaticamente a diferença entre orçamento, incentivo (esclarecendo que é sempre política pontual, de objetivo e duração determinadas) e renúncia fiscal.

3) Dá conta da lerdeza (e da falta de sorte) do governo federal quando sinaliza o péssimo momento em que a reforma vem à baila. Apenas meia-verdade, porque o tempo das mudanças no Brasil é mesmo medido em décadas. Mas, de fato, a mudança da Lei Rouanet foi bandeira da dupla Lula-Gil em 2002 - e até agora nada aconteceu de efetivo. Como já alertei neste blog, por mais uns poucos meses, nem uma das mudanças pretendidas será implementada e teremos mais do mesmo - ou a política tucana para a área, aquela que prega que a "cultura é um bom negócio". Quem sabe o Opportunity não ocupa a vaga do Banco Santos e se transforma no próximo grande mecenas da corte?

4) Afirma que é obrigação do MinC lutar por mais verbas orçamentárias para a Cultura. Certíssimo! Se somos um país de 2 trilhões, nosso gasto total com cultura já devia estar na casa dos 20 bilhões anuais (mais ou menos a verba do Ministério das Comunicações, lugar-tenente do PMDB) e não do bilhãozinho que nenhum partido político quer administrar.

Como diria Mino Carta, conversando com seus já sábios botões, "até o mundo mineral" sabe quais reformas deveriam ser feitas à Lei Rouanet (e a outras leis marotas de incentivo à cultura, em estados e municípios, Brasil afora). Vamos a elas (trechos extraídos de artigo publicado pelo autor em 2005, a respeito da dita reforma):

É necessário ampliar o acesso do cidadão às políticas públicas e aos equipamentos culturais, permitindo sua participação não só na fruição como também na produção da cultura.

O uso dos incentivos fiscais pela pessoa física ainda é tabu; menos de 1% da renúncia do imposto de renda que é destinada à cultura vem da pessoa física. É preciso fomentar essa participação.

Os incentivos deveriam ser aplicados na ponta do "consumo" da produção artístico-cultural.

Como?

1) No cartão único dos programas sociais (cujos portadores são isentos do imposto de renda), deveriam ser incluídos "ingressos virtuais" para sessões de cinema (brasileiro), teatro, dança, circo, ópera, música de concerto ou instrumental;

2) Espetáculos incentivados deveriam oferecer, sempre, récitas gratuitas;

3) A compra de livros, CDs e DVS de produção (e conteúdo) nacional, devidamente discriminada em notas ou cupons fiscais, deveria poder ser lançada no imposto de renda, até o limite de 6% do imposto devido (renúncia em vigor) na rubrica "incentivo à cultura".

E mais algumas considerações sobre renúncia fiscal a partir do locus/fato gerador de cada iniciativa

A) Projetos incentivados com recursos do imposto de renda (federal) deveriam circular obrigatoriamente pelas cinco regiões do país; projetos incentivados com recursos do ICMS (estadual) deveriam circular pelo respectivo estado concedente, por, pelo menos, cinco cidades diferentes, previamente constantes da proposta; projetos incentivados com recursos do ISS ou IPTU (municipais) deveriam acontecer obrigatoriamente na cidade concedente, podendo, complementarmente, circular por outros municípios previamente constantes da proposta;

B) Projetos eminentemente promocionais (marketing cultural de meio) NÃO deveriam ser alvo de renúncia fiscal;

C) Projetos de marketing cultural misto (parcerias, co-patrocínio entre entes públicos e privados, por exemplo), deveriam ter 50% de seu custo incentivado;

D) Projetos de empreendedores, com risco, ou seja, de marketing cultural de agente, excluído show business (produções lucrativas), e projetos de entidades de natureza cultural (marketing cultural de fim), deveriam ter 100% de incentivo fiscal.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Don't worry... é só jornalismo...

E não é que eles fizeram de novo?

Parece até que é uma campanha corporativa das Organizações Globo, achincalhar o marketing. (Vide matéria de 03/09/08 neste blog).

Dizer só isso assemelha-se à imagem de um pires de café: muito pequeno e muito raso. Há algo mais por detrás. Tem que haver. Palpito que uma das razões é a indigente formação dos jornalistas no que diz respeito a temas mercadológicos.

Embora vivam - vivamos todos - mergulhados em mercados, múltiplos, avassaladores, os coleguinhas correm a negá-lo, a bater nele. Quase uma ideologia. E xiita.

