sexta-feira, 8 de maio de 2009

E o público que se dane, de novo...

A história se repete.

Pouco mais de cem anos depois, um parlamentar brasileiro - o excelentíssimo sr. Sérgio Moraes, deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul - repete, em conteúdo muito similar, a filosofal máxima do magnata estadunidense William Henry Vanderbilt, que, em 1882, quando cobrado na imprensa sobre a qualidade dos serviços prestados por suas ferrovias, mandou esta pérola: "o público que se dane", dando, com este gesto, início à história moderna das Relações Públicas: em 1906, um jornalista seu conterrâneo, Ivy Lee, passava a oferecer aos jornais um serviço informativo inédito, divulgando informações empresariais julgadas por elas (e por ele, com sua experiência de redação), de algum interesse do público.

Lee explicava sua atividade dizendo "não fazemos jornalismo", inaugurando a era da preocupação das organizações com imagem institucional, algo que poderia ser trabalhado (não construído, note bem) com divulgação (honesta, de fatos) prestada por uma atividade nascente - a assessoria de imprensa - batizada public relations.

Relações Públicas

A evolução levou os grandes grupos empresariais a criarem internamente diretorias de public affairs para tocar todas as frentes em que uma organização precisa agir para conviver bem com a comunidade em que se instala - desde a vizinhança física até as autoridades municipais, passando pela clientela e, logicamente, pela imprensa.

Artur da Távola, parlamentar fluminense falecido há um ano, costumava dizer, não sem uma (grande) pitada de ironia, que "não existe opinião pública, mas opinião de quem publica". Foi exatamente nessa sutileza que residiu outra infeliz frase do deputado gaúcho; "vocês da imprensa batem, mas continuamos a ser eleitos". Separou ele, para defender seus interesses e atitudes, a opinião pública da ação da imprensa - que em nome dela se exerce. O jornalista brande no ar - com razão - não as suas convicções apenas, mas a dos seus leitores; afinal, o escriba escreve aquilo que buscamos ler. Se a "escritura" não vai muito ao nosso encontro, trocamos de assinatura e lá vamos nós atrás de outras fontes. Outros veículos, outros jornalistas.

6 comentários:

Telícia Cunha disse...

Impressionante, não sei porque mas mesmo depois de 100 anos ainda é para mim impressionante como a população é vulnerável a qualquer influência e uma atitude como a do nosso governante por muitas vezes é tida como heróica e corajosa, pois é sincero e falar o que pensa sem pensar em conseguencias.... É triste considerar a nossa realidade o que Artur da Tavola falava "não existe opinião pública, mas opinião de quem publica"; "vocês da imprensa batem, mas continuamos a ser eleitos", essa ainda é a nossa realidade. Temos 100 anos de relações públicas e ainda assim não sei até que ponto funciona sem influenciar, sem ser tendenciosa..
Quem me dera existisse o que foi criado há 100anos atrás "algo que poderia ser trabalhado (não construído, note bem) com divulgação (honesta, de fatos)". Temos hoje, informação tendenciosa de massa, que crucifica e absolve quem quiser (opinião de quem publucia) tornado isso a opinão pública!!! Quem sabe, um dia, com educação, inteligência, decência e cidadania possamos ter opinão própria, fazendo assim a opinião pública e não uma pública que torna a nossa própria opinião.

Marcondes Neto disse...

Artigo que recebi hoje, da lavra de Emir Sader, pergunta: "informar ou editorializar?"

Infelizmente - com pouquíssimas e honrosas exceções - temos uma imprensa tendenciosa e comprometida demais com interesses econômicos... confessáveis, porque claramente parciais.

A solução é uma só: "leitura crítica dos meios de comunicação" como disciplina obrigatória no ensino fundamental e médio. E esperar uma década (olha o Drucker outra vez aí, gente!), pois antes disso nada se modifica um milímetro que seja.

Unknown disse...

