sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mensagem para a virada 2010/2011.

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Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,

Com outro número e outra vontade de acreditar que daqui p'ra diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Última - culta e feia - pá de cal no ensino do jornalismo (nativo).

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Se há unanimidades com as quais tenho me deparado nos últimos 25 anos de atuação na esfera da Comunicação Social - seja como profissional, docente ou pesquisador - estas são: a cantada "isenção" e a decantada "independência" das redações em relação aos departamentos comerciais nas empresas jornalísticas.

Embora seja cada vez mais nítida a influência dos "negócios" sobre o noticiário, principalmente em relação ao que NÃO é publicado, os coleguinhas jornalistas insistem num ar blasé quando dividem corredores com publicitários e relações-públicas, tanto na academia quanto nas empresas.

Há vinte anos, Ben Bagdikian já nos alertava quanto ao monopólio da mídia, título, aliás, de seu livro. Na mesma época a BBC produziu o documentário "Beyond Citizen Kane", relatando o quanto o poder das 99 "organizações" de Roberto Marinho (o grupo Silvio Santos tem 44 empresas) "cartelizava" o respeitável público: à moda fordista, "você pode assistir a qualquer tipo de programa, desde que seja na Globo ou em qualquer outro canal Globosat", ou "você pode escolher qualquer jornal, desde que seja O Globo ou Extra ou Diário de São Paulo ou Valor Econômico", e, ainda "você pode ouvir qualquer rádio, desde que seja CBN, Rádio Globo ou Beat 98" etc. etc. etc. Juntando à massa, ainda, Globo.com, Som Livre, Época, Editora Globo e Globo Filmes, sobra, de fato, pouquíssimo espaço do nosso dia para chegar à janela e respirar, digamos, um ar menos "globalizado".

Cai o muro

E então, a inefável ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), lança seu curso de Jornalismo. Cairá, pois, a divisória entre a redação e o departamento comercial, uma vez que o programa do curso inclui eixos "pérolas" como "comunicação com o mercado" e "comunicação empresarial".

E, também, por que não? Lança-se, também, junto e misturado, um curso de pós-graduação, "totalmente voltado às necessidades do mercado".

Os experientes botões do paletó de Mino Carta decerto quedarão pasmos diante do "corpo docente", composto de "medalhões", entre patrões e bosses de redação que, claro, conhecem muito de negócios.

A revista da ESPM pergunta em sua capa:

- Para onde vai o jornalismo ?

Arrisco um palpite:

- Com esse tipo de proposta... vai direto para a caixa registradora dos anunciantes.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Reputação é a bola da vez. Na gestão e em tudo o mais.

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Matéria muito interessante publicada hoje, no jornal O Globo, dá conta de que vivemos numa sociedade digital. Digital mesmo, na qual "falamos pelos dedos" - nas palavras de Thomas Pettitt, professor de História da Cultura na Universidade do Sul da Dinamarca.

Para ele, que toma emprestada a expressão "Teoria do Parêntese de Gutenberg" do colega Lars Ole Sauerberg, estamos saindo de uma revolução de mais ou menos uma década, na qual a imprensa e os livros estão saindo de cena, dando lugar a um mundo pré-Gutenberg, de tradição oral e comunicação falada. Digitamos rápido como falamos. Editamos rápido como pensamos.

Essa teoria, de fato, explica algumas coisas; além da "analfabeta" e verborrágica internet; o fortalecimento do meio rádio e das relações públicas - uma vez que, em tempos de comunicação falada, a credibilidade da "fonte", ou seja, a reputação do falante, passa a ser "chave" -, termo usado pelo próprio Pettitt.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Depois de vinte dias de férias... poema concreto.

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Um admirável panorama "novo" nas manchetes. Em sete linhas:

Presidenta.

Cristina s/ Kirchner.

Piñera fazendo besteira.

Quer Evo saída para o Pacífico.

Obama sucumbindo ao Tea Party.

PMDB pressiona p/ cargos e influência.

Como indagaria Caetano: quem lê tanta notícia?

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Serra, os gatos, as rações, Dilma e a mídia.

Em seu texto publicado hoje, à página 6 do jornal O Globo, Demétrio Magnoli presta inestimável serviço à inteligência. Algo raro na mídia. Mas - como diria Caetano - quem lê tanta notícia?

Poucas vezes concordo com as teses de Magnoli, principalmente quando no Painel, do William Waack, mas dessa vez...

Trata-se de uma crítica contundente à metodologia utilizada pelos institutos de pesquisa de opinião por ocasião das campanhas eleitorais. Na verdade, ele desvenda o erro metodológico da amostragem por quotas, algo engessado e que induz a erro... será que Ibope, Vox Populi e Datafolha estão querendo induzir alguém?

Intermezzo

Haveria que introduzir-se a amostragem probabilística nas pesquisas eleitorais. Essa metodologia produziria amostras aleatórias, muito mais afeitas ao universo pesquisado, mas cujo levantamento é bem mais caro.

Então ficamos assim; com o método barato. Barato e ruim. Mas quem se importa?

Isto remete-me a outra questão que é também problema de estatística básica: a eficácia da mídia - e, portanto, a pertinência de seu custo.

Segredo de polichinelo

No Brasil, pagamos o preço da mais cara mídia do mundo, em dólar. Aliás pagamos também a mais cara banda larga (larga?) e o maior custo por minuto nas ligações de telefonia celular. Sempre em dólar.

Ganhamos o maior salário em dólar? Temos uma boa banda larga? Temos uma mídia de qualidade? Respostas com Mister M...

A explicação - para o caso da mídia - é um axioma. Vende-se 30 segundos no intervalo do Jornal Nacional por 200 mil dólares simplesmente porque o Ibope afiança que o comercial será visto por aproximadamente 60% do share da faixa (?!) E que isto significa vendas de 1 milhão de sabonetes no dia seguinte, 200 mil sacos de ração para gatos ainda durante o programa + 20 mil automóveis no feirão do fim de semana.

Êita estatística tosca! Não é impunemente que o Brasil apresenta os piores índices de aproveitamento na aprendizagem da matemática. E viva as Casas Bahia, que só precisam oferecer uma prestação que caiba no bolso. O resto é p'ra Meirelles...

Pano rápido.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Opinião pública não! Opinião de quem publica! (apud Artur da Távola).

A edição do jornal O Globo de hoje abre uma janela sobre a discussão - inexorável - do tal de "controle social da mídia". E o ataca, claro.

Ironiza a viagem do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, a países que têm estruturas - conselhos ou agências reguladoras - que exercem essa função em nome (e por delegação) popular. Como bem diz o ministro: "Se sair da ideologia, todo o resto fica mais fácil. Temos um primeiro nó a desatar: as pessoas entenderem que regulação faz bem para todo mundo. Faz bem para as telecomunicações porque vai dar segurança jurídica. Faz bem para a radiodifusão porque fornece parâmetros para ela se mexer e coloca alguns limites à ação dos outros que são mais fortes que ela. E faz bem a sociedade".

