quarta-feira, 5 de junho de 2013

I Encontro do Clube de Comunicação - minha fala (aqui, o texto integral) em 04/06/2013.

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Ontem, iniciei as falas do I Encontro do Clube de Comunicação. Fiquei muito honrado com isto. E senti-me em um típico Grupo de Estudos - algo que muito pode fazer pela reflexão sobre os rumos da Comunicação no Brasil. Vida longa a esta iniciativa! Participarei com gosto. A seguir, a íntegra do texto que preparei para o Encontro:

Sou Manoel Marcondes Neto, errepê, professor das cadeiras “Comunicação Organizacional” e “Fundamentos de Marketing”, na Faculdade de Administração e Finanças da UERJ, e docente convidado na pós-graduação em Comunicação Empresarial, sob a coordenação do jornalista e professor Boanerges Lopes, na UFJF.

Antes de mais nada, alguns pontos “cardeais”:

1. Apoio integralmente a luta pela exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista – direito usurpado pelos patrões;

2. Apoio integralmente a demanda dos jornalistas no sentido de terem seu próprio Sistema de Conselhos Profissionais, demanda abortada pelo "lobby" de patrões;

3. Apoio integralmente o movimento pela revisão do marco regulatório das Comunicações no Brasil – podre de velho, de 1962;

4. Apoio integralmente as minhas amigas Terezinha Santos, Bette Romero e Ilza Araújo, e seus colegas da chapa 1 - Linha Direta com Jornalistas, na atual campanha eleitoral ao Sindicato;

5. Apoio integralmente a luta pelo resgate da ABI, colocada pela chapa Vladimir Herzog.

Por que tudo isso? Para situar as minhas posições políticas na nossa área. Um pouco de história:

Desde que entrei para a ECO, em 1977 – e depois para a UERJ, em 1978 – ouço que Relações Públicas, minha área, é sinônimo de “Comunicação Institucional”. Bem, eu precisei de 35 anos de trabalho para entender bem o que é isso. E agora estou empreendendo, junto a amigos e ex-companheiros de Conrerp/Rio, uma sociedade educativa: o Observatório da Comunicação Institucional – um portal na internet com conteúdo específico e análise crítica sobre este assunto.

Estudando incessantemente o tema “instituições”, deparei-me, em 2010, com o pensamento de Douglass North. Este americano, ainda vivo, tinha uma tese na completa “contracorrente” da fé econômica atual; ele defendia que as decisões são baseadas “antes” na cultura dos próprios decisores que na econometria. Vejam só! E, para ele, esta “cultura” é o conjunto de “instituições” que as nações conseguem construir ao longo do tempo, formais e informais –, as quais moldam, “culturalmente”, as pessoas, e os tais tomadores de decisões. Que acham disso? Pergunto: o “jeitinho brasileiro” é uma instituição? Urinar na rua é algo “cultural”? A “nossa” capacidade – bem brasileira – de improvisar é “natural”? Ou cultural? Pois não é que North – com sua tese, o “institucionalismo econômico” – o prêmio Nobel de Economia de 1993? Há 20 anos, portanto. E seu trabalho, sintomaticamente, nunca foi publicado no Brasil...

Assim, hoje, estou completamente envolvido no tema sobre o qual North escreveu. Na questão do fortalecimento do “pensamento institucional” e nos processos que envolvem as combalidas instituições brasileiras. Por que acontece o que acontece numa ABI, por exemplo? Ou com a ABRP?

Minha última pesquisa, por exemplo, perscrutou 90 anos de organizações culturais no Brasil, de 1920 a 2010. Um sobe-e-desce permanente, uma inconstância assustadoramente constante...

Amigos, tenho segurança em afirmar, hoje, que “não ter instituições sólidas é o único obstáculo que nos separa do chamado primeiro mundo”, ao lado, é claro, da base em educação, saúde e saneamento básico – sem o quê, mantemo-nos absolutamente subdesenvolvidos em pleno século XXI. BRICS? Péssima companhia!

Por isso o meu apego atual e meu discurso, sempre fervoroso e favorável, às instituições, e, entre elas, a de que faço parte, desde 1981, quando formado, o Sistema Conferp-Conrerp, além daquelas de que nem participo, tais como a ABI, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a FENAJ, entidades dos colegas jornalistas.

