sexta-feira, 18 de março de 2011

"As revoluções não serão televisionadas".

Complexidade.
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Vivemos uma sociedade complexa. E isso não é de hoje. Desde Babel há registros. As chamadas tecnologias da informação e comunicação (TIC) só tiveram o efeito demonstração de colocar todo mundo ao vivo ao mesmo tempo agora. É como se fosse uma dessas "salas de controle", como a usada pela a Prefeitura do Rio na pirotécnica visita de Obama, na qual assistimos a cidade inteira, o que é, aliás, extremamente angustiante - porque a Polícia não consegue agir em todas as frentes necessárias num dado momento de incidentes coincidentes. Fica-se "testemunhando" uma trombada na Ponte, um arrastão em Madureira e um homicídio na Av. das Américas. Melhoram as estatísticas, mas...
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Você tem medo de quê?
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Faz-me lembrar uma polêmica em sala de aula, quando disse que a meta em Londres é ter-se uma câmera de segurança para cada 14 habitantes. Um estudante sacou, rápido: - deve ser terrível viver em uma cidade assim, sem privacidade; disse o rapaz, provavelmente um telespectador do Big Brother, como a maioria dos meus alunos, infelizmente, é.

Indaguei, então, a uma sala que permaneceu silente: - privacidade? Na rua? É isso, meus caros - o brasileiro médio (de todas as classes; A, B, C, D, E, F, G, H) quer privacidade na rua. Para urinar em paz, para matar no caixa eletrônico, fazer arrastão no posto de gasolina, furar a fila, andar de skate no túnel interditado, fazer "pega", amaciar os policiais que viram o atropelamento, tirar os tênis da vítima e colocar dentro da viatura, pegar o pacote de dinheiro, jogar a guimba de cigarro no canteiro, o sofá no córrego etc. etc. etc.
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No Vietnã, 50 mil soldados americanos morreram para matar 1 milhão de vietnamitas. No Iraque, 5 mil soldados morreram para matar 100.000. Façam suas apostas, senhores, para a Líbia.
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Retornando ao tema que me fez escrever essas linhas: esta semana assisti - atrasado - ao ótimo Zona Verde. Na cena final, o cidadão iraquiano acaba com as boas intenções do american hero Matt Damon e dispara: - vocês não têm o direito de querer resolver os nossos problemas.

A invasão do Iraque - primor da ilegitimidade e do descumprimento das decisões da ONU (agora a Líbia será invadida com ONU, OTAN e tudo o mais) é uma prova recente do vaticínio de Goebbels, de que "uma mentira dita mil vezes...".
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75 jornalistas fazem parte da comitiva de Obama.
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No discurso público de Michael Moore em Wisconsin, ele lista as duas maiores mentiras que os governantes (republicanos e democratas) disseram ao povo americano na última década: "America is broke", e "There are weapons of mass destruction in Iraque".

O tio Sam faz guerra para tocar a sua política interna. Obama vem ao Brasil para ser filmado, fotografado e veiculado à exaustão nos EUA - inclusive na internet (as nossas TVs abertas e por assinatura estão adorando). Mas manteve Guantánamo e os julgamentos militares para civis "suspeitos".

E, depois daqui, se vai para confraternizar com os "mineiros do Chile", país no qual os EUA realizaram, em 1973, o mais bem sucedido golpe do Big Stick ao sul do Equador.
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Brain washing.
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Quando interessava, Sarkozy, Lula e Berlusconi posaram para fotos com Kadhafi - afinal, são petróleo e automóveis em jogo. Agora a própria mídia (que ontem teve que engolir - e "sem comentários" - um relatório da UNESCO tratando das necessárias e sempre adiadas reformas na política de concessões na área da comunicação de massa brasileira (alô Dilma! alô Paulo Bernardo!) - uma das causas do nosso desastre educacional, cultural, comportamental e moral, mas isto é outra discussão), chama o que antes era "presidente" de "ditador" e quer legitimar junto à opinião pública mais uma invasão para levar freedom aos povos (realizando eleições "ocidentais" em países tribais, com cultura islâmica, completamente diversa - mas isso é só um detalhe).

Remember
"Back to the future 1", de 1985, quando nós - ainda "quase crianças" - víamos Doc Brown ser metralhado por terroristas líbios no estacionamento do shopping center.
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Complexo. Escolher entre os Boeing e os Rafalle. Ambos matam bem.
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Marcondes Neto completa 25 anos de UERJ.

Na cerimônia de homenagem aos servidores que completaram 25 anos de serviços prestados à UERJ no ano de 2010, Manoel Marcondes Neto entre os professores Domenico Mandarino, diretor do Centro de Ciências Sociais, e Glauber Almeida de Lemos, diretor do Centro de Educação e Humanidades. Teatro Odylo Costa, filho - 30/11/2010.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A cartilha do titio Sam.

No, we can not.

Obama, como seus antecessores, faz política interna com discursos "no mundo". E guerra (bem longe, de preferência). O Departamento de Estado adverte: aqui, o discurso "social". No Chile, o político. Em casa o sonho está acabado. Urge produzir imagens de cartão postal, com horas e horas da plástica paradisíaca do Rio de Janeiro. Quer-se reduzir o fiasco. Para isso, galões e mais galões de tinta chegam à Cidade de Deus.

Difícil.

Depois de emprestar dinheiro aos banqueiros e às montadoras sacando na conta de quem trabalha, Obama se rende à velha cartilha, mantendo o ideário do Big Stick. Em Guantánamo, no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, em Honduras, com Cuba. Próxima parada, com ternura: Cidade de Deus.