É mercado de trabalho, mercado de arte, mercado livre. É consumo de celular, de cerveja, de banda larga. Mas se há um culpado, se há um demônio, don't worry... é só marketing...

Senão vejamos

Hoje, o jornal dos Marinho estampa em sua página 2: "show de marketing", aludindo as ações midiáticas do ministro Nelson Jobim (de arma em punho) e do governador Sérgio Cabral (vestido à judoca). Ora, Deus, são só poses! Desde que foi inventada a máquina de fotografar, os políticos posam à larga. No cockpit de um jato, a bordo de um submarino, carregando um recém-nascido. Isto não chega a ser nem factóide. É só pose mesmo.

Falta a disciplina "Mercadologia" nos currículos de Jornalismo. E então temos não só a má vontade, mas, pior, a ignorância.

Na mesma edição do jornal, na crítica do novo álbum de Caetano Veloso, o preconceituoso título: "Além de toda a teoria e do marketing, disco se impõe por boa safra de composições". Mamma mia! Será que não se pode realizar um cursinho de marketing "in company" na redação ou então uma parceria básica com uma dessas casas do saber que dê direito a publicitário estrelado e professor da EcoEcoEco para ensinar aos cabras que marketing não é só a propaganda, a comunicação que se vê e ouve, mas tudo o mais que "consumimos"; produto composto-gravado-editado-impresso-embalado-estocado-distribuído? E que se não existisse marketing sequer estaria o escriba a tecer, na mídia, seus comentários contra ou a favor de qualquer coisa, pois nem emprego teria?

Por fim, a matéria publicada no último final de semana. O título já diz tudo: "FH diz que PAC é mais marketing que realidade". Tsc, tsc, tsc. Que desserviço à boa informação! O ex-presidente fez, sim, uma alusão às ações de propaganda do PAC. Isto sim, propaganda. E aí, cabe ao ex-presidente, ou a qualquer um de nós meros mortais, criticar uma propaganda vazia, de algo que não existe. Uma ponte que vai a lugar nenhum... uma estação de metrô com cinco placas diferentes de inauguração (experimente passear pela estação Cantagalo, no Rio de Janeiro). Mas, como dói aos veículos de comunicação baterem naquela atividade que lhes rende o oxigênio... Fica mais fácil bater no tal do marketing, afinal uma palavrinha contrabandeada, que nem tradução conseguiu na nossa língua.

sábado, 28 de março de 2009

Comentário de um remanescente da era dos átomos

Nicholas Negroponte "marcou um gol" quando em seu livro A vida digital (1995) dividiu a economia em duas eras: a dos átomos e a dos bits. A primeira, bricks and mortar; a segunda, e-business.

É inegável o avanço que as tecnologias (de hardware, de software, de peopleware e até de um... mindware) proporcionaram em termos de produção, eficiência e riqueza. É inigualável, também, a contribuição que a chamada T. I. trouxe ao conhecimento e àquela área que administra - ou quer administrar - o conhecimento: a educação.

Mas - sempre tem um mas - em termos de educação, há algo mais a considerar: todos nós, dos nonagenários nascidos no início do século XX aos “Y generation”, fomos educados em um sistema formal - pré-internet - baseado em escolas, disciplinas, metodologias e crivos quantitativos e qualitativos de saber – sendo, estes últimos, cada vez mais rigorosos em termos de fontes, referências, testagem e comprovação empírica.

O sistema acadêmico universal, ainda em vigor (e não diviso nem uma sombra pairando sobre ele) sempre foi uma construção coletiva de conhecimento. Cada tese de doutorado, pelo seu caráter referencial ao que fora feito antes e de adição de um conhecimento inédito, torna-se um "tijolinho" do edifício de sua área, esta bastante bem delimitada no contexto das ciências sociais, humanas, biológicas ou tecnológicas.

Há transversalidades. Saberes que desafiam o status quo compartimentado dos departamentos universitários, mas que mesmo assim têm o endereço de equipes ad hoc multidisciplinares controlado pela academia e centros de pesquisa. Mesmo as empresas que inovam com fins lucrativos alimentam-se do conhecimento que, produzido academicamente, recorre a agências de fomento muitas vezes financiadas por recursos públicos.

Bottom line

Há que se render, ainda, a parâmetros de "velha" economia dos tijolos e argamassa. Já escrevi que a universidade brasileira se reengendra ou morre, mas, por ora, seu modus operandi sobrevive, mesmo que aos trancos e barrancos.