Ministério das Comunicações - poderoso (e sempre com o PMDB no comando) -, cuida de satélites, antenas, tomadas e... concessões (quase sempre nas mãos de políticos)

No que toca à sociedade, o ministro refere-se ao ganho que pode advir em termos de qualidade e respeito à diversidade: "No Brasil. a Anatel faz um belo trabalho, mas cuida apenas do espectro [da radioteledifusão], enquanto que, na Europa, é comum ter agências que cuidam do conteúdo. Não como censura, mas para dizer que há de se ter produção regional e independente, regras de equilíbrio", afirma Franklin Martins.

No Canadá e na Alemanha, a televisão submete-se a conselhos com mais de cem membros escolhidos no seio da sociedade civil, representando todos os segmentos que, na iminência de ser atingidos, podem propor veto a determinado programa. Um lixo como Zorra Total, por exemplo, com conteúdo homofóbico e de desrespeito à mulher, seria um sério candidato a sair do ar. E que tal a exibição, iniciada segunda-feira última, 4 de outubro, no Canal Viva, de uma telenovela "das oito" (Vale Tudo) no horário das doze horas? Cadê a classificação indicativa de faixa etária?

Nos países civilizados, poderoso é o ministério que trata de conteúdos, mas o MinC brasileiro partido nenhum quer (aliás, o PV aceitou e, com Gil, até avançou)

No que toca "aos mais fortes", o que o ministro quer dizer é que as empresas de telefonia - agora ávidas por produzir TV - são de longe mais poderosas que a indústria da radioteledifusão. No ano passado, no Brasil, as teles ganharam 13 vezes mais que o setor de mídia.

Uma reorganização seria do interesse das empresas: "Hoje em dia, você tem uma coisa chamada convergência de mídia. Nosso marco regulatório é de 1962. As empresas de radiodifusão no Brasil faturaram, em 2009, R$ 13 bilhões, enquanto as de telefonia faturaram R$ 180 bilhões. Sem regulação que estimule a competição, as empresas serão atropeladas por uma jamanta", completa o ministro.

Que os senhores da mídia - as famiglias - ponham suas barbas de molho; com Dilma ou com Serra, o controle dos big brothers no Brasil (e não mais a influência nefasta da audiência pelos BBBs da vida) finalmente virá. Para elevação do nível cultural da nação.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Trivial variado... e ruim!

A leitura do jornal, hoje, deixou-me enjoado. Trocando uma letra de lugar, a palavra poderia ser outra - enojado. E ainda assim correponderia ao meu estado.

Vamos aos fatos (ou melhor dizendo, às versões):

Começo pelo editorial OPINIÃO "Caso Erenice tem de ser passado a limpo", que toca numa escolha que representaria anos de avanço (ou atraso) no trato do interesse público em nosso país:

Fixo-me numa só palavra, encontrada (ou perdida) na seguinte frase: "A empresa, relatou Quícoli, não aceitou a pedida de Israel, e o lobby se frustrou".

Editado e impresso assim, não em caracteres itálicos, o termo anglófono lobby parece até algo muito natural, conhecido dos leitores. Não o é. E os poucos que compreendem a expressão associam a palavra a uma outra, saída do vocabulário "lulês": maracutaia (esta, até que fosse pronunciada por Lula, eu é que desconhecia).

Seria bom que homens e mulheres de boa vontade - sobretudo aqueles que querem o poder (qualquer um desses três poderes; executivo, legislativo e judiciário) - e também, principalmente, os representantes do quarto poder (a imprensa, ou a mídia, como queiram), em torno de suas associações (ABERT, ANJ, ABP), pressionassem pela regulamentação do lobbying - uma atividade que em países mais civilizados que o Brasil emprega gente séria há décadas.

"Décadas" também é a medida do tempo que uma emenda constitucional no sentido de legalizar a atividade e seus players, de autoria do parlamentar Marco Maciel, tramita no Congresso Nacional. (Os "lobistas" seriam conhecidos, teriam formal acesso aos lobbies dos palácios legislativos e executivos - daí o nome da coisa - e responderiam transparentemente à sociedade, mesmo porque acossados seriam pelos "lobistas" concorrentes).

E não há lobby que consiga fazê-la andar.

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Prossigo: agora o texto de Luiz Garcia (a quem conheci pessoalmente como convidado a evento acadêmico no Departamento de Comunicação da Universidade Gama Filho que, à época, eu dirigia).

Acabo de completar 35 anos de "carteira assinada" mas, com todo o respeito, é o Luiz Garcia que, acho, devia se aposentar. Seu texto "Rancor e Paranoia", n'O Globo de hoje, é de espantar até o mais renhido seguidor da ideologia "global", na sanha de "bater" em José Dirceu e no PT.

O próprio autor entrega que não devia tê-lo escrito: "Quase não vale a pena rebater, mas não custa lembrar que informar não é um poder, mas uma obrigação dos meios de comunicação. E que o direito de resposta é regulamentado em lei".

Lástima! Três impropriedades:

1) A "pérola" proferida por Dirceu ("a mídia abusa do direito de informar") nem merecia tamanha repercussão, mas o velho jornalista resolveu dar mais um pouco de espaço à besteira.

2) A regulamentação do direito de resposta desapareceu com a queda da Lei de Imprensa, "tornada sem efeitos em sua totalidade" pelo Supremo Tribunal Federal em 30 de abril de 2009, quando a considerou, por ter sido editada em 1967 - plena ditadura - inconstitucional.

3) Confunde meios com veículos. De propósito. Os meios são os jornais, as revistas, as emissoras de rádio e TV, a telefonia, a internet - algo geral e genérico, por definição. Veículos, esses sim, são específicos, têm nome e sobrenome. São empresas: O Globo, Época, Rádio Globo, TV Globo, Vírtua, Globo.com.

E mais!

Continua o velho homem de imprensa: "E é brincadeira falar em monopólio da informação - mesmo numa cidade com apenas um grande jornal, como acontece agora no Rio - quando, além da TV, do rádio e da imprensa, a circulação de informações pela internet expõe a opinião pública a uma massa de fatos e opiniões como nunca antes na história do planeta".

Chamem a geriatria! E tome mais três pílulas:

1) O próprio jornalista admite o - triste - monopólio "global", sobretudo no pobre Rio de Janeiro. E esquece que as mencionadas "opções" da TV (Globo e Globonews), do rádio (CBN, Rádio Globo, Beat 98) e da imprensa (Extra, Valor Econômico) também são "das organizações", seus patrões.