Vivemos numa era tecnológica tão avançada, que muitas vezes o que se cria hoje, torna-se obsoleto amanhã. Ainda assim, um conteúdo utilizado a cem anos atrás, se aplica nos dias de hoje.
É fato que a Opinião pública é divulgada por meios de comunicação como forma de tentar construir uma sociedade melhor, igualitária e principalmente democrática. Porém a Interpretação feita por alguns desses meios em certas situações tem o objetivo de defender interesses das próprias Corporações. É evidente que as principais emissoras deste país como a Record e a Globo têm usado o “poder” de comunicar que tem nas mãos em seu próprio favor, e isto é claro para todos.
A mídia atualmente consegue colocar alguém no topo e também derrubar, a Interpretação dos profissionais desses meios muitas vezes distorcidas, faz com que esses meios percam cada vez mais credibilidade junto ao Público. Cabe ao povo ser mais seletivo, nunca ficar preso a uma única fonte (as fontes de informações são tantas) e sim buscar sempre o entendimento e o esclarecimento para que, quem sabe nos daqui a cem anos, esse conteúdo se torne parte do passado.

Unknown disse...

O que difere o jornalismo das relações publicas é justamente a maneira que as informações chegam ao leitor. O jornalismo trata de fatos concretos, acontecimentos reais; onde o relações públicas busca publicar na midia os principais interesses dos seus clientes. Eles são pagos para divulgar e são conhecidos também como "criadores de imagens institucionais". Grandes empresas e muitos artistas possuem seu próprio relações publicas para cuidar da sua "imagem", divulgando apenas o que o que lhe interessam.
E é a partir desse trabalho de imagem que podemos citar o título: "E o público que se dane...", pois não sabemos mais se as informações são reais ou montagens de grandes empresas que fazem com que a gente acredite no que eles estão dizendo. Infelizmente, com a educação precária e com isso pouca informação da grande massa, nossos políticos se fortalecem a cada dia com uma imagem construída. O que a população lê é uma opinião formada e publicada por outra pessoa, e sem conhecimento para discutí-la acaba vivendo nesse mundo de mentiras.

Unknown disse...

O povo Brasileiro sofre com a falta de cultura ou seja de educação. Nao fomos ensinados a reclamar nossos direitos, mas sim aceitar de diversas formas que somos um povo pacífico e que vive hoje em uma Democracia.
A opinião pública neste pais nao vale nada , pois simplesmente nao emitimos nenhuma opiniao.
Quem tem opiniao tem que lutar para que sua opiniao seja escutada e se esta opiniao for partilhada por outros temos que exigir que seja aplicada.
O brasileiro fala de opiniao, mas nunca sai na " Rua " para lutar contra injustiças banais... Nós nao sabemos exigir nossos direitos e nao sabemos cumprir com nossos deveres.

Deixamos a opiniao pública nas maos apenas dos jornalistas... tenho certeza que se fossemos para as ruas reinvindicar nossos direitos , seríamos levados mais a sério!

Unknown disse...

A relação homem público, organizações, jornalismo e seus leitores continuam os mesmos. Mudam-se os tempos, o discurso, o diálogo e mesmo assim vemos o quanto está deteriorado essa relação.
Podemos até afirmar que algumas organizações voltadas para a informação conseguem influenciar mais que outras.
Mas não temos a mesma certeza quando se fala de imparcialidade. É verdade que qualquer publicação deve expor as duas ou mais faces do conteúdo a ser veiculado. E somente o jornalista sabe para que lado está pendendo o foco central do assunto.
Numa simples avaliação, quem será o culpado da manutenção desse processo? Será que somos nós leitores que não nos envolvemos, achamos ser “normal”, não criticamos, debatemos, ou será dos nossos políticos, organizações, ou os canais de veiculação que insistem em “usar” as pessoas para satisfação dos seus interesses? Fazendo assim, quais seriam os motivos para essas atitudes? Sensacionalismo, ganância, covardia, ou quiçá outros adjetivos que melhor identificaria.
E por último o agente intermediário, o jornalista, a editora, ou quem quer que divulgue a informação.
Não adianta enumerar, pois, não surtirá qualquer efeito se não partirmos para ação. Participar, criticar, observar, enfim, nos resta apenas fazer uma boa escolha. A informação é muito importante, mais que isso, é a capacidade de sintetizar essas informações traduzindo em conhecimento, senso crítico e sabedoria, além da vontade para promover as mudanças que tanto sonhamos.