Mas esses entes são falíveis organizações – também – como falíveis são homens e mulheres que as constituem. Quais, então, são as verdadeiras “instituições”? As platônicas, representadas pela República, o Direito, a Justiça? Ou as seculares? Pobres de nós: com o nosso Judiciário, o nosso Legislativo, o nosso Executivo e... a nossa Imprensa. Sim, a imprensa, com “i” maiúsculo, porta-se como um quarto poder – e exerce-o. A imprensa porta-se, enfim, como instituição, e interessa-nos a todos, como tal.

Mas imprensa se faz com jornalistas. Não existe imprensa sem jornalistas. E muito menos imprensa forte, sem jornalistas. Muito menos, ainda, sem um mercado diverso, rico em termos de opções – ambiente também propício para a propaganda que banca a imprensa e seus veículos.

Imprensa frágil torna o jornalismo refém das grandes empresas de assessoria de imprensa – a “invenção brasileira” que mais corrobora, depois do patronato tacanho, para o enfraquecimento do jornalismo e do papel do jornalista profissional, em minha opinião.

“Jornalismo só com jornalista”. Esta é a minha campanha. Entretenimento? Estou fora. Os conglomerados de comunicação fazem 90% de entretenimento – de baixa qualidade e ofensivo ao que prescreve a Constituição Federal para a Comunicação e a Cultura, advogando para si a liberdade de expressão que se escuda em só 10% de jornalismo. O Jornal Nacional, por exemplo, é, para a população, o próprio “quarteirão-com-queijo” do entretenimento de horário “nobre”. Mais pobre impossível...

A questão que trago aqui, hoje, para reflexão, é “nossa”. Se amanhã, as 25 maiores empresas de assessoria de imprensa resolverem fazer um “lock out”, uma greve de patrões, simplesmente, não teremos jornal para ler depois de amanhã. Nem telejornais da noite. A única mídia que vai funcionar é a mídia “rádio” e, talvez, uma parte da mídia digital...

A história dessa minha fala a vocês, hoje, começou há uns dez anos atrás. Na Gama Filho.

Numa atividade curricular, Terezinha Santos levava profissionais do mercado às salas de aula do Departamento de Comunicação.

Numa dessas palestras, que presenciei, Carina Almeida, falou algo aparentemente banal aos alunos ouvintes, talvez despercebido, mas que “soou como música” para meus ouvidos.

Jornalista, mas trabalhando institucionalmente para o Comitê Olímpico Brasileiro, Carina disse: - sou jornalista, mas o trabalho que estou fazendo no COB é de relações públicas.

Hoje, 10 anos depois, e já concluída a minha passagem pelo órgão de classe, posso dizer a vocês coisas que como conselheiro do Conrerp/Rio eu não podia. Por isso agradeço ao Clube de Comunicação, às minhas amigas de longa data, Terezinha Santos e Bette Romero, por essa oportunidade.

No mundo todo, o que os brasileiros inventaram chamar de “assessoria de imprensa” tem o nome de relações públicas; isso desde que o jornalista Ivy Lee – nos EUA – criou a nova profissão. Detalhe importante: antes, Ivy Lee deixou a imprensa. Por que?

Por causa de um típico “conflito de interesses” que há, e tem que existir, entre o que uma organização quer divulgar e o que o público quer saber (ler, ouvir, assistir, “navegar, digitalmente”). Há até um ditado que diz “notícia é o que o público quer ou precisa saber – o resto é relações públicas”. Pois é. Desde que entramos no atual modelo brasileiro, que chamo de “jornalismo de assessoria”, nossa imprensa avassalou-se e a cidadania perdeu perspectiva crítica. Em diversidade, em qualidade de cobertura, de apuração. Por que? Porque o interesse econômico se sobrepôs e os jornalistas, enfraquecidos (por que “fortalecida” a assessoria de imprensa traficante de influência), perderam lugar. E o Rio de Janeiro é o exemplo acachapante do “imaginário único” que precede o pensamento único. Vá se tentar fazer uma “ley de medios” aqui. As comunidades todas descem! E cheias de razão, e emoção.

Outra coisa. Os cursos de jornalismo não forjam empreendedores, como fazem os de propaganda, ali, na sala de aula ao lado. E não forjam nem o profissional liberal, autônomo (característica fundamental do relações-públicas, ali na sala ao lado, idem). Isto não dá “caldo cultural empresarial” e oportunidade de surgimento de empreendimentos jornalísticos: agências noticiosas viáveis, rádios comunitárias viáveis, TVs corporativas internas, jornais de bairro e websites viáveis. O que mais temos são jornalistas trabalhando em portais de cunho comercial, para os outros, fazendo o que não gostam e, às vezes, até detestam. Só "pena de aluguel". E há, também, as campanhas políticas! Nessa hora os jornalistas ganham – e não reclamam, por imperativo – do apelido, jocoso, de “marqueteiros”. Mas isso é outra história.