2) Como já ensinara Artur da Távola, "não existe opinião publica, mas opinião de quem publica". Afirmar a diversidade de opiniões baseado na cobertura, acesso e uso da internet é sinal de insanidade. A internet está em 20% dos lares brasileiros, enquanto a TV cobre 99%. E monopólio da informação não se baseia só na escandalosa "propriedade cruzada" (coisa proibida nos países civilizados; um mesmo grupo estar presente em mais de uma região geográfica e possuir veículos em mais de uma modalidade de meios de comunicação), mas na fatia das verbas que mantém a mídia, o tal "bolo" publicitário, do qual "as organizações" garfam 60%.

3) Se assim não é, se o editorialista acredita que a (sic) internet tem o mesmo poder que O Globo, proponho que passe já a escrevinhar em um blog com seu nome, fora de qualquer "grande jornal". E esperemos para comparar, depois, o tamanho da repercussão de suas ideias.
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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Xexéo, esqueça o marketing! Carta aberta ao Artur.

Parodio de propósito o mestre Mitsuru Yanaze, autor do célebre artigo (de 2001) intitulado "Esqueça o marketing!".

Pois é, Xexéo, considero um desserviço aos nossos jovens (e aos seus também leitores não tão jovens assim) o achincalhe e a gratuidade com que você tem se referido ao marketing - essa atividade essencial para mim, para você e para o jornal que nos une - você escriba e eu leitor.

Está certo que maior achincalhe é a pura e simples existência de candidatos como Eurico-ficha limpa-Miranda, Barriga do Açougue, Zezinho Orelha, Tutuca e Zoinho. E o que eles fazem - ou deveriam fazer bem - é um tal de marketing político-eleitoral, como ensinou o saudoso mestre Cid Pacheco.

Mas o que acontece de verdade nada tem a ver com marketing, como ensinava Manoel Maria de Vasconcellos, simplesmente um processo (ou sistema) de distribuição de riqueza e bens, baseado na diversidade de agentes-de-oferta e na livre escolha do consumidor (em oposição ao sistema da economia planificada estatal).

O que Zés e Silvas nos impingem tem só um nome: propaganda - e do tipo enganosa.

Talvez porque um jornal viva de propaganda fique difícil achincalhá-la. É mais fácil chutar o cão do marketing, esse termo inglês metido a besta.

Mas em defesa do marketing coloco-me eu, que junto de centenas, milhares de colegas docentes, pelo Brasil inteiro, dia-sim-e-outro-também, perseguimos o estudo, a pesquisa, o conhecimento e o aprimoramento das técnicas que fazem a vida urbana que levamos - e gostamos - ser como é. Cheia de opções e de soluções para as mais corriqueiras necessidades e os mais ousados sonhos - graças ao marketing.
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Até breve, meu predileto tio.


Nonito.

Privado de sua presença física - a qual aliás muito me entristecia nesses anos de doença - cabe-me expressar o quanto Antonio Villar Ozón representa em minha vida.

A começar pelo nome. Sempre Nonito, muito depois é que fui descobrir-lhe o nome de batismo - Antonio - mesmo de meu santo de - assim ouso dizer - devoção. E de longa tradição em minha família (a devoção).

Meu tio Nonito iluminava os ambientes. Sua presença era sempre central - muito explicando a tristeza de vê-lo quieto, ultimamente, só observando...

Sua voz e seu olhar transbordavam calor humano, carinho, ânimo e alegria. Sua calva reforçava a vocação para tio - aquele que nos leva pela primeira vez ao Jardim Zoológico, ou à Quinta, como ele dizia...

Sempre solícito. Sempre disposto. E muito, muito trabalhador. Ensinando a todos nós, sobrinhos, com seu exemplo. De sol a sol, literalmente, de terno e gravata impecáveis - no calor do Rio de Janeiro. Dirigindo o seu Fusca, ou a Variant, depois o Corcel - sempre estalando de bem cuidados. Comprei-lhe um dos carros - o primeiro Passat. Fazíamos fila para comprar um carro usado do tio Nonito.

"Nipônico", trabalhou 31 anos numa mesma empresa (exatos 31 anos também lá cumpriu minha tia Neusa, sua esposa) - o SARSA (Silva Araújo Roussel S/A) e desvendou para mim a indústria farmacêutica, onde comecei a minha vida profissional no Rio e com pessoas que o conheciam e o respeitavam. Seus ex-chefes do SARSA eram, então, meus chefes no Farmos-Espasil - Lívio Cuzzi e Walter Mesquita.

De uma organização sem par, ensinou-me menino que um quarto de empregada também pode ter outros usos - como um escritório, por exemplo - igual ao que ele mantinha na casa do Riachuelo. (Dali em diante ocupei os quartos de empregada das casas em que moramos em São Paulo. Na Vila Olímpia e no Campo Belo).

Sua escrivaninha era de dar inveja. Havia de tudo lá, e suas mãos delicadas iam precisas atrás de clips, elásticos, fichas de médicos preenchidas com letra de professor.

Era exemplo nas menores coisas. E tocava piano ("sua" música foi também a minha favorita), cantava, dançava. Animava as festas da família, os Natais (era o Papai Noel da sobrinhada) e as viagens que fez, como ninguém, na família.

Não teve filhos naturais, mas teve muitos "sobre-naturais". Conosco passava as férias. Descobríamos a Cidade Maravilhosa em seus passeios; à praia, ao bondinho do Pão de Açucar, ao Corcovado e ao Maracanã, torcer pelo Fluminense. Por causa dele, no Rio de Janeiro, sou tricolor de coração...

Quando passei no vestibular ganhei de Nonito e Neusa minha primeira longa viagem. Ao sul do Brasil. Foram duas semanas inesquecíveis com os tios e a saudosa prima Eloá.

Ganhei deles a minha primeira máquina fotográfica e muitos presentes, sempre especiais. Nunca esqueceram um aniversário. De ninguém.

É claro que não se pode falar de Nonito sem Neusa - minha tia querida que equilibrava o coraçãozão do tio com uma disciplina à la Manduca, meu avô. Sempre de pé. Empertigada. Lá vai a tia Neusa por ordem na casa...

E foram 62 anos (em 92 de vida dela) de um casamento feliz - maior exemplo de que é possível conviver. E isto ser bom.

Eram dupla imbatível nos jogos de buraco. E donos do quarto mais invejado da casa - o único com ar refrigerado. Dormi lá, de carona, algumas vezes. Mereciam a mordomia, pois davam todo o suporte aos meus avós. Ali, naquela casa, eram quatro. Nunca pensei em meus avós sem os moradores do andar de cima do sobrado, onde também morei quando fui estudar na UERJ. Chegava às 11 da noite e sempre encontrava o meu prato de comida cuidadosamente pronto e já sobre a forma com água para esquentar em banho-maria.