As revistas científicas são online mas os experimentos médicos, técnicos e sociais têm que ser bastante palpáveis - passam por estudos de campo, envolvem pesquisa de opinião pública e de mercado, experimentações em laboratório e em centros de pesquisa médico-farmacêutica, passam por testes de materiais e implicam na construção de modelos aerodinâmicos aprovados em túneis de vento... e por aí vai.

O mesmo traço “físico” ocorre com o livro. Em plena passagem da era "atômica" à digital, o velho calhamaço encapado, de folhas cortadas e coladas ou costuradas, sempre foi mobile e mais, não requer bateria (poluidora) de lítio ou cádmio e nem corrente elétrica ou iluminação. Vai onde quisermos. Na noite, uma vela (acesa!) basta. Pode até ser um pouco amassado para caber no bolso do paletó. E para produzi-lo ainda se precisa de alguém que o edite. Isto dá a credibilidade inicial. A final virá da essência que o próprio conteúdo carregue - fruto de suas fontes e referências.

Blá Blá Blá “na nuvem”

A wikipedia carece muito dessa credibilidade essencial. Alguém pesquisou e encontrou 1.070.000 referências no Google para a palavra “brogue”. Muuuiiito lixo. Andrew Keen, criador de várias empresas baseadas na internet e autor do livro O culto do amador (2007) adverte: “é a celebração do amadorismo – qualquer um, por mais mal-informado que seja, pode publicar um blog, postar um vídeo no YouTube ou alterar um verbete na wikipedia. Essa anonimato da web - uma mistura de ignorância com egoísmo, mau gosto e ditadura de massas - põe em dúvida a confiabilidade da informação. E a distinção entre especialista e amador torna-se cada vez mais ambígua...”.

Eu mesmo posso relatar uma experiência nefasta. Tendo realizado uma pesquisa ao longo de anos, no interior do sistema universitário (especificamente no âmbito da USP), tive o lampejo e a generosidade de postar um texto referente aos meus achados incluindo na wikipedia um verbete sobre o "meu" tema, marketing cultural. Pois não é que um anônimo retirou-o? Nova tentativa, e novo “veto”. E o cidadão ainda direcionou os ponteiros da pesquisa de quem quer que fosse buscar na malfadada enciclopédia gratuita e virtual o termo “marketing cultural” para um canhestro conceito que o mesmo explora em seus empreendimentos, o de (sic) 'arquitetura cultural'. Um acinte – sobrepor um interesse particular a um achado legitimamente reconhecido pelo sistema acadêmico vigente. Felizmente encontrei alguém com credibilidade (no caso, a editora Ciência Moderna) para publicar o resultado de meu suado trabalho.

E não é que meus alunos de graduação na disciplina "Produção de Eventos" querem realizá-los sentados diante do computador?

Por isso, caros amigos, ainda temos que aprender e fazer muito pelos novos suportes tecnológicos do conhecimento. E enquanto não fazemos isto vigir, utilizar as regras do jogo atual da melhor maneira possível, realizando nossas pesquisas no campo (mais que na web) e publicando nossos livros por meio de alguma editora que não seja “a do autor”.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Até que enfim... a Lei Ferreira

Parece até conto da carochinha, mas a uma semana do primeiro de abril, o Ministério da Cultura, finalmente (e bota "ufa!" nisso) abriu a consulta pública (de 45 dias) que pode mudar os rumos do patrocínio no Brasil.

Sonhada por mim, querida por você, pedida por nós, clamada por vós e por todos, a reforma (sempre) anunciada e (ainda não) executada pelo governo federal já é maior de idade, uma vez que as críticas fizeram aniversário de 18 aninhos junto com a própria Lei Rouanet - e a esta altura o ex-ministro deve estar torcendo para sua "filhota" sair de casa, casar e mudar de sobrenome. Quem sabe o comprido Passos Gil Moreira ou, talvez, o mais econômico sobrenome de (Juca) Ferreira.

Deu n'O Globo

Entra ministro, sai ministro, desde 1991 se sabe que o patrocínio às artes e espetáculos no país virou oligopólio. Segundo o ministro Ferreira, 3% dos proponentes abocanharam e decidiram sozinhos o destino de 50% do (pífio) bilhão de reais da renúncia fiscal havida em 2008.

Eventual política de eventos culturais

É uma árvore de Natal aqui, um Cirque ensolarado ali, um Canecão lá, um Vibezone acolá e pronto; acabou-se o recurso do incentivo com aqueles que, convenhamos, não precisam de incentivo algum, pois que já contam com o nosso "incentivo" de servos-consumidores. E nem assim, com uma galera-mecenas de milhões de almas, a TIM deixou de chutar o balde do ex-Free Jazz Festival... ou seja, patrocínio continuado no Brasil é... vento...

