sábado, 23 de maio de 2009

"E ele diz que se chama Jonas..."

"E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria"

Zé Rodrix foi pra dentro da baleia por vontade própria
"Encantou-se", à Guimarães Rosa

Foi pra sua casa no campo guardar seus amigos, discos e livros
E nada mais

Quando morre um papa,
Honras espirituais

Quando morre um estadista,
Honras militares

Quando morre um escritor
Honras seculares

Que honras são devidas quando morre um roqueiro?
Dois acordes? Um "róquiem"?

O que dizer de um poeta que embalou gerações?
Que valeu?

Que relembrar de uma mensagem de amor, de positividade, de alegria
Num universo que - querem - rotula-se "do mal", esse tal de rock'n'roll?

Pois Zé Rodrix, Luiz Carlos Sá e Gutemberg Guarabyra são a trilogia de bem
Que o jornal diz ter criado o rock rural...

Mania de dar nome a bois...
Por mais rurais que os considerem, furaram discos aos milhões nas vitrolas urbanas

O que dizer da passagem do carioca Rodrix pelo paulistano Joelho de Porco?
Um dos melhores produtos da ponte-aérea, precursor de outro "praieiro", o Ultraje rogeriano

Ontem perdemos uma fonte de inspiração, mas o céu vai ficar mais animado
"No meio das lembranças do passado eu não estou sozinho..."

A letra toda de "Mestre Jonas"

Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
A baleia é sua casa, sua cidade
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
Que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas
Quando o tempo é mau, a tempestade fica de fora
A baleia é mais segura que um grande navio

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
Que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida
Até subir pro céu

sexta-feira, 8 de maio de 2009

E o público que se dane, de novo...

A história se repete.

Pouco mais de cem anos depois, um parlamentar brasileiro - o excelentíssimo sr. Sérgio Moraes, deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul - repete, em conteúdo muito similar, a filosofal máxima do magnata estadunidense William Henry Vanderbilt, que, em 1882, quando cobrado na imprensa sobre a qualidade dos serviços prestados por suas ferrovias, mandou esta pérola: "o público que se dane", dando, com este gesto, início à história moderna das Relações Públicas: em 1906, um jornalista seu conterrâneo, Ivy Lee, passava a oferecer aos jornais um serviço informativo inédito, divulgando informações empresariais julgadas por elas (e por ele, com sua experiência de redação), de algum interesse do público.

Lee explicava sua atividade dizendo "não fazemos jornalismo", inaugurando a era da preocupação das organizações com imagem institucional, algo que poderia ser trabalhado (não construído, note bem) com divulgação (honesta, de fatos) prestada por uma atividade nascente - a assessoria de imprensa - batizada public relations.

Relações Públicas

A evolução levou os grandes grupos empresariais a criarem internamente diretorias de public affairs para tocar todas as frentes em que uma organização precisa agir para conviver bem com a comunidade em que se instala - desde a vizinhança física até as autoridades municipais, passando pela clientela e, logicamente, pela imprensa.

Artur da Távola, parlamentar fluminense falecido há um ano, costumava dizer, não sem uma (grande) pitada de ironia, que "não existe opinião pública, mas opinião de quem publica". Foi exatamente nessa sutileza que residiu outra infeliz frase do deputado gaúcho; "vocês da imprensa batem, mas continuamos a ser eleitos". Separou ele, para defender seus interesses e atitudes, a opinião pública da ação da imprensa - que em nome dela se exerce. O jornalista brande no ar - com razão - não as suas convicções apenas, mas a dos seus leitores; afinal, o escriba escreve aquilo que buscamos ler. Se a "escritura" não vai muito ao nosso encontro, trocamos de assinatura e lá vamos nós atrás de outras fontes. Outros veículos, outros jornalistas.