Foi maravilhoso estar lá usufruindo quotidianamente de um ambiente de família, mesmo longe dos meus pais e irmãos, ainda em processo de mudança entre São Paulo e Rio. Uma vez aqui fomos morar no "sítio do Nonito", ou "Nosso Cantinho", na Rio-Petrópolis. Só aceitamos vir morar no Rio se fosse na casa que amávamos e passávamos todas as férias.

E também usufruíamos do apartamento do casal em Petrópolis. Amo aquela cidade por causa dessas estadas. Quantas luas-de-mel meus primos não passaram por lá...

Há muito mais. E outras memórias - sempre boas - virão e haverá sempre lugar em meu coração para este tio - esses tios - tão especiais: Nonito e Neusa.

Vida eterna em Deus, tio! Vida longa, tia! Vejamo-nos e convivamos no sempre.
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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Marcelo TAS brilha na UERJ.


Marcelo TAS, que dispensa apresentação, sempre brilhante pelo - ótimo - falar, sugere à moçada... ouvir.

Foi gratificante estar nos Diálogos Universitários com alguém que construiu uma carreira na comunicação engajando-se em iniciativas que só acrescentaram culturalmente - e na telinha da TV aberta! De Ernesto Varela ao Prof. Tibúrcio, do TeleCurso 2000 ao Vitrine. E, agora, o sucesso barulhento do CQC.

Tenho uma afilhada em São Paulo que foi educada com doses maciças de TV Cultura. O TAS estava lá. Um TeleCurso mais cultural - por isso mais educativo. E o TAS presente. A irreverência de quem consegue criticar "por dentro" o jornalismo nosso de cada dia. E os nossos ridículos políticos... custe o que custar.

Na Paulista há (ou havia) uma lanchonete chamada "O engenheiro que virou suco". Pois o TAS é o engenheiro que virou comunicólogo - e dos bons. Sua palestra enriqueceu e fez pensar os que estiveram presentes, hoje, na Capela Ecumênica da UERJ.

E, além de Sampa, ainda temos em comum o mesmo admirável: Arthur C. Clarke!

Palavras-chave

E de repente aquele momento acabou. Ficaram quatro máximas do TAS à galera uerjiana: ouvir o que a rede social sussurra (ou, às vezes, grita), não temer o digital tão fast, educação-educação-educação, e last but not least, observar as crianças, pois elas são o novo. Pra onde será que elas vão?
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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tragédia de erros...

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A edição de ontem, 02/08, do jornal O Globo, deu voz às duas correntes que debatem a questão crucial da revisão do marco legal dos direitos autorais no Brasil: o MinC e o Ecad.

Duas siglas não bem conhecidas e tão mal amadas.

O Ecad vem de uma fama nada benfazeja. O MinC pouco além vai de uma estrutura pobre, ínfima e incompetente diante de sua missão. O roto e o esfarrapado.

Pirataria e outras questões de fundo na matéria nem pensar...

A verdade é que o MinC faz que ouve, faz que ausculta, faz que "democratiza", mas, na verdade, executa uma política pequena, de gabinete, de bunker. Foi assim nas conferências "Cultura para Todos". Não é diferente com a questão do direito autoral.

A tal "flexibilização" que o MinC advoga a título de "acesso" é tão absurda quanto a arrogância constitucional que garante - e não cumpre - os "direitos culturais" ao cidadão brasileiro.

Sou mais o Ecad.

Por gentileza, tragam o MEC de volta (a sigla, teimosa, nunca deixou de existir).

Uma sugestão para o futuro presidente do Brasil: refundir Educação e Cultura e acabar com a inércia, a ineficiência e os cabides do (ainda) desimportante(*) Ministério da Cultura do Brasil.

(*) Jornal do Brasil (07/02/1999) - Caderno B - Christian Klein et al. Ministério questionado. Rio de Janeiro. P. 4. “A confusão de informações truncadas e declarações infelizes que se seguiram ao anúncio das modificações nas estratégias políticas do Ministério da Cultura teve seu lado bom. Há muito tempo não se questionava tanto o papel de uma pasta considerada de segunda classe pelo alto escalão de Brasília. O diretor de teatro Aderbal Freire-Filho vai logo aumentando a temperatura da fogueira: para ele, mais do que discutir a função do Ministério da Cultura, a polêmica serviu para se questionar a real importância do cargo. Aderbal lembra que, durante a reforma ministerial que se sucedeu à reeleição de Fernando Henrique, os partidos se engalfinhavam para ocupar o maior número de pastas. O único ministério que não despertava a gula dos políticos era justamente o da Cultura. ‘Além de verbas minúsculas, o Ministério da Cultura padece de desimportância política. É o próprio presidente da República que reconhece esta desimportância ao tratar o ministério como um enfeite, que tanto faz como tanto fez’, diz. O também diretor Amir Haddad concorda: ‘Um ministério pouco respeitado pela cúpula do poder não consegue nada. Vamos ser sinceros: nunca houve planejamento ou política cultural no país. Há definição de táticas e políticas, mas só se discute política econômica. Política cultural no Brasil somos nós pedindo dinheiro para nossos projetos. E isso é muito pouco’. . . ”.
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sábado, 24 de julho de 2010

Habemus quorum !

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(reproduz 'post' ao Horizonte RP)

Caros colegas no Horizonte RP,

Outro e alto o nível das provocações e réplicas. Diferente de outros tempos.

Acredito que há avanços, embora haja ainda muito por fazer. O importante é tomar a iniciativa.

Somos escribas. Nossas armas são as letras. Somos uma profissão que existe porque existe liberdade de expressão e democracia. Fora disso Relações Públicas não há.

Mas - sempre tem um mas -, é preciso ir adiante e fazer! (Parece que ouço o querido - e meu - inspirador Paulo Caringi, que infelizmente se foi em 12 de maio último, dizendo isto em alto e bom som).

Ação!

No momento posso escrever isto com tranquilidade porque foi o que fiz, junto a 13 colegas errepês-amigos, apresentando a chapa que agora gere o Conselho na 1a. Região.

E gostamos do que vimos e ouvimos em duas oportunidades de encontro do Sistema CONFERP havidas neste semestre. Foi decidido e teremos uma assessoria de relações públicas especializada ajudando os membros do Conselho Federal a dar mais visibilidade às nossas ideias - mas não se pode negar a dificuldade. Quase sempre nossa "fala" critica anunciantes e donos da mídia e é fato antigo: "na mídia não se fala de mídia, muito menos se fala mal do patrão e de anunciante".

Há um esforço em andamento, também, para melhorar o nosso portal, a comunicação e a interação com os registrados. Sabemos que a web e as redes sociais chegaram para ficar ao universo das comunicações e é preciso – como sempre ensino em sala de aula – uma “presença competente na internet”.