Eterno sonhador, iludo-me que talvez algumas de nossas corporations, hoje tão citizens, tenham aprendido a lição do genuíno marketing cultural como um (belo e eficaz) meio de promoção institucional e relações públicas e permaneçam no mercado de patrocínio, viabilizando quem precisa de modo contínuo, não-eventual, e bem longe dos gerentes tupiniquins de marketing que, ao patrocinar um Picasso, estão, de fato, com o coração e a mente no volante de um Citroën.

Saiba mais sobre a terceira geração do marketing cultural.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

"Suicídio alemão..."

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Confesso que andava à procura de um tema para escrever em fevereiro, e não deixar o mês sem uma matéria nova no blog. Pura demanda interna. Esta, aliás, é a mais antiga das motivações de alguém que escreve - a auto-imposição. Mas fica mais fácil quando se é visitado pela musa dos escribas: a inefável inspiração.

E ela veio. Na forma de uma matéria interessante publicada na edição de hoje, 28 de fevereiro, do jornal O Globo, em seu caderno Prosa & Verso. Trata de um fenômeno bem conhecido deste que vos escreve bem como de outros colegas da faina acadêmica: a forma tosca como as editoras recusam novos autores e novas obras, independente do fato de serem potenciais best sellers ou, pelo menos, autores de algo que valha a pena sair da gaveta. Conta o autor, o escritor canadense Camilien Roy (ver íntegra em www.marketing-e-cultura.com.br/clipping / matéria de 28/02/2009), como seriam algumas pérolas emitidas pelas editoras:

"Lemos o seu livro, mas não gostamos, então pode acrescentar esta carta à sua lista."

"Assim que o senhor terminar um novo trabalho, envie-nos, pois nossa equipe de leitura está trepidando de impaciência para ler outra de suas 'obras-primas'."

"Recusei seu original para seu próprio bem. Sim! Sim! Para seu próprio bem. Seu estilo denuncia sua juventude".

"Nossa comissão de leitura é aberta, é tolerante, mas... não há o que fazer: seu manuscrito não agradou, não gostaram dele... "

"Fiquei enojado com essa obra fedorenta e pavorosa que o senhor ousou qualificar de romance."

Longo caminho entre a pena e o prelo, entre a cena e o aplauso, entre a "demo" e o disco.

Isto remete-me a uma questão recorrente em sala de aula nos últimos quinze anos em que estivemos envolvidos com as questões que transpassam os campos da arte, da comunicação, da cultura e do marketing * - se temos e discutimos obras artísticas relevantes que experimentamos, isso deve-se à argúcia, sensibilidade, senso de oportunidade - ou até, sei lá! - uma questão de cara-ou-coroa que se deu, necessariamente, fora da obra de arte em si.

Explico melhor: o artista, seja ele um poeta, autor literário, ator ou roteirista, pintor ou dramaturgo, diretor de cena ou cineasta é alguém que cria por absoluta necessidade intrínseca. O músico, o escultor, o bailarino - o artista criador, em geral - faz sua arte fundamentalmente para si. Para sua satisfação pessoal. Por uma necessidade de comunicação em que ocupa invariavelmente o posto de emissor. E isso independente de haverem ou não "receptores". Seu "público" primordial é sua própria psiqué atendida no desejo de expressar-se. De dentro para fora. A partir de sua sensibilidade e leitura de mundo. Como disse Ezra Pound, "o artista é a antena da raça".

Muitos confundem o fazer artístico com necessidade de expansão de uma personalidade narcisista com endereço certo - o outro. Isto é parcialmente falso. É natural que analisemos - como público - a arte e suas manifestações a partir da performance das mesmas. Do aplauso - ou da vaia - da casa cheia ou do fracasso de público, da crítica favorável e transbordante ou do desprezo da mídia especializada. A alteridade é uma das questões que mais interessam àqueles que se dedicam a estudar o fenômeno da fruição das artes. Afinal, as obras de arte nos "falam" aos olhos, nos "tocam" o coração, "encantam" nossa mente.

Para Benjamin, com afeto.

Mas a arte autônoma - como definida por Walter Benjamin - , naquele very first moment do atelier, do estúdio caseiro, da escrivaninha de um Carlos Drummond de Andrade, provida de uma aura única, é obra privada que pode - ou não (e é disto que queremos tratar com mais ênfase) - ganhar o mundo, o público, a consagração ou o apupo da reprovação.

