segunda-feira, 17 de agosto de 2009

PGI (Partido da Grande Imprensa): mais do mesmo

Já tive - mas repito - a oportunidade de citar a inspirada frase do jornalista Aydano André Motta no último encontro ABERJE-Rio, comentando o fim da exigência de diploma de nível superior para o exercício do jornalismo: - o fim do diploma não vai alterar a rotina de seleção das grandes empresas jornalísticas do eixo Rio-São Paulo, mas de Niterói "pra cima"...

Sobre este tema, a coluna de Mauricio Dias, na Carta Capital desta semana, merece ser clipada na íntegra:

"IMPRENSA - 'A lei do mais forte'

Embora haja registro de crescimento expressivo da tiragem dos jornais pelo interior do país, o exercício do jornalismo independente, fora do eixo SP-Rio-Brasília, é ainda muito mais difícil.

Existem alguns bons exemplos, mantidos a custo de suor e lágrimas. É o caso do Jornal Pessoal, de Lúcio Flávio Pinto, 59 anos, jornalista e sociólogo. O quinzenário circula há 22 anos, com tiragem de 2 mil exemplares.

Lúcio Flávio Pinto foi homenageado na Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizada em Belém, em 2007, pela contribuição dada, em 40 anos de jornalismo, à discussão de temas e problemas da Amazônia. O JP desafia a cartilha da submissão. Denuncia grileiros, madeireiros e fazendeiros cujos interesses se cruzam com os da 'grande' imprensa local. Nove ações penais são movidas pelas Organizações Rômulo Maiorana (ORM), dona da emissora filiada à Rede Globo.

Em 2005, o diretor-executivo das ORM, Ronaldo Maiorana, agrediu fisicamente o jornalista. Em julho passado, Lúcio Flávio foi condenado a pagar indenização de 30 mil reais ao agressor e ao irmão dele, Rômulo Jr., por supostos danos morais. Foi proibido também de citar o nome dos Maiorana.

A comunidade científica, intelectuais e organizações da sociedade civil se mobilizam em defesa de Lúcio Flávio. A imprensa, autodenominada grande, silencia".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Desconstruindo" Kotler

Excelente entrevista com Philip Kotler (publicada na Revista HSM Management de julho/agosto, 2009). Muito lúcido e atualizado, o velho mestre aproxima-se de outro guru - Peter Drucker - chamando a nossa atenção para a necessidade de se pensar prospectiva e criativamente, por mais que o mundo se acelere.

"O que passamos hoje é fruto de decisões que tomamos há dez anos atrás", escreveu Drucker. Temos que dirigir os nossos esforços ao estudo de tendências e, portanto, à construção de postos de observação dessas tendências.

Uma outra constatação interessante: o conceito de que "menos é mais" citado na entrevista. Tal surto de consciência pode mesmo já estar fazendo marola no hemisfério norte - vale a pena ler Goleman em seu novo "Inteligência Ecológica", a propósito. Essa TEM que ser uma tendência levada em conta pelas empresas, sob pena de não se ter planeta para viver ou trabalhar em 2069.

Para finalizar, a rendição aos ditâmes do caos. Kotler vem de uma tradição acadêmica cientificista, determinista. Proferiu sua primeira definição de marketing há 40 anos - algo "cartesiana". Alvíssaras render-se, contemporâneo, à imprevisibilidade, à complexidade e ao indeterminismo do caos em que estamos imersos, inapelavelmente.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Você acha que os Mutantes se transformaram em mais um projeto solo de Sérgio Dias ou é um grupo de verdade? Internauta pergunta.

Da ovelha Dolly a X-Men

Desde o início, este re-início parecia muito próximo do fim. Por tudo o que fez, o coletivo denominado Mutantes, "geneticamente", nem poderia querer retornar a um estágio anterior. E clones, esses morrem cedo...

Com ou sem Darwin, mutações partem para sempre uma linha 'evolutiva'. O resultado, errático, pode ou não parecer-se com o estágio anterior. Anda por aí um vírus que atende pelo sintomático apelido "Influenza" que não deixa mentir. Ele é influenciado pelo genoma "animal" da vez...