Em cada região, conclamo os colegas a visitarem seus Conselhos (sei que isto é difícil quando a região é enorme, abrangendo vários estados - um complicador de fato) e oferecerem ajuda. Digo por experiência: só com os Conselheiros e funcionários não se faz mais do que lidar com os carimbos, os processos, os impostos, os pagamentos, os computadores, os condomínios, as convocações, as duas reuniões por mês, a papelada infindável. Tornar as conversas arejadas e amplas, discutindo questões filosóficas, éticas - algo que felizmente temos agora no Rio de Janeiro, é muito difícil quando se trata de uma autarquia; um tipo de organização eminentemente burocrática.

Outra coisa: os nossos assessores jurídicos federal e regionais estão há 60 dias pelejando para, legalmente, abrir mais o registro profissional. O que é isto? Levando em conta as decisões já tomadas no passado, no âmbito do Sistema CONFERP (Parlamento Nacional de Relações Públicas – gestão Sidinéia Freitas), considerar os pós-graduados em cursos que abriguem, em relevante carga horária, os conteúdos de conhecimento em Relações Públicas (e também os egressos de novos cursos autorizados pelo MEC como de nível superior - tecnólogos - idem pertinentes). Este é o nosso desafio maior. Turning point. Divisor de águas. A história há de dividir-se em "antes" e "depois" desta medida, que virá por uma Resolução Normativa.

Momento de decisão

Last but not least: estamos fiscalizando, sim. Aliás, essa é nossa razão de ser. Na 1a. Região foram diligenciados 32 processos neste primeiro semestre de gestão. O próximo relatório mensal (julho) do CONRERP/RJ (vide nosso blog no site www.conrerp.org.br) dará conta disso.

A campanha de valorização pelo CONFERP é algo permanente. E depende de cada um de nós, de cada curso, de cada microempresa que surge de nossas salas de aula, de cada novo registrado. É sabido: os profissionais mais jovens, o "sangue novo" pode (e deveria) dirigir alguma parcela de energia ao esforço classista. A 2a. Região (SP/PR) experimentou isto quando abriu o Conselho a jovens registrados voluntários colaborando com as tarefas quotidianas do Conselho.

É isto. Devemos unir nossa vontade de mudar com a mudança de nossas ações. O mundo não muda por nossa causa. Nós é que mudamos o nosso approach e, assim, podemos alterar pequenas frações da realidade presente. A tão falada “inovação” é conquista perseverante e quotidiana e não um “estalo”. Peter Drucker ensinou que "o que nos acontece hoje é fruto de decisões que tomamos há uma década". Temos que olhar para 2020 e ter uma visão da profissão altaneira, de pé. Para não ficar no resmungo circular que só serve àqueles que não acreditam na comunicação excelente - nosso objetivo maior.

Saudações públicas e relacionais!
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sábado, 3 de julho de 2010

Em Tempo: mais sobre a "novela" das Relações Públicas.

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Matéria postada no website abril.com deu conta da polêmica envolvendo - mais uma vez - a citação indevida da profissão de relações-públicas, desta vez na telenovela "Passione", de Silvio de Abreu.

Muitos comentários de profissionais de todo o Brasil engrossaram o repúdio a esse desserviço, a essa desinformação.

Entre tais comentários acham-se, ainda, aquelas opiniões que confundem o papel de um Conselho Profissional com o de um sindicato ou associação privada.

Para esclarecer esse tipo de questão, a Secretaria-Geral do CONRERP/1a. Região manifestou-se, nesta data [30/06/2010], no mesmo espaço (embora já censurada pelo site *), como segue:


Quem deve promover e defender a nossa profissão? Todos e cada um de nós, relações-públicas. Somos minoria? Isto é reflexo de nossa sociedade, que ainda demanda pouco a cidadania corporativa, conceito explicitado por Bertrand Canfield já em 1950. Esta realidade vai mudar? Sim, um país que se quer quinta economia do mundo não pode prescindir de boas relações públicas.

Conselhos profissionais não têm como missão divulgar o que quer que seja – a não ser, educativamente, a sua própria missão: regulamentar e fiscalizar profissões. Conselhos profissionais também não têm como missão proteger ou promover profissões. Estas são missões de sindicatos e associações.

Quando há má conduta médica, recorremos ao CRM. O mau advogado – quem o pune pelos desvios? A OAB (apesar do nome diferente, um conselho federal com suas representações regionais). O viaduto desabou? Queixemo-nos ao CREA. Há, sempre, no caso de profissões regulamentadas, responsabilidade em jogo.

Conselhos profissionais existem para proteger a cidadania do mau exercício profissional na área em que atuam. E, também, para coibir o uso indevido da imagem e da denominação profissional – como aconteceu neste caso da telenovela “Passione”.

E quando sentimos que a comunicação feita por uma organização nos engana, nos ilude, nos induz a erro? E quando uma concessionária de serviço público simplesmente nega os fatos? E quando um órgão de governo divulga metas inatingíveis? Para finalizar: e quando uma organização sonega informação a seus acionistas e investidores, tornando-se não-transparente? Esses são casos para o CONRERP. A essas organizações será cobrado: – quem é o responsável pela sua comunicação institucional? Provavelmente, nos casos acima, não deve ser um relações-públicas, pelo menos um relações-públicas bem formado. É aí que entra em jogo o Conselho Profissional, notificando a organização, e punindo, se for o caso.

Para cumprir sua missão precípua de fiscalização, os Conselhos Profissionais contam com as anuidades de profissionais e organizações registrados, mas tal fonte nem sempre é suficiente para o cumprimento ideal desse mister. A campanha pelo registro é atividade permanente. Conselheiros são eleitos para mandatos de três anos (são quatorze no caso do CONRERP) e nada recebem a título de remuneração ou “jeton” pela participação nas reuniões, que são duas a cada mês.

E o Conselho Federal? Como definido constitucionalmente, atua em segunda instância, a pedido de um Conselho Regional – e compõe-se de colegas de todo o Brasil que não ficam em Brasília “full time”. Estão em seus estados, trabalhando. Dedicam-se voluntariamente também, organizando e integrando o Sistema CONFERP.


* [Nota postada no website abril.com ("Novela das Oito") em 30/06/2010 às 19: 50 h (e retirada do ar logo em seguida)].

Ainda que tenha sido alvissareiro - e fundamental -, que um concorrente das Organizações Globo (no caso, este Grupo Abril) - houvesse dado publicidade à querela Silvio de Abreu VERSUS Sistema CONFERP neste caso, resta lamentável a censura aplicada à manifestação formal do Conselho neste mesmo espaço, consignada hoje [30/06/2010], e hoje mesmo retirada.

As organizações que postulam liberdade de expressão para si, mas que não a toleram em relação a outrem, prestam outro desserviço à sociedade. Tão ou mais grave que aquele a que deram guarida, fazendo a satisfação momentânea dos errepês.

Manoel Marcondes Neto.

(Reprodução de nota postada no Blog do CONRERP/1a. Região).
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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Papa essa Brasil ! Papa essa Brasil !