A briga sindical pela jornada de trabalho também é outra frente inglória. Se o jornalista está trabalhando fora de veículo de Comunicação, não há a menor condição de defesa legal para reivindicação das condições especiais a que os jornalistas de redação têm direito. Já presenciei, do lado “de dentro” essas situações.

Se o jornalista que atua em assessoria se abre para o fato de que está, de fato, exercendo outra profissão – a de relações-públicas – muitas questões, hoje polêmicas, se resolvem. A começar por esta, da jornada.

Assim, a exemplo do que lhes contei sobre a colega assessora do COB, minha tese é de que a prometida “flexibilização” do registro profissional de relações-públicas já está em vigor, mas por uma questão de coerência intrínseca, histórica e apegada a uma visão separatista, exclusivista, não é amplamente divulgada entre os demais profissionais da Comunicação: qualquer PJ, sob qualquer titular, pode prestar serviços de relações-públicas, todos aqueles elencados na Resolução Normativa Conferp número 43/2002. Basta, para isso, apresentar um colega seu, errepê, como Responsável Técnico. Ou seja: o registro no Conrerp torna-se mais uma credencial profissional para o jornalista de formação, o publicitário, ou o radialista... E habilita-o para participação em licitações públicas de assessoria que, desde 2010, ainda no Governo Lula, estão legalmente separadas das de propaganda.

O procedimento é legal e corriqueiro. Passei por este mesmo processo quando resolvi empreender na área de “consultoria”. Quando fui registrar minha PJ, recebi, do meu Contador, a informação de que deveria, para exercer tal atividade, apresentar um administrador registrado no C. R. A. como Responsável Técnico. E assim o fiz, trazendo um colega da PUC-Rio para perto de mim, como Responsável Técnico; sem precisar contratá-lo, adotá-lo como sócio, ou mesmo remunerá-lo fora dos “jobs”. Apenas uma parceria baseada em confiança mútua e cooperação técnica caso-a-caso. Foi muito útil. Emplaquei todas as propostas que fiz. E não tive qualquer problema de fiscalização profissional, nem quanto a mim, como “patrão”, nem quanto a colaboradores.

Mais sobre “flexibilização”: minha proposta de flexibilização é a proposta original do colega Marcelo Ficher, ex-presidente da Comissão de Fiscalização do Conrerp/Rio: o Sistema Conferp-Conrerp –, com sua estrutura montada em todo o país, deveria transformar-se em Conselho da Comunicação Profissional, e registrar todos os perfis – errepês, jornalistas, publicitários, radialistas, e regular esses mercados em defesa da sociedade e da cidadania – que é a missão de todo Conselho Profissional. Mas isto requer uma PEC referendada por todas as categorias interessadas, algo operacionalmente difícil (não impossível) de se obter. E, infelizmente, em minha opinião, o MEC anda na direção oposta à integração, separando as antigas habilitações e tornando-as cursos independentes. O mercado (de trabalho, para o jornalista fora das Redações, bem entendido) quer generalistas da Comunicação. E o MEC "entrega" mais especialistas. O que acontece com os bacharéis? Ficam desempregados. Afinal, as Redações encolhem e as empresas se fundem, reduzindo o tamanho do mercado de trabalho tradicional do jornalista.

Quando os jornalistas que atuam como assessores de comunicação em organizações não-jornalísticas "deixaram de se deixar" ser usados por quem só quer “um jornalista para chamar de seu”, e se colocarem sob outra denominação profissional, de relações-públicas, globalmente reconhecida, com “approach” diferente, responsabilidades diferentes, “modus operandi” diferente, remuneração diferente, regime horário diferente, as coisas irão melhorar no mercado da Comunicação Profissional. É minha convicção. É minha “causa”, aqui.

Fico, após esta pré-preparada fala, à disposição do Clube para discussão e eventual apoio futuro do mesmo à “causa”. Quis fazê-lo ainda quando no Conselho. Não deu tempo. Estávamos “arrumando a casa”. Queria muito falar aos colegas jornalistas. Estive com a Direção do Sindicato pleiteando isto. Hoje foi possível. Agradeço a todos a atenção – e principalmente a minha colega Lala Aranha – pela paciência e compreensão, ouvindo-me falar da Instituição que agora preside. Meu abraço a todos.
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