Outra coisinha: o estágio "seguinte" à mutação pode parecer até "inferior", ou mais pobre, ou involução até, em relação aos 'ouvintes'. Quem ouve, mutado, ou mesmo se não mutou, pode não gostar da mudança do cantante-tocante...

Ando meio desligado

Quando a dupla Lee-Arnaldo deixou a banda, o Mutantes, obviamente, mutou. Para alguns acabou. Para outros - como eu - evoluiu, e muito. Progrediu - e produziu três álbuns antológicos ("Tudo foi feito pelo Sol", "Ao vivo" e "Tudo bem" - este último lançado como compacto duplo 'Cavaleiros Negros' por conta de alguns egos mineiros) do melhor que o rock progressivo tem de brasileiro, ao lado de bandas como O Terço, Som Nosso de Cada Dia e Sagrado Coração da Terra.

O casal Yoko-Ono parou, petrificou. Não mutou mais. Lee/Yoko casou-se com o jabá Tutti Frutti e Arnaldo/Ono foi com o cônjuge curar-se no mato.

Ovelhas negras

Jabaculê colhe frutos até hoje de sua opção não-mutante. Em 2019 não teremos um especial de fim de ano RC 60, mas um RL 50. Ono retoma o controle de Loki porque Loki sempre foi Loki mesmo; o Syd Barrett tupiniquim.

Quem continuou mutante, mutando e - por isso mesmo - gramando por aí, foi Sérgio Dias Baptista - um dos mais brilhantes guitarristas do planeta. Infelizmente, caiu na cilada "global" e serviu de carne fresca por uns meses. Oxalá largue tudo isso - a Som Livre inclusive - e continue mutando e produzindo os CDs que nós, seus fãs, nunca deixaremos de encontrar, comprar, ouvir e aplaudir parados, petrificados.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A descoberta da pólvora... pelo jornal O Globo

Fantástico trabalho investigativo do jornalismo global: os sabujos repórteres do (planeta) diário descobriram que no setor da produção cultural há amadorismo, informalidade e até más práticas contábeis! E mais! A própria Infoglobo, empresa controladora do jornal, também fora vítima desse 'esquema'!!!

Como diria Bussunda: - Fala sério...

Depois de anos dando barrigudas matérias sobre Economia da Cultura, Indústrias Criativas, PIB da Cultura, O Globo finalmente descobriu o óbvio: não há uma Economia (com "e" maiúsculo) da Cultura. Não há um setor (formalmente reconhecido pelas estatísticas) como "Indústria Criativa". Não há, desde 1998, quando a Fundação João Pinheiro pesquisou o segmento da produção cultural, dimensionando sua participação no PIB em 0,8%; qualquer outra verdade sobre "PIB da Cultura".

Nada além das bajulações de sempre


Este jornal, sempre atrás da propaganda das entidades patronais da indústria, do comércio e dos serviços, sempre deu guarida aos "n" seminários que "discutiram" esses setores. Pura perda de tempo. E não é que uma senadora presente à posse do enésimo presidente da FUNARTE regozijava-se de um setor "que movimenta 8% do PIB?!". Talvez ela devesse pautar seus discursos menos por clipping de assessoria e mais leitura do website do próprio MinC.

Como é normal no Brasil, à primeira estatística séria de um segmento não seguiu-se a segunda, a terceira etc. etc. etc. E vivemos de chute em chute, de discurso disparatado em discurso disparatado. Não foi à toa que Gilberto Gil pediu o seu boné. Certamente tinha coisas mais úteis que o MinC para cuidar.

O que a cultura - como qualquer segmento - necessita é de atenção qualificada dos governos. Em todas as esferas. Precisa-se de qualificação. Precisa-se de profissionalização. Precisa-se de formação de bases de dados honestas e permanentes. Talvez assim, depois de alguns anos, possamos encher o peito e falar em Economia da Cultura.

Por que, por ora, o que há no Brasil da parte das "autoridades" do setor é, tão somente, economia de cultura.