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Tive a satisfação de engrossar o coro "cala a boca Tadeu Schmidt" no Twitter. Dias antes já tuitara que o Dunga prestou - pelo menos um - grande serviço dizendo, na mídia (e sobre a mídia - coisa raríssima de "passar"), mais ou menos isto: - se vocês criam uma crise, sobre um jogador machucado, que no dia seguinte já ficou bom - sem ter acontecido nem uma coisa nem outra - e deixam o povo brasileiro em pânico (isto sim é que é triste), eu é que não vou ficar aqui explicando... vocês é que têm que pedir desculpas ao povo brasileiro. Grande Dunga!

Isto me lembra o nome de uma chapa de alunos que concorreu ao Centro Acadêmico da Comunicação na UERJ uns anos atrás: "Adorno não é enfeite".

A Globo e suas "co-irmãs" donas da mídia derrubaram a exigência do diploma para exercício do jornalismo, exigem liderdade de expressão, mas o que fazem, na Copa, na novela, na eleição e fora dela é só entertainment, ou quase só isso. Cobram o cumprimento do Artigo 222 da Constituição Federal quanto à composição acionária dos portais da internet e desrespeitam o mesmo artigo no que tange às finalidades das concessões públicas de TV e ao mandamento da regionalização da produção.

Copa 2010 - um oferecimento...

Vendilhões como J. Hawilla e Ricardo Teixeira entopem as redes de patrocinadores, apoiadores, vips exclusivos, golden, prata, platinum e a gororoba nem está dando mais para engolir em razão do péssimo futebol que se vê e que se ouve (na voz do fabuloso Gavião quase-bueno) nesta Copa.

Com a África do Sul acontece o mesmo que com a China "olímpica" - olímpico desrespeito à realidade, olímpica hipocrisia sobre despoluição e "desapartheid", olímpico deficit público, olímpicos recordes de subemprego, saneamento, segurança, condições de vida, de educação e de trabalho - muito diferentes, abissalmente diferentes do que se vive e confabula à meia-luz nas sedes das UEFAs, FIFAs e COIs da vida, encasteladas em seus paraísos fiscais de cartão postal. Só resta engrossar o (nem tão) novo coro: ACORDA BRASIL!
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sábado, 19 de junho de 2010

Relações Públicas: mais que "passione" - um caso de "amore".

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A
Silvio de Abreu
Autor da telenovela “Passione”

Prezado Sr. Silvio de Abreu,

Sabemos que uma produção do porte da novela que se segue diariamente ao Jornal Nacional é trabalho coletivo que envolve dezenas de profissionais.

A algum deles, porém, faltou alertar-lhe quanto ao desenrolar da trama que levou a personagem Fred, vivido na obra pelo ator Reynaldo Gianecchini, a ser sugerido como relações-públicas da Metalúrgica Gouveia – organização-pivô da novela.

Já havíamos observado que, na mesma trama, as profissões de psicólogo e de advogado foram citadas em diferentes momentos e comentários presentes no próprio texto cuidaram de informar corretamente – o que enriquece o trabalho da ficção em um país que educa-se, há décadas, via TV – o seguinte:

- a profissão de psicólogo é séria, respeitada, precisa de diploma para ser exercida (fala do ator Werner Schünemann, dirigindo-se a sua mãe, Bete Gouveia, vivida por Fernanda Montenegro);

- eu sou somente o procurador do Totó, não sou advogado (fala do ator Reynaldo Gianecchini, dirigindo-se a sua mãe, Maria Candelária, vivida por Vera Holtz).

Igual aos casos acima, e de mais 61 profissões regulamentadas, a atividade de relações-públicas também o é por lei e exige, para o seu exercício, do curso de bacharelado tradicional em Comunicação Social – habilitação Relações Públicas.*

Temos certeza de que sua obra, já vasta e que aponta para muita criação à frente, juntamente com a TV Globo – emissora que orgulha-se, com justiça, de suas ações de merchandising social (pelas quais informa enormemente a sua audiência) –, constituem-se em relevantes instrumentos de, para além do entretenimento, formação cultural de grande parcela da sociedade brasileira; e por isso a nossa manifestação, rogando que a trama seja corrigida no detalhe que desinforma o seu público e melindra a nossa categoria profissional.

Quem sabe um revés – decerto entre os já planejados na trama à personagem de um sem-caráter como Fred – não possa justamente constituir-se no fato de ser ele impedido de assumir a função em virtude de não estar qualificado para tal? O presidente da empresa, Mauro (vivido pelo ator Rodrigo Lombardi), teria sido, por denúncia, notificado pelo Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas sobre a situação e...

Atenciosamente,

Manoel Marcondes Neto,
relações-públicas apaixonado pela profissão e, no momento,
secretário-geral do CONRERP - 1a. Região (estado do Rio de Janeiro)

* Mais: há, no Brasil, 2511 outras ocupações não-regulamentadas por lei.
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sábado, 22 de maio de 2010

1o. Encontro de Relações Públicas coberto de êxito!

O 1o. Encontro de Relações Públicas CONRERP/RJ transcorreu na manhã de hoje, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, com sucesso de público e crítica. O auditório João Saldanha, preparado para receber 60 pessoas, lotou de interessados nas duas mesas-tema propostas para discutir as perspectivas profissionais para relações-públicas no estado do Rio de Janeiro.

Lalá Aranha, sócia da CDN e Ruy Portilho, coordenador do Prêmio ESSO de Jornalismo discutiram o tema "Relações com a Imprensa". Lalá exortou toda a comunidade de Relações Públicas a aproveitar a onda de eventos internacionais que terão lugar no Rio de Janeiro, começando pelos Jogos Mundiais Militares em 2011. Ruy Portilho salientou que o trabalho de relacionamento com a imprensa é muito mais afeito a relações-públicas que a jornalistas, enfatizando que para isto o relações-públicas deve procurar conhecer a mecânica das redações e aperfeiçoar sempre a sua redação - ambas razões que, no passado, sustentavam a presença de jornalistas nessa atividade.

A segunda mesa-tema "Marketing Político-Eleitoral" teve a presença de Luiz Fernando Mello, da Barcas S/A, - que utilizou sua experiência na assessoria de uma candidatura vitoriosa para reeleição na Prefeitura de Rio das Ostras - ressaltou que os jornalistas que conheceu no município e que estavam a cargo do cerimonial e das relações com a mídia, agora estão cursando Relações Públicas no Rio de Janeiro. Nino Carvalho, da In Press PN de São Paulo, apontou as Relações Públicas como o centro do trabalho de construção de candidaturas; e Marcelo Serpa, professor da ECO/UFRJ, focou a importância da pesquisa - elemento com forte presença na formação de relações-públicas - para o trabalho de marketing em geral e político em particular.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Paulo Caringi se foi. E com ele uma parte da história das RRPP brasileiras. Saudades!