Minha lista de - ótimos - filmes para a semana Santa:

Síndrome da China e Silkwood - desastres em usinas atômicas;
Wall Street 1 e 2 - sobre a rua em que nada muda;
The Pentagon Papers e Zona Verde - a distância abissal entre o que recomendam as agências de inteligência e o que os governos fazem, na prática;
Network (1976), O discurso do Rei e Frost X Nixon: comunicação a serviço da política.

Para quem prefere documentários:

China Blue - a "economia de mercado" que mais cresce no mundo a partir do case da indústria de jeans;
Fahrenheit 9/11, Sicko, Capitalism: a love story - o melhor de Michael Moore.

Para mudar de assunto:

Être e avoir (2002).
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quinta-feira, 10 de março de 2011

TV O Globo - Olha a propriedade cruzada aí gente!

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Infalível!

Cirúrgico!

Cortante como um bisturi, O Globo disseca, em editorial, logo após o Carnaval - talvez as pessoas ainda estejam meio anestesiadas com a premiação do seu "enredo" global - sua visão de liberdade de expressão. Não a de imprensa, que lhe é de direito. Mas a de entretenimento sem regulação, descumprindo a Constituição Federal. E a de caixa-registradora - muitas vezes incentivada - a praticar a veiculação mais cara do mundo, em dólar.

Só no Brasil incentivos fiscais desaguam em emissoras comerciais. De filmes e festivais de rock. De patrocinadores de novela a pseudo-ONGs. Do merchandising ao futebol.

A cara-de-pau global chega a tal ponto que o texto defende direitos autorais para matérias jornalísticas! Claro... o copyright é da Infoglobo e não dos jornalistas cada vez mais cartelizados (produzindo matérias para "n" veículos ao mesmo tempo). Ou dos estagiários aos montes que - como está no editorial - escrevem (sic) Criative Commons.

Plim Plim

O jornal apoia a ministra da Cultura - algo que anda escasso - quando esta extirpa a visão da gestão anterior (de que o governo Dilma deveria ser continuação) quanto à possibilidade de flexibilização dos direitos autorais. E faz isso dizendo que apoia o direito do autor decidir, "sem amarras" legais, "o que fazer com a sua produção". Na página 6 diz "não confundir a defesa do autor com o descabido monopólio... sobre a biografia, a ponto de contrariar o direito constitucional à liberdade de expressão" e nas páginas (inteiras) 10, 11 e 22 exalta um "rei" que censurou e tirou de circulação uma biografia jornalística. E com direito a meia-página (mais um sambódromo inteiro) de patrocínio. Non sense. (Ou, como diria um aluno meu, "muita falta de sem noção").

É isto o que as Organizações querem. Atuar sem regulação, sem limites. Já terceirizaram até o departamento de recursos humanos. Direitos trabalhistas? Isto é coisa do Brizola. Querem mesmo é o jornaleiro Lupi.

Ancinav

O editorial retoma, também, a natimorta agência que Lula e Gil quiseram estender do cinema (Ancine, já existente) ao audiovisual, abarcando a televisão - como acontece em todos os países civilizados do mundo. Um escárnio. Chutar cachorro morto.

Conselho para os jornalistas

Estranhei a não menção a outro "cão danado" do governo anterior. A tentativa - legitimíssima - da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) de criação de um sistema de conselhos federal e estaduais de regulamentação e fiscalização profissional, à exemplo do Sistema CONFERP/CONRERP, dos relações-públicas - (do qual faço parte), do CREA, do CRM e da OAB.

Um sistema como esse realizaria o sonho - digo eu - de Mino Carta, quando os jornalistas do Brasil deixariam de chamar os seus patrões de "coleguinhas".

Resta a esperança em Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, de fazer migrar aquela estrutura bilionária que dirige dos temas ligados a satélites, antenas, cabos e tomadas para cuidar, como fazem seus congêneres, mundo afora, do conteúdo que as concessões públicas de rádio e TV fazem chegar aos quase 99% dos lares brasileiros. Comunicação é cultura - coisa que, aliás, o MinC hoje, diferentemente do que ocorria na gestão Gil-Juca, desconhece.

Lei Rouanet é do governo Collor. Revogação... nunca!

Fora com essas discussões intermináveis do PT! - vitupera o editorial (textual: "Não importa que o projeto tenha sido apresentado à audiência pública...").

São muitas emoções. Está indigesto? Não dá para entender, afinal temos o patrocínio da vovó Nestlé.

E.T. 1: A autodenominada TV O Globo do título deste post está na seção "Por dentro do Globo" na página 2 da edição de hoje do jornal.

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Hoje Marcelo Zikán se foi. Muito cedo para nós, que ficamos por aqui sem a sua vibração insubstituível.

Nunca estamos preparados o bastante, por mais que reflitamos sobre a hora da passagem ao andar de cima. As coisas mais singelas - como o jeito do Zikán sorrir - ganham importância enorme, enquanto aquelas coisas (que julgamos) grandiosas se dissolvem. Simplesmente não há nada, grandioso ou não, sem a nossa presença.

Essa falta fará o nosso Zikán, agora eterno agente fiscal 001 do CONRERP/RJ. A ordem natural das coisas é que percamos professores. Descubro que não sei lidar com a perda de um ex-aluno querido. O céu fica mais animado e o nosso planetinha mais pálido.

Viva Zikán!
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