É sobre esta obscura e pouco conhecida fase que se dá entre o ponto final do romance ou do poema e sua publicação que repousa o mistério que atrevo-me a tentar trazer às claras, e que tem sido objeto de inúmeros colóquios, seminários e oficinas, tanto no espaço acadêmico quanto fora dele.

Como bem descreve Umberto Eco em seu fundamental "Obra aberta", a obra de arte encerra seu ciclo de vida quando fruída. Pouco ou nada valem o poema que morreu na gaveta, a sinfonia jamais gravada, o quadro encerrado no atelier para sempre. É preciso que o corpo de balé "aconteça" diante da plateia, que a ópera ganhe a estreia, os livros pelo menos a edição de lançamento e o roteiro o tão difícil financiamento para produção e distribuição.

É como a experiência por mim vivida a partir da doação do acervo de Manoel Maria de Vasconcellos à UERJ. No meio de toda aquela papelada havia dois originais: uma tese de livre docência que, apesar de aprovada com conceito "A", a PUC-Rio não editou e o manuscrito - inédito - de uma verdadeira teoria do comportamento do consumidor. Graças aos céus pude ser um elo na cadeia que levou esses textos da morte anunciada ao conhecimento público - ainda que singelo - pelas mãos da Conceito Editorial, a qual aceitou investir no incerto e dispendioso mercado editorial brasileiro. O primeiro livro, "Marketing Básico", lançado em 2006, teve sua edição esgotada - o que augura uma segunda para este ano. O outro, manuscrito em fase de editoração e revisão técnica, pré-intitulado pelo autor "Por que se compra", deve ganhar a luz em 2010. Vida longa aos - raros - empreendedores brasileiros da arte e da cultura!

Não me canso de citar também a recusa recorrente à minha proposta de levar disciplinas de produção às escolas de formação de artistas. Instituições como USP, UNICAMP, UNESP, UFRJ e UERJ esmeram-se em formar artistas mas nenhum perfil que se interesse em saber como o trabalho de atores ou músicos pode ser desenvolvido, não só como carreiras individuais mas também como proposta estética e produtiva de uma escola, institucionalmente. Vivi a experiência de ver a Orquestra de Música Brasileira (da qual tive a honra de co-participar em produção de espetáculos e gravação de disco) sucumbir sem qualquer apoio profissional ou profissionalizante da universidade que a viu nascer.

Outra história ou o senhor é o "famoso" quem?

Em São Paulo, ano 2000, por cortesia de um amigo jornalista e assessor de imprensa de importantes organizações, utilizei seu escritório contatando três dezenas de editoras a oferecer o manuscrito de minha tese de doutoramento desenvolvida na USP e versando, justamente, sobre marketing cultural. As respostas das editoras não poderiam ser mais iguais que as de uma secretária eletrônica onipresente: - o senhor é o famoso quem? Para em seguida emendar cortantes: - o senhor envia o seu original e nós temos seis meses para dizer se vamos ou não publicar. Nada mais burro, em minha opinião. Eles podiam estar diante de um mega seller! Piada. Mas hoje estou com o livro editado já há sete anos em uma casa editorial que prepara a terceira edição do livro proveniente da tese: "Marketing Cultural: das práticas à teoria".

Quantos livros maravilhosos deixaremos de ler porque sequer serão avaliados por uma editora? Quantos roteiros verdadeiramente originais (adaptados ou não de livros) jamais assistiremos na sala escura ou mesmo em vídeo porque sequer foram objeto de análise de algum estúdio? Quantas músicas de genuína qualidade deixaremos de ouvir porque nunca serão gravadas? E quantas peças jamais ganharão a cena? Lemos muito, ouvimos bastante música, vamos com frequência ao cinema, mas é inegável pensar que o que podemos fruir, mesmo em uma longa vida, é pequeníssima parcela do que o espírito humano já criou e ainda pode criar. Dessa angústia do não lido, do não visto, do não fruído, com alguma ironia, costumo dizer ser, este sim, caso que poderia dar "num verdadeiro suicídio alemão".

* O autor concebeu e coordena, na UERJ, os cursos "Marketing do Livro" (reciclagem em 30 horas), "Gestão e Marketing na Cultura" (aperfeiçoamento em 180 horas) e "Marketing Cultural: Teoria e Prática" (atualização em 75 horas), este último criado em 1994.
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