O 12 de maio há de ficar na memória das Relações Públicas do Brasil.

Quantas vezes
Verificava as minhas mensagens de voz
E lá ouvia o sempre vibrante recado:
- aqui é o Paulo Caringi!... (esticando a 2a. sílaba e pontuando a 3a. do sobrenome).

E dizendo sempre, comprido:
- meu nobre amigo Manoel Marcondes Machado Neto!... (um privilégio ouvir isto!)
Foi ideia dele eu estar hoje no CONRERP/RJ
Foi também ideia dele - embora não soubesse - que eu tenha seguido as Relações Públicas.

Essa atividade que é essência em alguns homens especiais
Como Paulo Caringi
Que de um jeito ou de outro fariam relações públicas
Independente do país, do momento, da história, das leis, das autarquias e das associações.

Manteve o brilho e a firmeza no olhar até o fim
Firmeza que vinha do caráter
Brilho que vinha direto da alma
Entusiasmado - cheio -, pleno de Deus!

Assistiu a muitos
Inspirou a tantos outros, como a mim
Serviu - no melhor sentido que possa haver para a palavra servir
Ao próximo, ao não tão próximo, ao distante, ao desconhecido.

Havia um problema, lá ia o Paulo atrás da solução
Solução sempre negociada, nunca extraída
Sempre conquistada, doada, doída às vezes (nele)
Com um sorriso, porém, lá vinha ele, empertigado: - meu filho... resolvido!

Difícil esquecer, impossível repor o espaço-ser que o Caringi ocupou
Deixou em livro, "Advertências"(*) a quem interessar possa
Que alguns de nós, ao menos, sintam-se devidamente advertidos:
Nunca desistir de sonhar e acreditar, de conceber e de fazer.

(*) "O que 'estava em todas' - Advertências".
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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Relações Públicas estão na pauta como nunca, antes, neste país

João Alberto Ianhez vocaliza com precisão, neste texto e em sua entrevista a Carolina Pedace, no Rede Nacional RP/MEGABRASIL, a paixão que move os genuínos relações-públicas e o momento rico que vivem agora – tempo em que o mercado, mesmo que tardiamente – vem reconhecendo e adotando a visão de relações públicas. Nunca, antes, neste país, tantos jornalistas e publicitários atuantes na comunicação empresarial fizeram - e com propriedade - a observação “estou realizando um trabalho de relações públicas”. No meu entender, essa é a chave para trazer os colegas, definitivamente, para perto de nós.

Tarefas

As tarefas de relações públicas sempre existiram e sempre existirão, nas mãos de tantos quantos tiverem a clareza quanto a sua utilidade e eficácia para tratar dos problemas comunicacionais das organizações - pugnar contra isto, brandindo uma reserva de mercado legal mostrou-se, ao longo do tempo - antipático e inútil, neste Brasil de leis que "não pegam". Nosso segmento profissional encolheu também por causa disso. Com mais pressão mais provável fica, sim, a desregulamentação (cuja sanha já atingiu a exigência do diploma para o exercício do jornalismo).

Planejamento

O pensamento e a concepção de relações públicas é que não são delegáveis. Só quem conhece a amplitude da formação deste bacharel compreende a diferença que há entre o seu perfil e o dos demais que as IES (instituições de ensino superior) colocam no mercado.

Os tempos atuais são tempos de governança corporativa – um conjunto de mandamentos organizacionais que fundamentam-se num principal valor: a transparência.

Relações Públicas sempre ocuparam-se desse valor, do ponto-de-vista dos públicos; sempre ocuparam-se do atendimento ao cliente e à comunidade; sempre ocuparam-se da relação com a mídia – tanto a paga quanto a espontânea; e, para resumir, defendem, desde Bertrand Canfield, nos anos 1950, a chamada “cidadania empresarial” – algo que ainda tem cheiro de “novidade” no Brasil.

A única habilitação reconhecida e regulamentada no campo da Comunicação Social, infelizmente uma área onde campeiam curiosos, oportunistas e falsos cientistas, não pode abrir mão de um edifício tão longamente erigido, agora devidamente prestigiado (relações públicas requerem uma sofisticação organizacional antes inexistente no país) e do qual o Sistema CONFERP é o mais credenciado defensor.

sábado, 20 de março de 2010

Sobre a - nova - tentativa de descaracterizar RRPP. E pelo exame de Ordem na nossa área.

Comento a recente querela entre o CONFERP, em sua gestão anterior - que muito bem conduziu a questão - e aqueles que querem criar uma nova habilitação literalmente "em cima" das Relações Públicas, área que lhes foi pródiga e que agora querem exterminar.

Apóiam-se em ONGs e eventos que, embora com pompa, cada vez menos influenciam os rumos da Comunicação Social no Brasil.

Quem frequenta esses convescotes acadêmicos sabe que muitas de suas atividades anunciadas simplesmente não acontecem por absoluta falta de quorum.

Mas...

Seus proponentes e "condutores" lançam-nas em relatórios de "produção acadêmica" como tidos e havidos. E dão trela a suas próprias ideias.

Mesmo sem saber quem e quantos formaram uma dita "comunidade representativa de professores, profissionais e estudantes", se muitos ou se poucos, se doutos ou turistas acidentais, não se pode atribuir a esta instância poderes de vocalizar o pensamento do conjunto de pensadores, professores e profissionais das Relações Públicas e da Educação Superior interessados na discussão sobre sua própria existência, suas trajetórias e, até, suas perspectivas de futuro.

O Sistema CONFERP renovado, em janeiro último, em seus mandatos federal e regionais, cumprirá sua missão institucional de zelar pela área de Relações Públicas, tanto como profissão quanto, principalmente, como formação - escolha de milhares de jovens (já ultrapassei a marca de 3 mil alunos de RRPP) que querem atuar nas atividades que recebem os mais diferentes rótulos, mas que beneficiam-se - e muito - dos bacharéis de Relações Públicas.

Bacharel em Direito não é advogado. Isto só depois do exame de Ordem, pelo qual passam menos de 10% dos inscritos.


A exemplo da OAB, que também é Sistema de Conselho Federal e Regionais, é preciso influir, sim, no ensino, mas, principalmente, aferir a qualidade do bacharel formado pelos cursos de Comunicação Social que ainda, infelizmente, improvisam na hora de oferecer disciplinas de Relações Públicas. E, acredito, não basta exigir apenas - como prescreve a lei - que o professor seja um relações-públicas registrado em seu Conselho Profissional. É preciso mais: que este professor seja um entusiasta da área - um motivador permanente junto a seus alunos, sob pena de se estabelecer aquele slogan maldoso porém com alguma dose de verdade: "quem sabe faz, quem não sabe ensina".

O ordenamento da profissão exige isto mesmo - um exame de Ordem - e esse deve, em minha opinião pessoal, ser um dos instrumentos de fortalecimento da área de Relações Públicas na sua função de proteger a cidadania contra os abusos que, diariamente, a comunicação das organizações perpetra nos mais diversos media, tanto massivos quanto dirigidos. E isso, mesmo que se venha, no futuro, a permitir-se o registro profissional a bacharéis de outras áreas desde que pós-graduados em Relações Públicas - como concluiu um grande parlamento de professores e profissionais conduzido em gestão anterior pelo próprio Sistema CONFERP.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O que caracteriza o mau exercício profissional nas relações públicas?

Na "infância" das organizações, propaganda; na "adolescência", assessoria de imprensa; na "maturidade", cidadania empresarial – objeto direto das relações públicas.

A Comunicação Social no Brasil precisa ser discutida, ter conhecidas suas regras pela cidadania, assumir responsabilidades pelo baixo nível cultural que, como mídia, repercute (sendo meio preponderante de formação no Brasil é, portanto, mensagem que deve ser cuidada, como o fazem os países desenvolvidos).

Nossos colegas jornalistas pugnam por uma regulamentação profissional – agora mais – pois após o fim da exigência do diploma para o exercício profissional, campeiam absurdos.

Os publicitários têm sobre si dois mantos de proteção – o CONAR e o CENP, mas isto não tem evitado que aventureiros de toda sorte coloquem-nos diuturnamente diante de mensagens grosseiras, ofensivas e pouco inteligentes.

O que caracteriza o mau exercício profissional nas relações públicas?

Os conselhos de medicina, de engenharia e de advocacia protegem a cidadania de maus médicos, maus engenheiros e maus advogados.

Quem protege o cidadão de um resultado de pesquisa de opinião divulgado parcialmente? E de uma concessionária de serviços públicos que desdiz os fatos? O que dizer de uma empresa que engabela o seu acionista com relatórios que desviam de uma redação substantiva? E de uma ONG que sequer publica os seus estatutos e põe-se a levantar fundos?

Finalmente; o que dizer de tantos comunicados que nos chegam e a que nós, profissionais da comunicação institucional, atribuímos credibilidade zero, mas contra os quais o cidadão desavisado não tem defesa?

Roberto Porto Simões apresenta um caminho já no título de seu último livro: "Informação, inteligência e utopia: contribuições à teoria de relações públicas". Buscar uma comunicação que seja mais serviço à cidadania e menos desserviço à cultura é um objetivo que se pode realizar.

Um conselho profissional que ampare e promova as boas práticas de comunicação institucional e denuncie e reprima as más é um dos caminhos para essa realidade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Lattes que eu tô passando...

Entendo que um país com 200 anos de civilização (ocidental) e 100 (acidentais) anos de universidade tenha que "aprender com os mais velhos", sobretudo nas engenharias de ponta (filhas do casamento da Física com a Biologia, por exemplo) - e nos saberes que demandam muito e intensivo investimento (nosso Estado é pobre disso, apesar de reservas internacionais invejáveis; e nosso empresariado é tosco), como na indústria farmacêutica (para a qual trabalhei e vi ao vivo) e de nano-automação.

Mas nas áreas em que dominamos o fazer, tais como indústrias petrolífera, aeronáutica e naval, informática bancária, contabilidade, correção monetária, arquitetura, cirurgia (todas as especialidades), drogas fitoterápicas, TV, propaganda, música, gravura e artes gráficas, estamos mais na posição de ensinar. No entanto, ficamos, também nessas áreas, colonizados por quantis publix ditas qualis estrangeiras, muitas de constituição duvidosa (diversos casos de auto-referenciação e fraudes foram objeto de matérias recentes na Folha de S. Paulo) e reles nível. Para a maioria dos brasileiros, parece mais elevado escrever "the book is on the table", falar de endomarketing (sic) ou ler um artigo de Donald Richards, PhD (... este deve ser um "crânio"!). Escrever sobre mídia no Brasil e assinar Joaquim Palhares? Ah! Deve ser mais um zé ruela incomodado com sua falta de ibope...

Mês passado, na UFRJ, constatei esta catástrofe de perto, participando da assistência numa defesa de tese de doutorado da área biológica. A tese só pôde ser defendida DEPOIS que o artigo sobre a mesma foi aceito em uma publicação (QUALQUER publicação) entre as "doctors and internals & nuclear phisicians association sdruws review".

Isto quer dizer, então, que, depois de terceirizar para a Estácio as nossas graduações (grande parte dos professores substitutos nas universidades públicas são Estácio "de carreira"), agora terceirizamos os nossos títulos de doutoramento para a muito qualis "indústria" editorial (editorial nada, porque ninguém nessas revistas sabe sequer o que é um fotolito - só entende de PDFs e de um tal de reprint muito bem pago) norte-hemisférica. Tristes trópicos!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Discurso de Marcondes Neto na posse da nova gestão (2010-2012) no CONRERP/RJ


"Profissionais apaixonados pelo que fazem" - nosso slogan de campanha.

Vejo muitos profissionais apaixonados aqui, hoje. De nossa área e de outras.

Em primeiro lugar
Um agradecimento a Deus é devido
Pela vida - de todos nós
Pela saúde - de todos também
E pela presença hoje, aqui, no CONRERP/RJ
Neste belo Dia de Reis, nesta bela cidade de São Sebastião.

Escreveu John Lennon: 'a vida é aquilo que te acontece quando você está ocupado fazendo outros planos' - por isso é tão importante celebrar o presente
E, no presente, não esquecer o passado -
Saudar os pioneiros no caminho da nossa profissão de Relações Públicas: Paulo Caringi e Edson Schettine de Aguiar, aqui presentes - são inspiradores da classe.
Saudar o primeiro jornalista e o primeiro administrador que foram, também, meus professores: João Pedro Dias Vieira e Luiz Estevam Lopes Gonçalves - representantes de duas categorias profissionais cruciais para o entendimento e para a implementação de relações públicas nas organizações.

Queremos construir pontes também com publicitários, economistas, advogados - estes aqui também representados por Lemuel Santana, que ora nos passa o bastão do CONRERP/RJ.
Devem inspirar-nos as personalidades de Ivy Lee, Pinheiro Lobo, Vera Giangrande e Manoel Maria de Vasconcellos - que já se foram; e as de Roberto Porto Simões, este vivo e produtivo na PUC do Rio Grande do Sul e que escreveu em livro a síntese da nossa atividade: 'informação, inteligência e utopia'.
Sim, somos cruzados da harmonia, do entendimento, do diálogo, da parceria - por mais que o mundo insista no contrário.

Finalmente - saudar o futuro, na presença de meus colegas de Conselho que aceitaram este desafio mais jovens do que eu.
Que juntos possamos colaborar e contribuir, com entusiasmo, sabedoria, discernimento, brandura e firmeza para a profissão que escolhemos e amamos, as Relações Públicas.

Grato a todos.